Os insectos compreendem mais da metade de todos os organismos vivos descritos cientificamente e exercem grande impacto em ecossistemas terrestres, mais do que qualquer outro tipo de animal.
Abelhas são pequenos insectos da ordem Hymenoptera, da superfamília Apoidea e do subgrupo Anthophila.
Dentro de uma colmeia existem três tipos de abelhas: a rainha, as abelhas operárias e os zangões, sendo que as abelhas operárias representam o maior grupo dentro da colmeia. Normalmente estas operárias são fêmeas inférteis e as suas funções principais são de alimentar a colmeia e protegê-la, sendo assim responsáveis pela protecção da abelha rainha, cuja função é de reproduzir.
Quando a abelha rainha põe ovos, estes podem ser infertilizados ou fertilizados. Os ovos infertilizados tornam-se abelhas macho – os zangões, que têm como função fecundar a rainha e, ao contrário das abelhas fêmeas (a rainha e as operárias), estes zangões não possuem ferrão. Em algumas espécies, após a fecundação, as abelhas-macho (zangões) perdem a sua utilidade na colmeia e tendem a ser expulsas ou morrem. Por outro lado, os ovos fertilizados tornam-se abelhas operárias ou uma rainha. A abelha rainha é escolhida de forma aleatória quando nasce e é alimentada por uma secreção chamada “geleia real”, produzida pelas abelhas operárias, que acelera o seu crescimento. Eventualmente, ela irá matar a sua concorrente e assumir o trono.
Quando pensamos em uma rainha, pensamos numa monarquia, no entanto, no caso da colmeia, as decisões da mesma são tomadas pelas abelhas operadoras e não pela rainha.
Apesar do papel principal da rainha ser o de reproduzir até 1,500 ovos por dia durante a sua vida (3-4 anos), ela também é responsável pela produção de feromonas (substância química que afecta o comportamento e fisiologia das outras abelhas da colmeia). Estas feromonas são muito importantes pois podem alterar o comportamento da colmeia em situações de perigo, bem como manter o equilíbrio da mesma, pois em excesso podem enfraquecer o desenvolvimento de algumas abelhas.
O colapso das colónias – distúrbios causados pelos humanos
Os polinizadores (abelhas, borboletas e outros insectos) são responsáveis por aproximadamente 80% da polinização de plantas floridas e 35% da polinização dos cultivos alimentares no mundo (equivalente a 1/3), visto que por dia, uma abelha é capaz de polinizar aproximadamente 5,000 flores, o que demonstra a importância destas na reprodução de plantas alimentares.
Atualmente, as altas taxas de degradação e fragmentação de habitats tornaram-se alguns dos problemas mais sérios para a conservação da diversidade biológica nas regiões tropicais, pois levam à extinção das espécies e também ao comprometimento de processos importantes relacionados à produtividade e sustentabilidade dos ecossistemas, afectando também a dispersão das abelhas.
Nos últimos anos, especialistas têm expressado a sua preocupação a respeito da diminuição da população de invertebrados e do distúrbio do colapso das colmeias (DCC), fenómeno que ocorre quando números significativos de abelhas desaparecem das colónias. Estas abelhas simplesmente abandonam a colmeia (normalmente, estas tendem a ser as abelhas operárias). Acredita-se que o DCC é parcialmente causado pelo uso de químicos e agrotóxicos como neonicotinóides em pesticidas para combater pragas agrícolas, mas que causam nas abelhas sintomas similares à Alzheimer em humanos. Outras causas são a presença de parasitas, vírus e fungos nas colmeias e, estudos apontam que o aquecimento global também perturba o bem-estar das abelhas. Com o aumento da temperatura global, as flores tendem a florescer mais cedo, no entanto, quando as abelhas estão prontas para polinizar, não existe suficiente pólen para todas e algumas não sobrevivem. Com a extinção das abelhas, a nossa própria realidade também vai mudar e no futuro a crise alimentar será maior devido a redução de animais polinizadores. As abelhas são importantes agentes na produção dos nossos alimentos porque são responsáveis pela polinização de vários produtos alimentares como café, chocolate, amêndoas e diversas frutas e vegetais. Desde a sua descoberta em 2006, temos aprendido cada vez mais sobre DCC, mas a sua causa exacta ainda continua um mistério.
Quando pensamos em proteger as abelhas, pensamos nas abelhas erradas
Quando pensamos em abelhas, e na sua extinção, pensamos nas abelhas que produzem mel e vivem em colmeias, que em termos técnicos, são também conhecidas por Apis mellifera. Este pensamento é um equívoco pois as abelhas que produzem mel não se encontram em perigo de extinção. Existem aproximadamente 20,000 espécies diferentes de abelhas e, entre essas espécies, algumas produzem mel (em grandes quantidades) e vivem em colmeias e outras não. Geralmente, as abelhas que produzem mel são domesticadas para contribuir para a produção de alimentos mediante a sua polinização.
Na verdade, as abelhas que correm perigo de extinção são as abelhas silvestres, das quais algumas espécies já se consideram extintas. As abelhas silvestres tendem a ser abelhas solitárias, isto é, não vivem em colmeias e produzem mel apenas para consumo próprio. A maioria das abelhas silvestres escava buracos no solo onde depositam os seus ovos. As abelhas que produzem mel têm o apoio e o armazenamento da colmeia, ao contrário as abelhas silvestres que não contam com esta ajuda. Adicionalmente, estudos mostram que as abelhas que produzem mel tendem a ser mais resistentes a pesticidas do que as silvestres.
Ao contrário do que se pensa, entre as abelhas, as maiores polinizadoras não são as abelhas que produzem mel, mas sim as abelhas silvestres. A maioria das espécies silvestres tem pelos, costumam ter uma língua mais longa do que as abelhas produtoras de mel (apesar de existirem espécies de abelhas silvestres também com a língua curta e espécies de abelhas produtoras de mel com a língua mais comprida) e, são relativamente maiores. Estas características permitem-lhes extrair pólen de flores mais estreitas e profundas e de transportá-lo com maior facilidade.
Como podemos proteger as abelhas silvestres? Ao contrário das abelhas produtoras de mel, as abelhas silvestres são selectivas no que diz respeito às flores de onde extraem pólen, pois preferem flores selvagens. Dito isto, uma forma de ajudar estas abelhas a partir de casa, seria plantar espécies nativas ou algumas destas plantas nos nossos jardins (malmequer, trevo-roxo, margaridas, calêndula, etc). Um relvado demasiado curto e deserto também tende a não ser benéfico para este tipo de abelhas. Assim, para mantermos os nossos jardins e ajudar as abelhas poderíamos criar “plantações selvagens” em alguns cantos dos nossos jardins. Desta forma, as abelhas não teriam a necessidade de procurar alimento ou abrigo no relvado que pouco lhes oferece.
Marisabel González é colaboradora voluntária da EcoAngola e Licenciada em Ciências Geofísicas pela Universidade de Leeds.
Ferreira Timóteo é colaborador voluntário da EcoAngola, Licenciado em Ciências da Natureza e Matemática e Mestre em Ecologia e Recursos Naturais.