A costa de Luanda enfrenta um problema de contaminação marinha visível, causado por um afloramento de algas. Este fenômeno, que se estende por uma grande área, gera preocupações sobre a saúde do ecossistema marinho, a qualidade da água e o impacto nas atividades locais, como a pesca e o turismo. Este relatório apresenta os resultados da investigação preliminar realizada por biólogos e voluntários da EcoAngola e dos Guardiões da Costa Mwangolé nos dias 15 e 16 de setembro de 2024, com o objetivo de analisar as causas do afloramento de algas e avaliar os seus impactos.


Metodologia
- – Recolha de Amostras: Amostras de água foram recolhidas na Ilha de Luanda para identificar a composição das algas e possíveis contaminantes.
- – Identificação de Algas: Foram utilizadas técnicas de microscopia e observação para identificar as espécies predominantes no afloramento.
- – Entrevistas Locais: Conversas com pescadores e moradores ajudaram a reunir informações sobre a evolução do fenômeno e seu impacto nas atividades diárias.
- – Análise de Imagens de Satélite: Imagens de satélite entre 1 de Maio e 16 de Setembro de 2024 foram revisadas para identificar picos de afloramento e corroborar denúncias de contaminação.


Resultados Preliminares
As análises mostraram uma alta concentração da espécie Noctiluca scintillans, conhecida por causar florações bioluminescentes e deterioração da qualidade da água quando cresce excessivamente. Na noite de 16 de Setembro de 2024, sinais de bioluminescência foram confirmados, reforçando a hipótese de que Noctiluca scintillans é a espécie responsável. Embora a pesquisa bibliográfica sobre bioluminescência em Angola seja limitada, estudos sugerem que condições oceânicas na região podem favorecer a proliferação dessa alga. Relatos de pescadores indicam uma diminuição nas capturas, além de um odor desagradável em áreas afectadas. A análise de imagens de satélite mostrou um aumento significativo nas florações a partir de Junho de 2024, coincidindo com as denúncias da população local.


Para aprofundar a pesquisa, são necessárias acções como:
- – Monitorar a temperatura da água ao longo dos meses.
- – Identificar outros microorganismos nas amostras e coletar em mais locais, como Benguela.
- – Avaliar parâmetros de qualidade da água, incluindo nutrientes e clorofila-a.
- – Melhorar a qualidade das imagens de satélite utilizadas.
Estratégias de Prevenção e Mitigação
As acções recomendadas incluem a implementação de sistemas eficientes de tratamento de águas residuais, regulamentação do uso de fertilizantes nas áreas costeiras, criação de zonas tampão vegetadas e melhoria da infraestrutura de saneamento. É fundamental realizar campanhas de sensibilização sobre os impactos da poluição, replantar mangais e implementar monitoramento contínuo da qualidade da água. Também é importante incentivar a aquicultura sustentável e criar zonas de proteção marinha, além de, se necessário, realizar a remoção física de algas em áreas críticas.

Conclusões Finais
O fenômeno associado a Noctiluca scintillans pode ser classificado como uma “red tide” (maré vermelha), caracterizada pela proliferação de algas que pode alterar a cor da água. Esse fenômeno compromete a qualidade da água, gera odores desagradáveis e afecta diretamente as comunidades costeiras. Os pescadores relataram uma diminuição nas capturas, enquanto a contaminação percebida gera preocupações de saúde pública e diminui atividades recreativas e turísticas. Embora Noctiluca scintillans não seja tóxica, pode causar irritações na pele e reacções alérgicas.
Ambientes marinhos impactados pela proliferação excessiva de Noctiluca scintillans podem sofrer com a hipóxia, prejudicando a vida marinha e afectando as cadeias alimentares. Economicamente, as “red tides” prejudicam a pesca e o turismo, reduzindo a disponibilidade de recursos pesqueiros e a atractividade das áreas costeiras. Portanto, é vital monitorar e mitigar a contaminação nas águas para proteger o ecossistema e as comunidades locais.
Nota: Este é um resumo do artigo completo. Para visualizar o artigo completo clique aqui.
A EcoAngola e os Guardiões da Costa Mwangolé são associações ambientais angolanas não governamentais e sem fins lucrativos comprometidas com a preservação dos ecossistemas. As duas precisam de voluntários e apoio para implementar os seus projectos de investigação, educação e advocacia. Para doar à EcoAngola: BAI AO06 0040 0000 8852 8059 1010 3 Para doar aos Guardiões da Costa Mwangolé: BAI AO060040000018521574 10 163 |
Referências
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