Os países africanos são geralmente conhecidos globalmente pelo seu tipo peculiar de turismo na natureza e vida selvagem, por providenciarem experiências únicas aos turistas, dando-lhes a oportunidade de ver, sentir e experienciar diferentes percepções da diversidade de África. Por esta razão, o turismo em África geralmente baseia-se em atrair indivíduos de outros continentes para participar em excursões de safari, visitar áreas naturais pitorescas e reservas protegidas, interagirem com espécies icónicas – que geralmente não são comuns nos seus países de origem – e explorar a diversidade de África, desde os ecossistemas tropicais às paisagens secas africanas.
Tem havido uma onda crescente na indústria do turismo de vida selvagem, trazendo inúmeras vantagens económicas para os países hospedeiros e para a conservação da sua biodiversidade, especialmente nos países em desenvolvimento. Desta forma, o turismo é visto como fonte de crescimento e diversificação da economia pois consegue criar empregos de baixa renda e contribuir para o aumento do Produto Interno Bruto (PIB) – o que explica o crescente interesse de muitos países em investir e desenvolver este sector.
Globalmente o turismo tem crescido significativamente ano após ano. Em África, só em 2018, as visitas para turismo atingiram 67 milhões, com um total de receitas de $38 mil milhões de dólares americanos, mas totalizando apenas 3% dos proveitos mundiais por turismo. A Tunísia, Marrocos, a África do Sul, o Egipto e o Zimbabué são os 5 destinos favoritos em África.
Mas se existe tanto potencial, porque é que Angola não investe mais em turismo?
Angola, sendo um país com elevada diversidade de ecossistemas, com fauna e flora únicas no mundo, tem potencial para desenvolver um novo mercado para o turismo sustentável, mais especificamente, o Ecoturismo. A queda do preço do petróleo em 2014, mergulhou o país numa crise económica, ambiental e social, deste modo, a diversificação da economia tornou-se numa prioridade imperiosa para o desenvolvimento e criação de emprego, sendo o turismo um dos sectores com mais potencial a desenvolver nos próximos anos. De realçar, que neste caso, investir em ‘ecoturismo’ em Angola seria uma opção extremamente viável, mas ao mesmo tempo bastante desafiadora – e aqui explicamos porquê.
O que é o Ecoturismo?
O ecoturismo é uma forma de turismo sustentável. O seu conceito geral é definido pela forma responsável de viajar, utilizando áreas naturais e património cultural de forma sustentável, conservando o ambiente e melhorando o bem-estar das comunidades locais. O ecoturismo tem como princípios:
- Minimizar o impacto ambiental;
- Sensibilização ambiental e cultural;
- Experiência positiva para os turistas e para as comunidades locais, promovendo o bem-estar das populações envolvidas;
- Benefícios financeiros, com especial atenção para a conservação ambiental;
- Uso eficiente de recursos.
De acordo com os mais recentes destaques do turismo internacional, reportados pela Organização Mundial do Turismo (World Tourism Organization – UNWTO) no seu relatório de 2019, algumas das recentes tendências dos turistas são:
- Viver como um nativo;
- A procura de autenticidade e melhorias locais;
- Aumento de consciencialização sobre sustentabilidade (sem plásticos e com foco nas mudanças climáticas);
- Em busca de bem-estar nos seus destinos turísticos.
Com isso, vemos que existem correlações entre o turismo sustentável e as tendências dos turistas. Isto enfatiza que o mercado de ecoturismo seja um bom investimento. Mas porque é que isto ainda não está a acontecer?
A maioria dos países africanos ainda está em processo de desenvolvimento, isto é, tentando providenciar acesso aos recursos básicos para sobrevivência, como o acesso à água potável, a segurança alimentar, os serviços de saúde e energia, bem como superar as actuais diferenças entre camadas sociais e o elevado nível de pobreza em alguns países. Neste momento, um dos maiores problemas do turismo em África (especialmente os países em desenvolvimento) é o facto de que a maioria dos modelos estruturados e utilizados não estão de acordo a realidade das populações e também com as dificuldades económicas em que os mesmos se encontram.
O Banco Africano de Desenvolvimento (AfDB) enfatizou que o Turismo é um sector em rápido desenvolvimento e que pode ser o caminho para a integração, melhoria da qualidade de vida, desenvolvimento da agricultura e empoderamento de África. Para que isso aconteça é necessário um planejamento que enquadre a realidade dos países e que objectivos se pretende cumprir. Temos duas vertentes a seguir: tornar o país popular para fazer turismo de forma insustentável com um ganho maioritário a curto prazo para o estado e investidores e indiferença para as comunidades locais, ou, pelo contrário, integrar um plano a longo prazo, sustentável e com mudanças positivas a nível local e nacional.
A figura acima demonstra que desde 2013 a 2016 o turismo em Angola decresceu para quase metade das receitas. Isto sugere que de momento as estratégias para o desenvolvimento do turismo em Angola não têm sido suficientes nem eficazes.
Como podemos implementar turismo sustentável em Angola?
O turismo sustentável já esteve mais longe de ser alcançado. No tempo colonial, o turismo em Angola consistia maioritariamente em actividades de pesca e caça por pessoas com elevado estatuto social, que tinham condições para explorar florestas virgens e com difícil acesso por não haver estradas. A guerra civil que se seguiu à independência foi uma das principais causas de destruição de infraestruturas e património cultural, especialmente no que toca à arquitetura. Também envolveu a perturbação e destruição de habitats naturais e selvagens, assim como a perda de vida humana.
