Grande parte das decisões que tomamos no presente são a pensar no futuro, quer seja um futuro próximo ou distante. Num futuro que queremos que seja melhor que o presente. Mas e se as decisões que tomamos no presente pusessem em perigo este mesmo futuro que todos sonhamos? É preocupante, mas é precisamente isto que está a acontecer.
Os automóveis têm um painel de controlo que mostra as condições mecânicas e físicas das viaturas, avisando-nos sobre falhas ou determinadas condições que requerem algum tipo de acção para prevenir futuras falhas. Podemos ignorar estes sinais, mas mais tarde ou mais cedo o automóvel vai deixar de funcionar correctamente, e eventualmente vai deixar de funcionar.
O mesmo acontece com a Natureza, pois ela tem estado a dar-nos vários sinais, mas que nem sempre são compreendidos ou são simplesmente ignorados. E se a Natureza deixar de “funcionar” não teremos futuro. Mas nós somos seres de hábitos e seguidores da maioria. Preferimos tomar decisões que tenham uma relação directa com resultados rápidos e visíveis. Ignoramos os sinais da Natureza, que nos avisam sobre problemas de uma escala muito maior, cuja responsabilidade não queremos assumir, quanto mais fazer parte da solução.
As mudanças climáticas, as queimadas, a perda de biodiversidade, o aumento da poluição, a degradação dos solos, a desertificação, a seca, a morte dos recifes de coral e a exaustão dos recursos naturais, são algumas das consequências das decisões e acções que nós tomamos, supostamente a pensar no nosso futuro. Os sinais são bem visíveis e têm-se intensificado ao longo dos últimos anos. Alguns cientistas já falam em extinção em massa de espécies e colapso de ecossistemas na natureza.
Em Angola o quadro é preocupante e está a tornar-se crítico. É necessário uma intervenção urgente e concertada. Na imagem abaixo, descrevemos o quadro ambiental de Angola.
Muito se tem falado sobre a desflorestação, queimadas, desertificação e seca. Neste artigo vamos abordar a exaustão dos recursos naturais do planeta, um dos maiores desafios da humanidade, mas que não tem recebido a devida atenção, mesmo com todas as consequências que possam daí advir.
O gráfico abaixo mostra o impacto do ser humano nos ecossistemas do planeta, através da pegada ecológica por pessoa (o consumo dos recursos naturais por pessoa) e a biocapacidade (a disponibilidade de recursos naturais).
Desde 1970 que o planeta está em défice ecológico, ou seja, estamos a usar mais recursos naturais do que aqueles que a natureza pode regenerar. Com a população e a economia mundial em constante crescimento, aumentam também as necessidades de energia e recursos naturais.
A escassez de recursos é exacerbada pelo crescimento populacional, pelas mudanças climáticas, pela desflorestação, desertificação, poluição e outras formas de degradação do ambiente.
Que recursos naturais estão ou poderão escassear no futuro e quais são as consequências?
Um dos recursos naturais mais importantes para a vida no planeta é a água doce, que somente representa 2.5% do volume de água total no planeta, estando 70% desta em forma de gelo e neve. Em breve as necessidades de água doce irão superar a disponibilidade deste importante recurso. De acordo com o programa das Nações Unidas para a água (UN Water), mais de 2 mil milhões de pessoas (mais de ¼ da população do planeta) vive em países com escassez de água.
Minerais raros, o petróleo, alimentos, e os solos aráveis, poderão também escassear num futuro próximo, potencialmente contribuindo para instabilidade social e conflitos violentos.
Como estamos a fazer uso dos recursos naturais em Angola?
Angola ainda não tem uma indústria transformadora significativa para transformar os nossos recursos naturais em produtos para consumo ou exportação. Mas alguns dos recursos naturais mais valiosos que Angola tem estão a ser devastados a uma velocidade alarmante, comprometendo o bem-estar social das futuras gerações.
O gráfico abaixo mostra o declínio da biocapacidade e um ligeiro aumento da pegada ecológica por pessoa em Angola. O declínio da biocapacidade (recursos naturais disponíveis) por pessoa tem sido gradual e contínuo desde os anos 60, devido ao crescimento populacional (um dos maiores do mundo, atingindo os 3.2%), e exacerbado pela desflorestação, queimadas, degradação dos solos e a seca.
