A tendência global de emergência e transição energética que o mundo está a viver passa necessariamente pela produção e consumo de energia. A evolução desse consumo e da população faz com que a energia elétrica seja considerada como um elemento de bem-estar para as comunidades actuais. Alinhado a isso, Angola entra na rota dos países que procura a adoção de novas tecnologias de energias, fundamentalmente as energias renováveis ou de fontes limpas, para o cumprimento das resoluções, acordos e protocolos das convenções de desenvolvimento sustentável para as nações.
“O planeamento energético é hoje um dos aspectos estratégicos fundamentais para o desenvolvimento de qualquer região e país” (Reis, 2011), tal como a educação energética, num contexto de crescimento exponencial da população e das suas necessidades, a fim de proporcionar segurança de consumo, qualidade de vida e crescimento sustentável.
Este artigo foi escrito com o objectivo de promover a consciencialização sobre o uso racional de energia eléctrica às comunidades de Angola, bem como disponibilizar conteúdo teórico para o sector de energia.
Educação energética
Entende-se educação energética como sendo a capacidade de educar ou instruir, por meio de boas práticas, a utilização racional de energia. A educação e ensino energético são vectores fundamentais para alcançar o desenvolvimento das comunidades mais pobres e vulneráveis, porém, é necessário o diagnóstico e o estabelecimento de uma orientação e cultura energética a todos os níveis da população. É preciso educar as nossas comunidades para a utilização racional de energia (URE), ou seja, consumo inteligente de electricidade.
Vantagens da educação energética
Vale salientar aqui algumas das vantagens em relação à adoção e implementação de uma boa educação energética:
- Consciencialização em eficiência energética;
- Redução da despesa com a energia eléctrica;
- Consumo inteligente e eficiente.
Ou seja, estaríamos a ser menos eficientes no uso da energia. Por isso, o consumo desordenado e desorientado deve ser vencido por meio da educação e ensino nas comunidades, em economia e eficiência na utilização da energia.
Falta de instrução energética
A grande preocupação para o desenvolvimento de qualquer comunidade, cinge-se à falta de instrução, formação e informação, provocando gastos frequentes com a despesa de luz, desperdício e consumo desordenado de electricidade.
Exemplos:
1) Manter lâmpadas acesas durante o período diurno em ambientes desocupados;
2) Comprar aparelhos electrónicos sem saber o quanto consomem de energia;
3) Manter a televisão ligada durante todo o dia;
4) Ligar os aparelhos de ar condicionado quando a temperatura ambiente não está tão quente (acima de 27º C) e mantê-lo ligado quando tiver fora do ambiente por muito tempo;
5) Colocar alimentos quentes em frigoríficos;
6) Banhos demorados no uso de chuveiros com água quente, entre outros.
O ciclo ECO Energético baseia-se na interacção dos conceitos fundamentais de educação, cultura e orientação energética, para garantia de sustentabilidade para próximas gerações em relação às ciências e tecnologias de energia. O futuro energético para as comunidades passa pela sua educação, cultura e orientação em relação à utilização dos recursos energéticos.
Barreiras à educação
- Indiferença em relação ao consumo de energia;
- Incompreensão e dúvidas das ciências energéticas;
- Falta de programas de eficiência energética para comunidades;
- Falta de recursos didácticos e investimento em educação energética.
É importante que hajam excelentes índices de produção de electricidade, de modo a acelerar o crescimento e desenvolvimento das comunidades, mas isso não é suficiente. É imperioso que se tenha um consumo de energia eléctrica orientado e fundamentado numa cultura de consumo sustentável, onde a implementação de boas práticas deve ser precedida pela preparação das comunidades através do ensino localizado, palestras, encontros, teatro, produção de conteúdos locais, entre outros. Na imagem abaixo, pode-se ver a campanha de educação energética para crianças, lançada pela Empresa Nacional de Distribuição de Electricidade (ENDE E.P.), aos 02 de Junho de 2019, no intuito de desenvolver e marcar os primeiros passos a nível nacional em educação, cultura de uso racional e seguro de energia.
Algumas boas práticas…
Algumas das boas práticas de um programa individual de eficiência energética e educação são:
- Verificação das indicações ou características dos aparelhos eléctricos no acto de compra (ver imagem abaixo);
- Substituição de lâmpadas incandescentes por lâmpadas do tipo LED e fluorescentes compactas de menor consumo (potência); [2]
- Estabelecer uma meta diária de consumo de electricidade;
- Estabelecer o tempo (horário) de uso dos equipamentos, em função da necessidade de consumo;
- Para crianças, coloque meta e recompensa por gestão simples no consumo (exemplo: não deixar lâmpadas ligadas desnecessariamente).
Para concluir, é importante referir que educar as comunidades nas boas práticas quotidianas no consumo de energia significa agregar hábitos, costumes e valores inegociáveis para um consumo sustentável.
É importante apostar num plano ou programa de educação, voltado para a eficiência energética, quer para benefício sistémico, como residencial e industrial. Para melhores índices de consumo em energia, é fundamental a adoção de medidas de aquisição de conhecimento a partir das classes fundamentais de ensino, como o ensino primário e o ensino secundário, de forma a assegurar a sustentabilidade da sociedade.
Referências bibliográficas
[1] Coelho, B. R. (2018), Guia de Boas Práticas de Eficiência Energética no Setor Residencial https://core.ac.uk/download/pdf/185275898.pdf. Acesso 03/02/2021.
[2] Ecco, I. e Nogaro, A (2015). A educação em Paulo Freire como processo de humanização. https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2015/18184_7792.pdf. Acesso 05/02/2021.
[3] FUNIBER (2018). Introdução às energias renováveis. Luanda, Angola: Fundação Universitária Iberoamericana.
[4] Ornellas, A (2006). Energias dos tempos antigos aos dias atuais. http://www.ufal.edu.br/usinaciencia/multimidia/livros-digitais-cadernos-tematicos/A_Energia_dos_Tempos_Antigos_aos_dias_Atuais.pdf. Acesso 05/02/2021.
[5] Portal de Angola (s.d.). (2019). https://www.portaldeangola.com/2019/06/02/ende-lanca-campanha-de-educacao-energetica-para-criancas/. Acesso: 03/02/2021.
[6] Reis, L. B. (2011). Geração de energia elétrica (2ª ed.). Barueri, São Paulo: Manole.
Hermes Tavares Calongo é Mestrando em Energias Renováveis, Engenheiro
Electromecânico, e técnico em Energia Solar Fotovoltaica.
É também técnico de manutenção mecânica em Energia Hídrica de aproveitamento Hidroeléctrico.