O plástico é conveniente devido à sua durabilidade, flexibilidade, força, baixa densidade, impermeabilidade a um grande espectro de substâncias químicas e grande resistência térmica e eléctrica; mas é, ao mesmo tempo, um dos tipos de resíduos mais comum e desafiante em termos de impacto e gestão, uma vez que ao atingir o ambiente marinho, ele se torna persistente e omnipresente no oceano aberto (Marine Litter Vital Graphics, MOOC Marine Litter, 2020).
A problemática do plástico começa com a elevada produção deste material, influenciada pela demanda cada vez maior, numa época em que a população mundial e o consumismo crescem a um ritmo acelerado. Este crescimento trouxe um ritmo de vida frenético, que estimulou o surgimento de alternativas que facilitam o dia-a-dia dos seres humanos; mas para acompanhar este ritmo de vida, a produção de plástico e indústrias de serviços, estão a responder às exigências do mercado ao providenciar embalagens leves e produtos de uso único. No entanto, esta produção não se faz acompanhar de um plano para a gestão e tratamento destes produtos, o que, e devido às propriedades físicas e químicas deste material, acabam por impactar seriamente o ambiente.
Os impactos do plástico no oceano mais frequentemente registados são:
Ingestão pelos animais
A ingestão de resíduos plásticos, principalmente degradados ou pequenos, por animais terrestres e marinhos, que os confundem com alimento, tem sido vastamente registada por todo o mundo. Os animais mais afectados são as aves e os animais marinhos, tais como as tartarugas, mamíferos marinhos, peixes, tubarões e outros. A ingestão destes detritos inertes e indigestíveis, resultam na obstrução física da boca, trato digestivo, revestimento do estômago, bloqueio esofágico e outros, que podem impedir a ingestão de alimentos, resultando na deficiência de nutrientes, ou ainda causar stress fisiológico sob a forma de saciedade falsa levando alguns animais a parar de comer e lentamente morrer de fome.
Destruição de habitat
Para além da poluição física como tal, que normalmente afecta os solos, cursos hídricos e atmosfera, devido à contaminação pelo descarte indiscriminado de resíduos sem a devida separação, a nível dos mares e oceanos (uma vez que os resíduos mesmo que depositados em terra acabam por ir parar de alguma forma ao oceano), os resíduos plásticos podem causar a alteração, degradação ou destruição do habitat marinho. Isto acontece através da interferência física neste habitat, como a obstrução da luz solar, danos superficiais e abrasão. Para além disso, os equipamentos de pesca abandonados, perdidos ou descartados, os sacos plásticos entre outros, danificam e desgastam os corais, alterando a estrutura dos organismos vivos das áreas mais afectadas, se comparadas a áreas livres de detritos. Também o habitat bêntico é afectado, interferindo na busca natural por alimento e no comportamento natural dos organismos dessa zona.
Emaranhamento/aprisionamento
Plásticos para empacotar ou unir produtos, anilhas de plástico, sacos plásticos, 6-pack rings, fios e cordas sintéticas, equipamentos de pesca abandonados, descartados ou perdidos, incluindo redes, linhas e armadilhas, entre outros, são recorrentemente responsáveis pelo emaranhamento e aprisionamento de animais, principalmente no mar. Este aprisionamento causa problemas de mobilidade limitada e restrição de movimentos, que podem levar à má formação e desenvolvimento, atrofia, fome, sufoco, laceração, subsequente infeção, e morte. No caso específico dos equipamentos de pesca perdidos ou abandonados, estes continuam a capturar espécies “alvo e não-alvo”, que acabam por morrer nestas armadilhas, fenómeno denominado de Pesca Fantasma, que influencia na diminuição, desaparecimento e extinção de espécies marinhas.
Absorção de substâncias e impactos na cadeia alimentar
Uma das características dos plásticos, é que estes tendem a absorver certas substâncias que entrem em contacto consigo; assim, quando presentes no ambiente, os plásticos absorvem poluentes presentes neste, como bifenilos policlorados (PCB), pesticidas organoclorados, poluentes orgânicos persistentes tal como diclorodifeniltricloroetano (DDT), hidrocarbonetos aromáticos policíclicos e hidrocarbonetos alifáticos, agentes patogénicos, entre outros. Estas substâncias quando ingeridas costumam causar sérias intoxicações, deformações e outras complicações aos animais que ingerem este plástico contaminado.
