
Os padrões dominantes de produção e consumo, o crescimento sem precedentes da população humana, o aumento dos resíduos (doméstico e industrial), e as mudanças climáticas causadas pelas excessivas emissões de gases de efeito de estufa, estão a causar uma imensa devastação ambiental, uma acelerada redução dos recursos naturais e uma massiva extinção de espécies.
A sustentabilidade visa estabelecer um equilíbrio entre o que a natureza nos pode oferecer, o consumo dos recursos naturais e a melhoria da nossa qualidade de vida. A sustentabilidade pode também ser definida como a capacidade do ser humano interagir com a natureza sem comprometer as gerações futuras, ou seja, explorar os recursos naturais preservando a sua capacidade de regeneração natural.
O desenvolvimento sustentável tem como princípio priorizar os seres humanos e não o lucro, sendo a protecção ambiental vital para promover o desenvolvimento humano. Isso implica garantir a viabilidade dos ecossistemas, incluindo a sua biodiversidade.
O desenvolvimento sustentável requer mudanças estruturais a longo prazo no sistema económico e social com o propósito de reduzir o uso de recursos naturais e diminuir os danos ambientais, enquanto mantemos o sistema económico funcional e a coesão social. O desenvolvimento sustentável requer também um real envolvimento de todos os cidadãos, organizações da sociedade civil, academia, sector privado e decisores políticos.
O Relatório de Brundtland, publicado em 1987 com o título “Nosso Futuro Comum”, pela Comissão de Brundtland (anteriormente conhecida como Comissão Mundial Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento), define o “Desenvolvimento Sustentável como o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir a suas próprias necessidades.”
O Relatório de Brundtland ressalta os riscos do uso excessivo dos recursos naturais, sem considerar a capacidade de suporte dos ecossistemas. Reconhece também que o desenvolvimento supõe uma transformação progressiva da economia e da sociedade, e que o crescimento e o desenvolvimento produzem mudanças nos ecossistemas.
O conceito de sustentabilidade e a relação entre gestão ambiental e o desenvolvimento humano começaram a ser discutidas na Conferência de Estocolmo (conferência das Nações Unidas sobre o ambiente e o desenvolvimento humano) em 1972, culminando com a Declaração de Estocolmo, que definia princípios de preservação e melhoria do ambiente, assim como assistência técnica e apoio financeiro aos países mais pobres.
Seguiu-se a ECO-92, a conferencia sobre ambiente e desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro em 1992, onde mais de 100 chefes de estado concordaram com a promoção do desenvolvimento sustentável, com a humanidade e na protecção ambiental como partes fundamentais desse processo, assim como a adopção da Agenda 21, a primeira carta de intenções para promover um novo padrão de desenvolvimento para o século XXI.
A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável foi aprovada aos 25 de Setembro de 2015, pelos líderes dos 193 Estados-membros das Nações Unidas na Cimeira das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em Nova Iorque e entrou em vigor a 1 de Janeiro de 2016. A Agenda 2030 estabelece os Objectivos do Desenvolvimento Sustentável (17 metas globais estabelecidas pela Assembleia Geral das Nações Unidas), que abrangem questões de desenvolvimento social, económico e ambiental.

O Dia da sobrecarga da terra
Segundo os dados do Dia da Sobrecarga da Terra, até Julho de 2019, a humanidade já usou mais recursos de terra e mar do que o planeta pode regenerar em um período de 12 meses, ou seja, nos meses seguintes, vivemos e consumimos os recursos emprestados de gerações futuras.
A Global Footprint Network (GFN), organização responsável por estimar e anunciar os dados do Dia da Sobrecarga da Terra, anunciou que a pandemia da Covid-19 fez com que a pegada ecológica da humanidade se contraísse, demonstrando que é possível mudar os padrões de consumo de recursos num curto período de tempo. Mas, também alertou que a verdadeira sustentabilidade não pode ser alcançada por causa de um desastre. Temos de pensar que é uma alegria temporária que pode não se traduzir em nada de válido para o futuro, se não for acompanhado de medidas que, na realidade, permitam reduzir o nosso consumo.
Desenvolvimento sustentável em Angola
Segundo o relatório de indicadores de linha de base da Agenda 2030 de Angola, a incorporação da Agenda 2030 nas estratégias, planos e políticas nacionais articula-se por áreas temáticas, identificadas como 5P (nas Pessoas, no Planeta, na Prosperidade, na Paz e nas Parcerias), cobrindo preocupações de âmbito social, económico e ambiental.
Angola não cumpre nenhum dos 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, estando na posição 149, numa lista de 162 países avaliados e abaixo da média da Africa Subsariana.
