Jardins Verticais – Uma nova visão sobre a implementação de espaços verdes

O conceito de jardim vertical não é recente, estudos mostram que na verdade é uma prática que data do Século VI (a.C), com os Jardins Suspensos da Babilónia – uma das sete maravilhas do mundo, no tempo de Nabucodonosor, como é apresentado no Livro The Hanging Gardens of Babylon  (RODRIGUES, 2019). Esta forma de disposição das plantas, surgiu em detrimento do crescimento populacional e a ocupação de espaços urbanos pelo homem, onde terrenos horizontais para a plantação da vegetação estão menos disponíveis do que no campo. A montagem de jardins no sentido vertical, trás a ideia de optimização de espaço, permitindo que se continue a obter oxigénio, frescura e a beleza que as plantas proporcionam.

Jardim vertical é um termo utilizado para designar o desenvolvimento de plantas ornamentais sobre estruturas ou compartimentos dispostos verticalmente. Esse desenvolvimento pode acontecer directamente sobre a superfície de paredes localizadas no interior ou no exterior de edifícios, ou até mesmo em estruturas fixas, como grades, prateleiras e estrados (RODRIGUES, 2019).

Este artigo é apresentado com a finalidade de incentivar a criação de espaços verdes, informar os leitores sobre o conceito de jardins verticais, as diferentes tipologias, os seus benefícios e como cada um pode criar jardins nesse formato.

Tipos de jardins verticais

Dentro deste grande grupo designado “jardim vertical” existem duas categorias, cujas denominações variam consoante as características de construção utilizadas – fachadas verdes e paredes vivas ou Living Wall. 

1-Fachadas verdes – consistem na utilização de espécies arbustivas ou herbáceas com comportamento de trepadeiras, que crescem sobre a superfície da parede, de modo a cobri-la por completo.

2-Paredes vivas ou living walls– correspondem a uma categoria que pode ser implementada em espaços interiores ou exteriores de edifícios. São constituídas por mantas geotêxteis, painéis ou módulos pré-fabricados com cavidades ou bolsas de desenvolvimento, onde cada espécie é cultivada num substrato ou outro meio de desenvolvimento artificial individual, suportadas por uma estrutura fixada ou não às paredes.

Benefícios da criação de jardins verticais

A temperatura ambiente nas zonas urbanas pode ser até 6 graus mais alta do que nas zonas rurais, razão pela qual as pessoas estão cada vez mais conscientes da necessidade de um ambiente mais verde e limpo. O desenvolvimento de projectos, construção e manutenção de edifícios tem um grande impacto no ambiente e nos recursos naturais, pois devem considerar o conforto, a saúde e a segurança das pessoas que irão morar ou trabalhar nesses lugares. No século XXI é notável a tendência para a arquitectura verde, onde novos aspectos são incorporados aos projectos para edifícios verdes, trazendo a transição das paredes cinzentas de betão para as verdes (JAIN & JANAKIRAM, 2016)

Independentemente do formato ou posição, os jardins transformam os locais onde são desenvolvidos. Geralmente são escolhidos para lazer com a família e amigos, eternizar momentos e realizar sessões de fotografia. Por isso, além dessa componente estética, RODRIGUES, 2019 menciona vários outros benefícios, como por exemplo:

• Impactos psicológicos – o contacto com a vegetação reduz a taxa de ausências no trabalho, aumenta a produtividade e contribui para as relações entre os usuários do espaço;
• Estética – o jardim vertical pode proporcionar um impacto visual positivo por causa das plantas. A sua estrutura vertical torna a fachada mais apelativa, eliminando ou fazendo passar despercebido o design frio e rígido dos materiais utilizados na construção;
• Melhoria da qualidade do ar – a vegetação do jardim, filtra o ar e absorve as partículas nocivas para a saúde existentes na atmosfera – NO2 (Óxidos de Azoto), SO2 (Dióxido de Enxofre), COV (Compostos Orgânicos Voláteis), CO (monóxido de carbono) e CO2 (dióxido de Carbono);
• Aumento da biodiversidade – proporcionam habitats dentro do espaço urbano, para plantas e animais (particularmente  insectos e aves);
• Diminuição do consumo energético – os jardins verticais funcionam como um isolamento térmico, reduzindo a necessidade de uso de aquecimento ou ar-condicionado, o que leva à redução do consumo de energia. 

BASTOS & FONTES (2016), também abordam vários benefícios da implementação de jardins verticais.

Desvantagens da jardinagem vertical

Embora se tenha a percepção de que existam apenas coisas boas, a jardinagem vertical também possui algumas desvantagens, dentre as quais a dificuldade de manutenção das plantas (regar e podar), erros no projecto e plantio do jardim (dimensionamento incorrecto dos suportes e falta de espaço para a planta desenvolver), que pode levar à danificação das paredes onde o jardim é instalado, pouco desenvolvimento ou morte das plantas de forma precoce. (VALESAN, M; FEDRIZZI, B; SATTLER, M. A, 2010).

Como criar o seu jardim vertical

As famílias que vivem em apartamentos ou casas pequenas, muitas vezes não têm a possibilidade de ter jardins em suas casas, porém, com pequenos elementos, podem ser criados espaços verdes recorrendo a materiais reciclados ou vasos convencionais, em prateleiras ou estrados de madeira fixados na parede.

Comece por:

• Escolher o local (sala, quarto, varanda, quintal);
• Identificar o suporte;
• Seleccionar as plantas e o substrato;
• Montar o jardim vertical.