“Contaminantes químicos representam uma ameaça imediata e crónica para as redes alimentares aquáticas e terrestres. Muitos destes poluentes, tal como o PCB e DDT, são conhecidos por serem disruptores endócrinos e tóxicos para o desenvolvimento. A exposição a estes químicos durante o período pré-natal e fase inicial de vida pode resultar em efeitos irreversíveis na vida selvagem e nos humanos (Colborn et al. 1993). (…) Existem evidências de que os químicos absorvidos pelos plástico, tal como os químicos usados na estrutura do próprio plástico, podem ser incorporados em tecidos vivos. “- Estratégia Honolulu, MOOC Marine Litter, 2020.
Microplástico
O plástico apesar de se degradar, não se decompõe como tal, apenas fragmenta-se em inúmeras partículas (microplásticos) que se espalham por todo o planeta através da água, do vento e outros, entrando na cadeia alimentar dos seres vivos, na composição da areia e das poeiras, da água das chuvas, da neve, do ar que respiramos, da água potável, etc. Actualmente, e devido a estas particularidades de fragmentação e fácil transporte, acredita-se que o plástico já se encontre presente um pouco por todo o planeta, até em regiões completamente inabitadas pelo homem e extremamente distantes das civilizações.
Introdução e disseminação de espécies invasoras
Ainda na vertente da capacidade de absorção do plástico, os resíduos à deriva no mar, propiciam o habitat perfeito para comunidades inteiras de organismos encrostados ou pegados e comunidades microbianas, transportando-os a grandes distâncias – possivelmente para áreas onde podem causar danos ou competir com espécies nativas.
A crescente deposição de materiais plásticos no mar, propiciou o aumento em grande escala deste fenómeno. Barnes (2002), estima que os plásticos marinhos duplicaram a proliferação de fauna e mais que triplicaram a propagação de fauna de altas-latitudes, o que justifica o aumento do transporte de potenciais espécies exóticas. (…) A introdução de espécies não nativas pode ter consequências ambientais devastadoras incluindo a perda de biodiversidade, alterações na estrutura do habitat e mudanças nas funções do ecossistema, (Derraik 2002). – Estratégia Honolulu, MOOC Marine Litter, 2020.
Biodegradáveis
O termo “biodegradável” gera a crença de que estes plásticos se degradam no meio ambiente de forma natural e rápida. Na realidade, a maioria dos plásticos biodegradáveis só se biodegradam em altas temperaturas, normalmente encontradas em instalações de incineração, e não no ambiente natural. Mesmo os bioplásticos derivados de fontes renováveis como amido de milho, raízes de mandioca, cana-de-açúcar ou da fermentação bacteriana de açúcar ou lipídios (PHA) não se degradam automaticamente no meio ambiente e principalmente no oceano, onde as temperaturas são mais baixas que em terra. Assim sendo, os bioplásticos ou plásticos biodegradáveis, quando descartados no ambiente, comportam-se como o plástico convencional, acarretando os mesmos problemas que este.
Os resíduos plásticos também impactam as economias dos países:
- Os resíduos plásticos a nível do mar, representam um risco navegacional, uma vez que podem ficar presos em motores e lemes de barcos, causando problemas operacionais. Sacos plásticos entopem e bloqueiam as entradas de água, desgastando as bombas de água de embarcações recreativas, resultando em reparações caras, desativação das mesmas, inatividade do pessoal, danos nestas embarcações, operações de resgates de urgência a estas embarcações e outros, que representam elevados prejuízos económicos;
- A presença de resíduos (que na sua maioria são plásticos) levam à degradação estética das praias, zonas costeiras, centros urbanos, zonas recreativas e outras, impactando significativamente o sector turístico, uma vez que afasta os visitantes. Isto afecta os negócios e lucros, ameaçando a economia das regiões que dependem fortemente do turismo;
- A pesca fantasma afeta as indústrias pesqueiras, uma vez que continua a capturar peixe, caranguejo e lagosta de valor económico, e ainda outras espécies de peixes e mariscos sem destino comercial. Assim, com o desaparecimento das populações, as pescas comerciais sofrem perdas económicas e as oportunidades de pesca recreativa podem diminuir significativamente.
