Os mangais são ecossistemas naturais tropicais, compostos por espécies de plantas que toleram água salgada geralmente localizados em áreas costeiras. Os mangais são considerados “ecossistemas de carbono azul”, bem como ervas marinhas e pântanos de sal, porque são 10 vezes mais eficientes em absorver e armazenar grandes quantidades de carbono a longo termo, em comparação com ecossistemas terrestres. Isto, torna-os essenciais para o combate às mudanças climáticas, mas mesmo assim, estes encontram-se sobre enorme risco de destruição devido às actividades humanas mundialmente.
Os mangues (árvores que compõem os mangais) adaptaram-se à água salgada, filtrando a água e expelindo o sal através das suas folhas. Existem pelo menos mais de 100 espécies de plantas que habitam nos mangais que têm essa mesma adaptação, e por isso também são chamados de halófitos – plantas que conseguem crescer no solo ou água com a presença de sal.
Em Angola, temos mangais em várias áreas costeiras desde Cabinda ao Cunene, mas muitos destes mangais se encontram destruídos e a precisar urgentemente de restauração e protecção.
Já destruímos 50% dos mangais no mundo só nos últimos 50 anos. Se continuar a este ritmo, os restantes poderão desaparecer nos próximos 100 anos.
Global Mangrove Alliance
Benefícios dos Mangais
Os mangais têm inúmeros benefícios, incluindo benefícios ecológicos e económicos, tais como:
- São local de reprodução para milhares de espécies marinhas, funcionando como um berçário. Este providencia protecção e alimento para peixes e diversos invertebrados como crustáceos e moluscos;
- Os sistemas de raízes dos mangues ajudam a estabilizar o solo, prevenindo a erosão nas linhas costeiras;
- Funcionam como amortecedores costeiros naturais contra tempestades e calemas, bem como diminuem as probabilidades de inundações;
- Ajudam a manter a qualidade da água e a sua claridade, filtrando poluentes e prendendo sedimentos provenientes da costa;
- Algumas espécies de insectos e aves alimentam-se e aninham nos mangues;
- Dão suporte e protecção a muitas espécies em risco de extinção como tartarugas, manatins e algumas aves.
Mundialmente os mangais também são utilizados como um recurso natural renovável. Isto porque muitas destas plantas são compostas por madeira resistente à água, podendo ser utilizadas para a construção de casas, mobília e até de barcos. É importante lembrar que para este recurso ser utilizado desta forma, precisa de ser utilizado de forma sustentável, com replantio e tempo suficiente de recuperação para que não seja destruído. Importante também que sejam delimitadas áreas específicas para este tipo de prática, de forma a não causar desequilíbrios nas outras espécies que deles são dependentes.
Com os benefícios acima mencionados, é notória a importância da conservação destes sistemas naturais para o ser humano como também para outros organismos, contribuindo para a preservação de inúmeras espécies marinhas e terrestres.
O país com a maior quantidade de mangais é a Indonésia, cobrindo cerca de 23.000 km2.
Desafios e Soluções
Mundialmente os mangais têm sido destruídos devido à exploração madeireira e mineira, particularmente para desenvolvimento comercial.
Em Angola, os mangais enfrentam uma destruição massiva devido ao desenvolvimento económico e comercial do país que raramente abrange a componente de conservação ambiental. Muitos dos locais com mangais tornaram-se o destino final de entulhos e esgotos de cidades, bem como enfrentam poluição de resíduos sólidos e líquidos como derramamentos de petróleo entre outros químicos.
Temos como exemplo os mangais do Lobito, que antigamente abrigavam inúmeras espécies de aves, especialmente os Flamingos. Hoje encontram-se num estado grave de destruição. Recentemente também foi observada a destruição de mangais na província do Zaire para a construção de estradas, supostamente para um Porto, como podem ver nas imagens abaixo.
É necessário que nos planos de desenvolvimento do país, comecemos a incluir a protecção de regiões e habitats naturais. No caso do Zaire, soluções como a construção de uma ponte ou o afastamento da estrada deste local, poderiam ser sugeridas no estudo de impacte ambiental. A destruição dos mangais e replantio noutros locais, normalmente não são opções viáveis.
