A gestão de resíduos plásticos é actualmente um dos assuntos mais discutidos a nível global. Por esse motivo, os Estados têm vindo a apostar cada vez mais na criação de estratégias para o combate ao mesmo, tanto a nível nacional como internacional. São inúmeros os impactos negativos do plástico no mundo e principalmente nos oceanos, mas um dos mais pertinentes é a intoxicação da biodiversidade, causada pelo contacto e ingestão de resíduos plásticos.
O plástico é um material extremamente versátil devido às suas características de resistência a altas temperaturas, maleabilidade, durabilidade, entre outros, o que permite uma vasta aplicabilidade do mesmo. No entanto, são também essas características que o tornam um verdadeiro inimigo da natureza.
Composição do plástico
O plástico provém de resinas derivadas do petróleo, mais especificamente da nafta obtida durante a refinação do petróleo, que na sua composição contém substâncias tóxicas que podem causar distúrbio às espécies que entrem em contacto com elas.
Invasão de plástico nos oceanos
Substâncias tóxicas encontradas nos plásticos
Um dos principais compostos de muitos plásticos é o bisfenol, substância cuja presença no organismo está associada ao desregulamento do sistema endócrino de pessoas e animais, o que os caracteriza como disruptores endócrinos. Em humanos, a ingestão deste composto está associado a alterações do sistema imunológico, alterações cerebrais e comportamentais, obesidade, desordens reprodutivas e do desenvolvimento humano, neoplasias (tumores) no útero, mama, próstata, testículos e ovários, diabetes, problemas de infertilidade, entre outras. Em animais, pode causar a esterilização, problemas comportamentais e até influenciar na diminuição de populações.
Outras substâncias químicas são encontradas em resíduos plásticos presentes no ambiente marinho, como bifenilos policlorados (PCB), pesticidas organoclorados, poluentes orgânicos persistentes (POPs) tal como diclorodifeniltricloroetano (DDT), hidrocarbonetos aromáticos policíclicos e hidrocarbonetos alifáticos. Além destes produtos químicos, outras substâncias agarram-se aos plásticos e são ingeridas, como fármacos, dejectos humanos, substâncias perigosas provenientes de derrames ou de esgotos industriais, metais pesados, entre outros.
De acordo com estudos sobre o impacto da ingestão de plástico contaminado pelas espécies estarem numa fase embrionária, já se afirma que estas substâncias químicas representam uma grande ameaça para as redes alimentares aquáticas e terrestres. Muitos destes poluentes como o PCB e DDT são conhecidos por serem disruptores endócrinos e tóxicos para o desenvolvimento, sendo que a exposição a estes químicos durante o período pré-natal e fase inicial de vida pode ter efeitos irreversíveis na vida selvagem e humana. No caso da ingestão de poluentes orgânicos persistentes (POPs), estão associados diversos tipos de disfunções, como câncer, malformações de nascença, disfunções nos sistemas imunológico e reprodutivo, maior susceptibilidade a doenças e diminuição da capacidade mental.
Outra substância que pode ser ingerida através do plástico contaminado é o mercúrio, uma neurotoxina muito presente nas águas e cuja ingestão está associada a problemas de saúde como danos ao cérebro, sistema nervoso e outros órgãos.
A ingestão de plástico contaminado pode causar danos aos órgãos, levando a interrupções na alimentação, tamanho da espécie, reprodução e até pode causar a morte. No entanto, a intoxicação não se dá somente pela ingestão de plástico contaminado, mas também com a transferência de poluentes ao longo da cadeia alimentar. Assim, o plâncton e pequenos animais quando alimentam-se do plástico contaminado e, ao serem comidos por peixes maiores, propagam essa intoxicação, contaminando a biodiversidade do mar de forma progressiva e cumulativa, colocando em risco também a saúde humana. No caso dos seres humanos, a intoxicação ocorre da mesma forma, através da ingestão de peixe e marisco já contaminado.
A maior parte dos resíduos descartados pelos humanos acaba por acarretar sérias consequências à saúde pública. Tomemos como exemplo as seringas descartadas, preservativos, tampões, garrafas PET, resíduos hospitalares, de higiene pessoal, que muitas vezes fazem-se acompanhar por poluentes patogénicos invisíveis como streptococci, coliformes fecais e outras contaminações bacterianas, que entram regularmente na rede de esgotos, que desaguam no mar, ou em sistemas de tratamento de águas residuais.
Por estes motivos, a crescente produção de plástico, acompanhada do excessivo consumo do mesmo, do seu descarte inadequado, da reciclagem quase nula e a baixa educação ambiental, influenciam na presença desse material em todos os ecossistemas existentes no mundo, principalmente nos ecossistemas marinhos, causando um desequilíbrio ecológico nos mesmos, uma vez que inúmeras espécies morrem ou migram por excessiva poluição plástica.