Plantas usadas em jardins verticais

Existem alguns critérios fundamentais a ter em conta para a escolha das plantas a usar na montagem do seu jardim, como o porte da planta, intensidade da luz e o tamanho das raízes. O porte das plantas e raízes é importante na definição do tipo de estrutura e material a usar, de acordo com o peso e espaço que a planta poderá ocupar. Enquanto a quantidade de luz que a planta recebe garante que ela cresça saudável, por isso na hora de montar o painel vertical devemos verificar se a área desejada recebe muito sol (sol pleno), sol parcial (meia sombra) ou luz solar indirecta (sombra).

Com base nestes critérios, deve-se agrupar as plantas com as mesmas necessidades, para um cultivo e cuidado mais fácil. As plantas pendentes, em cascata ou densas são as mais usadas, por darem um acabamento melhor ao jardim, economizando na quantidade de plantas e cobrindo uma área maior.

Plantas de sol pleno	Plantas de meia sombra	Plantas de sombra
Petúnias (Petunia)	Peperômia-filodendro (Peperomia scandens)	Rhipsalis (Rhipsalis baccifera)
Onze-horas (portulaca)	Samambaia Americana (Nephrolepis exaltata)	Avenca (Adiantum)
Begônia Asa de Dragão (Begonia Boliviensis)	Flor de Cera (Hoya carnosa)	Chifre de Veado (Platycerium bifurcatum)

Angola possui jardins verticais?

Não é comum ver edifícios com fachadas verdes em Angola, ou seja, prédios que possuam cobertura vegetal. Porém, desde que começou a pandemia de COVID 19 as pessoas estão mais preocupadas em criar um ambiente saudável nas suas casas, e isso passa não só pela organização e limpeza, mas também pela criação de jardins. 

Jardins verticais ao redor do mundo

Segundo o site SustentArqui, o maior jardim vertical do mundo está situado em Bogotá, capital da Colômbia e possui cerca de 85.000 plantas exuberantes. Um jardim vertical deste tamanho pode produzir oxigénio suficiente para mais de 3.100 pessoas anualmente, processar 1.708 Kg de metais pesados, filtrar mais de 2.000 toneladas de gases nocivos e capturar mais de 881 Kg de poeira da poluição.

Considerações finais

Em suma, viu-se nesse artigo a oportunidade de apelar às pessoas a se juntarem a esse movimento, criando espaços verdes e cuidando deles. O apoio de um profissional para a criação de bons jardins é recomendável, de modo a evitar o desperdício de recursos como água, solo, adubo e até as próprias plantas. A EcoAngola disponibilizou um guia prático de compostagem que pode auxiliar na produção de adubo orgânico.

O uso de culturas verticais tem sido de grande valia para a criação de hortas verticais e bancos de recursos fitogenéticos, permitindo o cultivo de várias espécies em espaços limitados.

Referências Bibliográficas:

BARBOSA, M. & FONTES, M (2016) Jardins Verticais: Modelos e Técnicas. PARC Pesquisa em Arquitetura e Construção, Campinas, SP, v. 7, n. 2, p. 114-124. ISSN 1980-6809. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/316177364_Jardins_verticais_modelos_e_tecnicas. Acessado: 20/02/2021

DUTTA, P., KARAK, C & MANY, A (2019) Vertical Gardens – An Urban Perspective Horticulture. Agriculture and Food Magazine, Volume 1, Issue 1. Article nº 11001. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/330170308_VERTICAL_GARDENS_-_AN_URBAN_PERSPECTIVE_HORTICULTURE. Acessado a 20/01/2021.

JAIN, R. & JANAKIRAM, T. (2016) Vertical Gardening: A New Concept of Modern Era; Commercial Horticulture, pp 527-536 © 2016, Editors, N.L. Patel, S.L. Chawla and T.R. Ahlawat, New India Publishing Agency, New Delhi, India. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/295646943_Vertical_Gardening_A_New_Concept_of_Modern_Era. Acessado a 20/02/2021.

SARKAR, A. N. (2018) Selection of Plants for Vertical Gardening and Green Roof Farming. International Research Journal of Plant and Crop Sciences ISSN: 1711-3490 Vol. 4 (3), pp. 132-153. Disponível em: http://advancedscholarsjournals.org/full-articles/selection-of-plants-for-vertical-gardening-and-green-roof-farming.pdf?view=inline. Acessado a 20/02/2021.

SCHERER, M & FEDRIZZI, B (2013) Jardins Verticais: Potencialidades para o Ambiente Urbano. Conference Paper in Revista Latino-Americana de Inovação e Engenharia de Produção. Volume 2, Nº 2. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/269200926_Jardins_Verticais_Potencialidades_para_o_Ambiente_Urbano. Acessado em 20/02/2021

RODRIGUES, R. (2019) Jardins Verticais – Utilização para fins terapêuticos. Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Arquitectura Paisagística, pelo Instituto Superior de Agronomia, da Universidade de Lisboa. Disponível em: https://www.repository.utl.pt/bitstream/10400.5/18355/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20de%20Mestrado%20-%20Jardins%20Verticais.pdf. Acessado a 20/02/2021.

VALESAN, M; FEDRIZZI, B; SATTLER, M. A. (2010) Vantagens e desvantagens da utilização de peles verdes em edificações residenciais em Porto Alegre, segundo os seus moradores. Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído. INNS. Porto Alegre.

WOLENS (Sem data) Jardins verticais: conceito arquitetônico que transforma as fachadas dos prédios. Disponível em: https://wolensinc.com.br/blog/jardins-verticais-transforma-as-fachadas-dos-predios/. Acessado a 21/07/2021

https://casaeconstrucao.org/paisagismo/plantas-pendentes/  Acessado a 26/02/2022https://www.ideiasdecor.com)/jardim-vertical/ Acessado a 26/02/2022