Por não haver conhecimento aplicável sobre a perspectiva ambiental e protecção da vida selvagem Angola enfrentou uma grande perda esporádica de vida selvagem e de habitats naturais na altura da transição da independência. Isto, consequentemente, também desencadeou a migração de animais para as fronteiras da Namíbia e Zâmbia.
A destruição de infraestruturas básicas, bem como a elevada quantidade de minas terrestres abandonadas pelo território nacional contribuiu para a redução do potencial turístico de Angola. Embora Angola tenha assinado o Tratado de Erradicação de Minas em 1997, criado o Instituto Nacional de Desminagem (INAD) e trabalhado com ONGs como a Halo Trust (que já desmina Angola desde 1994), ainda existem algumas áreas minadas em Angola. A total desminagem de Angola é um passo positivo e imprescindível para a implementação do turismo, tornando as viagens mais seguras para os angolanos e para visitantes e permitindo o desenvolvimento socioeconómico de comunidades locais.
Alguns dos outros obstáculos que precisam de ser trabalhados são:
- Criação de infraestruturas (básicas) para o acolhimento dos turistas;
- Serviços de migração, saúde e segurança funcional;
- Combate a corrupção (para evitar monopolização dos ganhos do turismo);
- Barreira de comunicação – língua (para turistas internacionais);
- Formação de guias e auxiliares para a manutenção e funcionamento do ecoturismo em Angola.
E cito aqui algumas oportunidades para turismo sustentável em Angola, que neste caso, são:
- Desportos náuticos (como o surf, kayak, entre outros);
- Vida selvagem (visitar parques e reservas nacionais);
- Povos indígenas (conhecer hábitos e costumes – cultura);
- Paisagens naturais (praias, montes, rios, entre outros).
Apesar de tanto potencial temos de olhar para os obstáculos que se contrapõem a isso. Neste momento, diante da crise económica, o país está sem recursos para poder criar infraestruturas luxuosas, que acabam também por atrair turistas com menos interesse na história e cultura do país em si, como também dos seus impactos as populações locais.
A Bradt Angola (guia de turismo angolano) diz que é difícil Angola competir com os vizinhos regionais (como Namíbia e África do Sul) por causa da grande competição no mercado turístico, pois estes países são vistos como mais seguros, mais desenvolvidos e populares como destinos para safaris. Por esta razão, é importante que Angola se especialize num tipo de turismo mais sustentável para que também possa atrair turistas estrangeiros. A Bradt Angola também realça que a diversidade imensa de biomas (desde desertos a florestas), de espécies endémicas, de atrações históricas, do potencial para desportos como surf e de aventuras por áreas selvagens como o Okavango, providenciam motivos suficientes para Angola poder competir no mercado do turismo, especialmente porque o número de turistas que visitam o país ainda ser muito baixo em comparação com os países vizinhos.
Incluir a sustentabilidade nos planos de desenvolvimento do turismo do país trará inúmeros benefícios ambientais e sociais, com maior impacto para os mais desfavorecidos, embora seja um processo a longo prazo e com um tipo de realização contínua. Isto também promoverá o investimento privado com fins lucrativos, criando vínculos com outros sectores e desenvolvendo as condições necessárias para a implementação do mesmo e criando os alicerces para o ciclo de crescimento sustentável.
É necessário ter em conta que mesmo que se façam investimentos privados, o turismo é altamente dependente do apoio e engajamento das comunidades locais, por isso é imperativo que haja equilíbrio entre a implementação do sector turístico e a melhoria da qualidade de vida das camadas sociais mais baixas. Isto, de certa forma, também promoverá a imagem de Angola que ainda se encontra marcada pela longo conflito armado, instabilidade política e pela pobreza.
Para garantir o crescimento sustentável do turismo em Angola, precisamos de mais abertura do governo, mantendo diálogos regulares com a sociedade civil, com o sector privado e com as comunidades locais, engajando a participação e benefícios económicos a um amplo espectro da população favorecendo todos os cidadãos de forma equilibrada, particularmente os mais desfavorecidos. Por fim, sabendo que o turismo sustentável tem potencial para contribuir significativamente para o desenvolvimento de Angola, é imperativo que estratégias e políticas gerais de planeamento económico, social e ambiental a serem implementadas estejam de acordo ao contexto da realidade de Angola, reduzindo distúrbios sociais e ambientais que geralmente tendem a afectar as comunidades mais desfavorecidas.
Por último, ressalto que para que isto aconteça os cidadãos também precisam de mudar os seus hábitos de consumo. Pode começar por registar-se no Movimento Verde da EcoAngola e adoptar práticas mais sustentáveis e ecológicas no seu dia-a-dia. Uma pequena mudança e uma melhoria nos seus hábitos causam impactos positivos de tamanho inexplicável. Caso deseje colaborar connosco, por favor, preenche o formulário ou contacte-nos no info@ecoangola.com.
Ecologista e bióloga ambiental angolana, apaixonada por pessoas, natureza e ciência; focada no desenvolvimento de soluções para a conservação da biodiversidade, direitos humanos e justiça climática, mobilizando para a acção. "Liderança ética e empática é parte do meu "print", e a comunicação carismática é simplesmente a minha maneira de ser".