Soluções
Apesar da dimensão do problema, existem algumas estratégias a considerar, que podem muito bem representar soluções:
Sensibilização
A aposta em atividades de sensibilização entre distribuidores/retalhistas e consumidores pode influenciar na diminuição do consumo de bens de plástico, principalmente de uso único. Estas atividades podem consistir, por exemplo, no fornecimento de alternativas de compra que reduzam o consumo de sacos de plásticos, utensílios diversos de plásticos, produtos cosméticos que contenham micropérolas, entre outros, reforçando os benefícios da seleção e descarte adequado dos resíduos.
As campanhas de sensibilização devem ser constantes e devem focar nos custos da ausência de acção – e nos custos e benefícios de tomar uma acção. Devem abranger educação formal e informal, principalmente para crianças, apostar na sua divulgação através da comunicação social, quer na forma tradicional, quer através das redes sociais, utilizando meios como vídeos, música, arte, aplicativos de telefone, promover atividades como limpezas de praia e zonas verdes, entre outras, e devem levar em conta género, raça, idade e classe.
Limpezas e pesca de resíduos
Envolver voluntários em ações de limpeza de praias e zonas verdes é uma boa alternativa, pois para além de ser uma acção de remediação, pode ser também uma acção de prevenção de futuros episódios, se tivermos em conta a sensibilização prestada pela atividade.
A pesca de resíduos pode ser uma opção útil para a remoção de vários tipos de resíduos, ainda que não todos e, pode ser combinada com incentivos económicos que encorajem a mesma, como pagamentos aos pescadores que recolham resíduos.
Implementação de políticas
Por exemplo, a criação de políticas que obriguem os fabricantes a projetar os seus produtos e embalagens de modo que se enquadrem nos sistemas de reciclagem; leis de responsabilização financeira e logística aos produtores pelos seus produtos em fim de vida, proibições como: proibição de produção, utilização, comercialização, importação, exportação de sacos e outros produtos de plástico, de fumar nas praias, utilização de produtos cosméticos com micropérolas e várias outras medidas.
Investigação e inovação
É importante investir-se na investigação do combate aos resíduos plásticos, uma vez que isso permite desenvolver e melhorar legislações, políticas, ferramentas, medidas de combate e outras. É também através da investigação e inovação que se aperfeiçoa o design de produtos e processos que aumentem a eficiência dos recursos, impeçam o desperdício e possibilitem a reutilização, reparação, refabricação e reciclagem, permitindo a fácil transição para uma enconomia circular
Incentivos económicos
Como taxas sobre os sacos de plásticos, louça plástica descartável, palhinhas, entre outros produtos de plástico e, esquemas de depósito-reembolso, influenciando a escolha dos consumidores nos produtos a comprar, ou encorajando hábitos como a devolução de garrafas ou ainda o uso de sacos reutilizáveis.
Investimento na gestão de resíduos e em infrastruturas de tratamento de águas residuais
“Investimento em infraestruturas de gestão de resíduos e em instalações de tratamento de águas residuais pode evitar a dispersão dos resíduos no ambiente marinho. Tal pode incluir redes de perímetro em aterros para apanhar desperdício levado pelo vento, melhoramentos na infrastrutura para resíduos em praias e portos e investimento em estações de tratamento de águas residuais para fornecer armadilhas de resíduos e filtros para capturar microfibras (apesar destes não funcionarem contra items transportados por águas pluviais). Investimento na recolha de desperdício e gestão de áreas costeiras ou próximas de rios, e particularmente em áreas onde a infraestrutura é inadequada ou ausente, pode ajudar a conter a dispersão de resíduos para o oceano. “- É melhor (e mais barato) ser limpo do que ter que limpar, MOOC Marine Litter, 2020.
Existem várias outras opções, no entanto, independentemente das soluções escolhidas, é necessário ter-se sempre em conta a realidade do país ou região em que se pretende aplicar tais soluções, para que não surjam outro tipo de problemas a nível social e económico, por exemplo.
Bibliografia:
Marine Litter Vital Graphics, MOOC Marine Litter, 2020.
Estratégia Honolulu, MOOC Marine Litter, 2020.
É melhor (e mais barato) ser limpo do que ter que limpar, MOOC Marine Litter, 2020.
Assistente Executiva da EcoAngola, Embaixadora do Movimento Verde da EcoAngola