A este ritmo de crescimento populacional e consumo dos recursos naturais, em breve Angola poderá passar a deficitária ecológica, comprometendo assim o bem-estar das futuras gerações.
Há muito que se fala na economia circular como forma de mitigar a questão da exaustão dos recursos naturais. Na Europa, a reciclagem dos resíduos urbanos atingiu já uma média próximo de 50%, mas em Angola esta percentagem é quase zero, o que torna a gestão dos resíduos urbanos mais difícil e com um maior impacto sobre o ambiente e a sociedade. Por outro lado, é necessário educar os consumidores de forma a serem mais responsáveis nas suas escolhas e no seu consumo. Cada um de nós deve fazer os possíveis para reduzir a sua pegada ecológica, reduzindo o consumo de energia, água, e outros recursos não renováveis.
Se não houver uma intervenção das autoridades através de políticas públicas de conservação do ambiente, projectos de restauração das áreas afectadas, e uma mudança de atitude por parte da população em geral, as consequências serão ainda mais graves, afectando a saúde pública, o turismo, agravando a condição económica e social da população, e desencadeando migrações, conflitos violentos, fome e sofrimento.
Não nos podemos deixar levar pelo conformismo e pelo medo de querer ser e fazer diferente. É necessário coragem para reconhecer que somos parte do problema e fazermos parte da solução. Só mudando o nosso comportamento e as nossas decisões, é que podemos mudar a trajectória do nosso país e do nosso planeta em direcção a um futuro melhor. Juntos podemos fazer a diferença!
Aqui vão algumas recomendações para todos os cidadãos de Angola e do mundo, pois é o nosso futuro que está em jogo, e a sustentabilidade começa com as nossas decisões e acções diárias:
- Reduzir o consumo, reusar e reciclar sempre que possível
- Adoptar hábitos de alimentação, locomoção, e consumo mais sustentáveis.
- Reduzir o uso de plásticos descartáveis (sacos, palhinhas, copos, etc.).
- Tomar decisões e fazer escolhas sempre tendo em conta o seu e o nosso futuro, a curto e longo prazo. Tomar decisões tendo em conta o que considera moralmente correcto.
- Ajudar a promover a sustentabilidade e conservação ambiental. Pode começar por aderir ao Movimento Verde da EcoAngola, assumindo o compromisso ambiental e partilhando com os seus colegas, familiares e amigos.
Temos também algumas recomendações para as autoridades de Angola:
- Substituir os combustíveis fósseis por energias renováveis. Angola tem um grande potencial para energias renováveis que ainda se encontra pouco explorado.
- Adoptar políticas que obriguem os novos edifícios a usarem materiais, equipamentos e modelos sustentáveis – que usem menos energia e poluam menos.
- Implementar um sistema de transportes públicos eficiente.
- Fiscalizar e monitorar as empresas e indústrias, aplicando multas aos que violam as leis ambientais, com obrigação de restaurar o ambiente.
- Acabar com as queimadas anárquicas, travar a desflorestação e reflorestar as zonas desflorestadas.
- Adoptar processos industriais que usem práticas sustentáveis com mínimo impacto no ambiente.
- Combater o garimpo ilegal de diamantes, principalmente ao longo dos rios.
- Adoptar práticas agrícolas sustentáveis (os agrotóxicos são extremamente nocivos para o ambiente).
- Promover a economia circular, com ecopontos, reciclagem e um sistema de gestão de resíduos integrado e sustentável.
- Taxar os sacos de plástico (e outros plásticos de uso único) a curto prazo e proibir a sua produção e comercialização dentro de um período máximo de dois anos. Podemos aprender com outros países Africanos que já implementaram estas medidas (Ruanda, Quenia, Tanzania, etc.).
- Reforçar a protecção dos parques e áreas protegidas.
- Promover o ecoturismo sustentável, criando emprego, ajudando a conservar as áreas protegidas e gerando receitas para o estado.
- Implementar um programa de educação e consciencialização ambiental a nível nacional.
Se todos fizermos a nossa parte, podemos mudar a actual trajectória de destruição do planeta. Junto podemos fazer a diferença, por uma Angola mais verde e mais sustentável.
A Eco Angola é uma organização que promove a sustentabilidade com objetivo de preservar o ambiente e promover o bem estar social.