Sendo estes ecossistemas extremamente sensíveis e importantes, requerem mais revitalização do que replantação. Ainda assim, a destruição que enfrentam mundialmente não tem deixado outra alternativa senão o replantio. Ou seja, devemos começar por proteger os mangais já existentes, mas como muitos deles já foram destruídos, o replantio é a única solução para a reconstrução destes ecossistemas.
Também precisamos de começar a efectuar estudos científicos nestas áreas sensíveis para que possamos protegê-las melhor e começarmos a educar e sensibilizar as pessoas sobre os mangais (que espécies habitam nos mangais em Angola, quais são os benefícios dos mangais, como melhorar e continuar a protegê-los de forma eficaz, etc.).
Se tiver interesse em participar em estudos deste tipo, por favor contacte-nos aqui, preenchendo o pequeno formulário e deixando uma mensagem expressando o seu interesse.
Projecto Otchiva Angola
Em entrevista para a EcoAngola, uma das Fundadoras do Projecto de Protecção de Mangais em Angola, Fernanda René, explica como o projecto nasceu, que progresso tiveram na protecção dos mangais de Angola e alguns dos desafios que têm enfrentado.
Fernanda René diz que o Projecto Otchiva começou quando alguns cidadãos do Lobito, província de Benguela, sentiram-se preocupados ao verem o desaparecimento alarmante dos mangais do Lobito. Os lobitangas cresceram a ver o Lobito cheio de Flamingos e custava-lhes acreditar que aquilo estava perto de se tornar apenas uma memória.
além do entulho para construções de empreendimentos como hotéis e casas, também notaram a extinção dos flamingos devido a poluição na água dos mangais. Este grupo de cidadãos não gostaria que os manguais e os Flamingos fossem somente uma história para ser contada aos mais novos. Foi então que tomaram a iniciativa e passaram à acção.
O Projecto Otchiva começou há 2 anos, mas alguns destes cidadãos já haviam tomado iniciativas individualmente para tentar proteger os mangais há pelo menos 4 anos. Durante 2019, o Projecto Otchiva concluiu aproximadamente 20 actividades em Angola. Actualmente o Projecto Otchiva já se estendeu e agora actua em 3 cidades: Lobito, na província de Benguela aonde tudo começou, no Soyo na província do Zaire e em Luanda, incluindo os mangais do Benfica, Ramiros até chegar a península do Mussulo. Só no ano passado, em Luanda, o Projecto Otchiva e os seus voluntários conseguiram reflorestar aproximadamente 100 mil mangues.
Apesar do grande progresso, o projecto também enfrenta alguns desafios. Por exemplo, durante a limpeza de mangais precisam de alguns materiais de limpeza (pás, vassouras) e principalmente de trabalho voluntário. O projecto já tem recebido alguns apoios como o apoio dado pela Administração do Lobito, apoio da Total e especialmente o suporte da sociedade civil, como os voluntários que participam nas campanhas, e organizações independentes como a EcoAngola.
Uma das metas do Projecto é começar a desenvolver investigação científica nos mangais de Angola. Apesar de envolver muitos custos, é com certeza algo que se pretende atingir. Também têm o objectivo de educar a população, em particular as comunidades adjacentes, sobre a importância e benefícios dos mangais para as próprias comunidades. O projecto também criou uma banda desenhada e também precisa de apoios para poder imprimi-la.
O que a EcoAngola está a fazer e o que tu podes fazer
Angola está a tentar unir os esforços de todos os projectos e organizações que primam pela sustentabilidade, conservação ambiental e melhoria do bem-estar social. Criamos o Movimento Verde para que as pessoas e organizações possam dar o seu contributo para juntos enfrentarmos a presente crise ambiental e social que assola o país. Regista-te e junta-te a família do Movimento Verde! Também te podes voluntariar em projectos, campanhas e iniciativas da EcoAngola e organizações associadas. Basta acompanhares as nossas campanhas, eventos e actividades no nosso website e redes sociais – não há desculpas!
A próxima campanha de reflorestação será no dia 01 de Fevereiro de 2020. Pode ler mais informação sobre a actividade e participar seguindo este link.
Ecologista e bióloga ambiental angolana, apaixonada por pessoas, natureza e ciência; focada no desenvolvimento de soluções para a conservação da biodiversidade, direitos humanos e justiça climática, mobilizando para a acção. "Liderança ética e empática é parte do meu "print", e a comunicação carismática é simplesmente a minha maneira de ser".