O nível de pobreza constitui um factor limitante para a sustentabilidade, sendo o primeiro objectivo dos ODS, erradicar a pobreza. O Relatório Final do Inquérito sobre Despesas, Receitas e Emprego em Angola (IDREA 2018-2019), do Instituto Nacional de Estatística, aponta que o rendimento médio da população está abaixo da linha de pobreza, correspondente a 12.500 Kz/mês, ou seja 417 Kzs/dia, cerca de 0,8 USD/dia (ao câmbio de 550). Angola regista um índice progressivo de pobreza tendo 41% da sua população pobre, sendo que em 2008 correspondia à 33,6%.
Cerca de dois terços da população rural e urbana ainda enfrenta o desafio de acesso a água potável, serviços de saúde, educação e transporte. Por outro lado, o potencial hídrico não atende as necessidades das populações e da agricultura de forma integrada, assim como o potencial de biodiversidade e paisagens naturais, que poderia ser melhor reaproveitado para o turismo ecológico e para a indústria farmacêutica.
Angola lançou recentemente a Plataforma Nacional dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, visando acelerar, priorizar, disseminar e mobilizar financiamentos para os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, bem como monitorizar a sua implementação em Angola.
Medidas para a promoção do desenvolvimento sustentável
- Criar e desenvolver a consciência de que os recursos naturais são finitos e que é necessário ter em conta o período de renovação dos mesmos, para que não se esgotem;
- Promover o crescimento demográfico sustentável;
- Desenvolver e implementar o ordenamento do uso dos solos;
- Mitigar e combater a desflorestação e a desertificação;
- Promover o desenvolvimento da agricultura sustentável, com a redução dos agrotóxicos;
- Preservar e conservar os diferentes ecossistemas, em especial, os ecossistemas frágeis (ecossistemas de montanhas, desertos, os habitats semiáridos, húmidos, as ilhas e determinadas zonas costeiras);
- Preservação e conservação da fauna e flora;
- Gestão dos resíduos sólidos, orgânicos, hospitalares, tóxicos e radioativos;
- Promover políticas e incentivos para o desenvolvimento da indústria de reciclagem;
- Usar tecnologias ecologicamente adaptadas para a produção industrial;
- Redução do uso de combustíveis fósseis (petróleo, gás natural, carvão mineral) e promover o desenvolvimento de energias renováveis (as mais sustentáveis como a energia eólica, solar e a de hidrogénio verde);
- Financiamento por entidades público-privadas para o fomento de pesquisas científicas de temáticas ambientais;
- Fortalecimento das organizações que trabalham em prol da conservação ambiental;
- Intensificar as campanhas de educação e sensibilização ambiental.
Como cidadão, que práticas sustentáveis posso aplicar no meu dia-a-dia?
Repensar, recusar, reduzir, reutilizar e reciclar: são alguns dos princípios chave para o uso apropriado de recursos. Ao praticar estes princípios estará a contribuir para a protecção e preservação dos recursos naturais, pois reduz a quantidade de lixo produzido, reduz o consumo de energia (para produção dos materiais e para o tratamento do lixo) e reduz a poluição. Por exemplo, pode reduzir o consumo de papel evitando imprimir documentos e utilizando versões electrónicas. Pode evitar ou mesmo eliminar o uso de descartáveis (plástico, alumínio e papel).
Redução de consumo de energia: reduza o uso de elevador, suba as escadas. Não só irá conservar energia mas também queima algumas calorias. Desligue as luzes e os electrodomésticos quando não os estiver a usar.
Modo de transporte: opte por opções alternativas como andar a pé, andar de bicicleta, usar transportes públicos e reduzir o uso do carro individual. Se tiver de conduzir o seu carro, dê uma boleia a um colega ou amigo.
Solidariedade: a solidariedade é também um dos aspectos mais importantes quando se fala sobre sustentabilidade. Devemos sempre pensar nas nossas atitudes e como estas afectam as outras pessoas.
Em resumo, devemos ter plena consciência do impacto que as nossas acções causam ao ambiente, e devemos reduzir a nossa pegada ecológica ou seja, devemos reduzir o nosso consumo de recursos naturais bem como reduzir a emissão de poluentes para a atmosfera e para os diferentes ecossistemas.
O que o EcoAngola está a fazer
O EcoAngola promove a sustentabilidade, a educação e a conservação ambiental, através de campanhas, projectos, artigos, eventos e actividades. A EcoAngola pretende educar e sensibilizar a sociedade no sentido de uma mudança de mentalidade e atitude em prol do ambiente e bem-estar social. Junte-se a nós e contribua para a promoção da sustentabilidade, da educação e da conservação ambiental.