Outras consequências
Esta presença de plástico no ambiente marinho e não só, representa um enorme perigo para muitas espécies, que morrem por asfixia, emaranhamento, intoxicação, ingestão, pesca fantasma, lesões, impactando directa e drasticamente a biodiversidade.
A maioria dos resíduos plásticos encontrados nos cursos de água, são confundidos com alimentos pelos animais marinhos, que ao ingerirem os mesmos, têm uma falsa sensação de saciedade, deixando de comer e morrendo lentamente de desnutrição e fome. Além disso, também é comum a ingestão desses resíduos levar a asfixia, obstrução do sistema digestivo, perfuração de órgãos e consequentes complicações causadas pela mesma como hemorragias e infecções. Por esse motivo, é muito comum hoje em dia encontrarmos animais marinhos mortos com muitos resíduos plásticos no organismo.
Para além disso, muitos resíduos plásticos presentes nos cursos de água, tendem a aprisionar diversas espécies, levando a lacerações e consequentes infecções, impossibilidade de deslocação e consequente morte, diminuição das espécies através da pesca fantasma, onde os materiais de pesca abandonados continuam a “pescar” diversas espécies marinhas, incluindo espécies impróprias para consumo e sem valor comercial.
Apesar de haver pesquisas sobre o assunto, o debate e a consciencialização são de extrema importância, pois enquanto não reduzirmos o consumo de plástico e o consequente depósito do mesmo nos mares, por mais pesquisas que se façam, o problema permanecerá. Assim sendo, é importante reeducar-mo-nos e tentarmos levar um estilo de vida que não contribua.
Para a resolução desteor causa deste problema, várias iniciativas têm vindo a ser criadas pelo mundo para tentar combater o mesmo. Nesta vertente, em Angola foi implementado o projecto Angola sem Plástico, um projecto piloto financiado pela Delegação da União Europeia em Angola, e implementado em colaboração com a EcoAngola, que tem como objectivo a implementação de uma campanha de sensibilização sobre o consumo responsável do plástico descartável (de uso único), particularmente sacos e garrafas de plástico.
Durante a implementação deste projecto, foram desenvolvidas diversas actividades de sensibilização tais como:
- Inquéritos presencial e digital sobre o consumo de plástico descartável;
- Encontro com empresas de distribuição e comércio;
- Debate estudantil com universidades;
- Campanhas digitais (conteúdo informativo sobre o impacto do plástico);
- Cinema ao ar livre;
- Teatro de sensibilização;
- Concurso de artes com a temática do plástico;
- Campanhas de limpeza de praias.
Apesar da implementação deste projecto ter terminado, podemos e devemos continuar a adoptar hábitos de consumo consciente que ajudem a reduzir a quantidade excessiva de plástico no ambiente. Assim, é importante adotar práticas sustentáveis como:
- Evitar plásticos descartáveis(palhinhas, pratos, talheres e copos descartáveis);
- Utilizar ecobags ou sacolas reutilizáveis;
- Comprar alimentos a granel e menos produtos embalados;
- Substituir os tupperwares de plástico por recipientes de vidro;
- Apostar na reciclagem;
- Investigar mais alternativas e utilizar a criatividade.
Caso queira saber um pouco mais sobre o impacto do plástico na natureza, bem como possíveis soluções para combater o mesmo, a EcoAngola tem um artigo relativo a este tema disponível em: https://ecoangola.com/plastico-das-ameacas-as-solucoes/
Bibliografia:
http://www.avm.edu.br/docpdf/monografias_publicadas/n204200.pdf
http://www.gorni.eng.br/intropol.html
https://marinedebris.noaa.gov/sites/default/files/publications-files/Honolulu_Strategy.pdf
https://www.pucsp.br/sites/default/files/download/eitt/xi-ciclo-eduardo-machado.pdf
https://www.scielosp.org/article/csc/2020.v25n11/4339-4345/
https://www.ecycle.com.br/a-maioria-dos-plasticos-libera-estrogenio/
https://www.news-medical.net/health/Ocean-Pollution-and-Human-Health.aspx
https://www.scielo.br/j/cr/a/z6fDQNQFgxZgFBqLSC6nGgB/?lang=pt
https://www.scielo.br/j/qn/a/BzwjyybkzCgvjX6tpykf9gf/?lang=pt
A Eco Angola é uma organização que promove a sustentabilidade com objetivo de preservar o ambiente e promover o bem estar social.