Tendo em conta as invasões de gafanhotos registadas em Angola nos últimos meses, é de extrema importância abordar esta problemática, a fim de ajudar na compreensão das principais causas, técnicas de prevenção e combate às pragas de gafanhotos.
Um insecto é considerado praga quando uma população grande do mesmo passa a disputar espaços e recursos com o homem, causando prejuízos financeiros e ameaçando a segurança alimentar, através da destruição e devastação das zonas por onde passam.
Taxonomia do gafanhoto vermelho
Reino | Animalia |
Animalia | Insecta |
Ordem | Orthoptera |
Família | Acrididae – gafanhotos |
Género | Nomadacris |
Espécie | Septemfasciata |
Gafanhoto vermelho. Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/Gafanhoto_vermelho
Quando há um elevado número de gafanhotos numa mesma área com condições ambientais favoráveis para a sua reprodução, as espécies de gafanhotos podem tornar-se gregárias, formando assim enxames com a capacidade de destruir amplas áreas agrícolas e/ou florestais.
Os gafanhotos têm preferência por clima quente e seco, factor crucial para a sua reprodução, eclosão dos ovos e desenvolvimento das ninfas. Por outro lado, a precipitação fornece a humidade necessária aos ovos depositados no solo, bem como ao crescimento da vegetação que os alimenta.
As mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global, como temperaturas elevadas, chuvas e ventos fortes, são factores decisivos no ciclo reprodutivo e dispersão dos gafanhotos e da criação das pragas. Com temperaturas e chuvas acima da média, tem-se registado um elevado aumento no número de ovos depositados e eclodidos, bem como o crescimento destes devido ao maior fornecimento de alimento. Por outro lado, o aumento da temperatura global e regional tem provocado estações frias mais quentes, aumentando o número de gerações que nascem no mesmo ano.
Um outro factor importante, é que a desflorestação leva ao desaparecimento de muitos predadores naturais dos gafanhotos, o que facilita a existência de elevadas populações destes.
Principais problemas causados por estas pragas
As pragas de gafanhotos representam uma séria ameaça à segurança alimentar e social das populações, uma vez que danificam e devastam as culturas e pastagens com bastante rapidez, consequentemente aumentado os níveis de fome no planeta, diminuindo as fontes de receitas dos produtores e comerciantes, contribuindo para o aumento do nível de desemprego e elevando o índice de pobreza e miséria das populações.
Para se ter uma noção, estes insectos conseguem consumir plantações a uma velocidade extremamente rápida, o equivalente ao seu próprio peso (cerca de 2g) diariamente. Segundo a FAO, 1km2 de enxame pode conter até 80 milhões de adultos que consomem a mesma quantidade de alimento (160 toneladas) que 35.000 pessoas num dia.
Combate às pragas
Muitos países enfrentam muitas dificuldades no combate contra as pragas de gafanhotos e continuam com dificuldades em conter a sua explosão populacional. De facto, a forma mais eficaz de evitar danos é o controlo preventivo.
Assim, algumas das acções que podem ajudar nessa prevenção e combate são:
- Alocar recursos para perceber como as condições climáticas estão a influenciar a reprodução dos gafanhotos no Sul;
- Monitorizar como e onde os gafanhotos se estão a reproduzir, para poder escolher o melhor método de combate (via aérea ou terrestre, aérea pela fumigação e terrestre costuma ser com a aplicação de pesticidas em locais estratégicos, particularmente os locais de reprodução). O ideal é fazer a monitorização constante e sustentável a longo prazo;
- Apostar em soluções ambientalmente sustentáveis, como pesticidas biológicos, introdução de predadores naturais no ambiente, entre outros. É muito importante ter atenção e cuidado com a utilização de pesticidas, utilizando apenas aqueles recomendados para o combate a este tipo de pragas, para que depois não afectem outros insectos, particularmente os insectos polinizadores que muito se precisa para a agricultura;
- Criar um plano de acção a curto, médio e longo prazo, com planos preventivos;
- Investir na formação de profissionais e técnicos especializados em monitorização e combate a pragas a nível nacional/regional;
- Aumentar a comunicação com países também afectados por este problema, para que haja um maior fluxo de informação, relativamente a estudos e estratégias adoptadas para o combate e prevenção.
É urgente que se previna e minimize este problema, cabe a todos agir em prol das soluções, para que os danos sejam cada vez menores e as pragas não se alastrem por todo o país. É necessário que cuidemos do planeta para revertermos o actual quadro climático e assim combatermos esta e outras calamidades.
Referências bibliográficas
Mudança do clima pode tornar “nuvens de gafanhotos” mais frequentes. ClimaInfo, Brasil, 3 de julho de 2020. Disponível em: https://climainfo.org.br/2020/07/03/mudanca-do-clima-pode-tornar-nuvens-de-gafanhotos-mais-frequentes/
Praga de gafanhotos já afecta cinco províncias do país e coloca em risco a campanha agrícola. Ver Angola. 19 de Maio de 2021. Disponível em: https://www.verangola.net/va/pt/052021/Ambiente/25552/Praga-de-gafanhotos-já-afecta-cinco-prov%C3%ADncias-do-pa%C3%ADs-e-coloca-em-risco-campanha-agr%C3%ADcola.htm
Desert Locust. FAO. 2021. Disponível em: http://www.fao.org/locusts/en/
Praga de gafanhotos assola calai. Jornal de Angola. 29 de Março de 2021. Disponível em: https://jornaldeangola.ao/ao/noticias/praga-de-gafanhotos-assola-calai/
Erica Tavares, Bióloga Ambiental e Directora Executiva da EcoAngola.
Liliane Machado, Mestre em Gestão e Valorização de Recursos Naturais, com especialidade em Entomologia, Coordenadora do Projecto "Tudo se transforma".
Luiana Guerra, Voluntária e Assistente Executiva da EcoAngola.