O petróleo é um combustível fóssil de cor escura, menos denso que a água, formado a partir de uma combinação de diversos hidrocarbonetos. É encontrado em reservatórios que ficam abaixo de várias camadas de sedimentos tanto no mar como na terra, principalmente em bacias sedimentares (onde se encontram meios mais porosos).
Nos últimos anos o petróleo tem sido cada vez mais explorado por ser um recurso energético e o maior gerador de divisas para a economia de muitos países, incluindo Angola. No entanto, as actividades que envolvem a exploração e utilização deste recurso têm elevados impactos ambientais.
A indústria petrolífera é um ramo da indústria química que utiliza grandes quantidades de petróleo e seus derivados, como matéria-prima para o fabrico de uma variedade de produtos de relativo baixo custo.
Já imaginou como seria a vida sem o uso de pneus, calçados e cosméticos?
Pois bem, a indústria petrolífera é responsável pela produção destes e muitos outros itens que utilizamos no nosso dia-a-dia, como os plásticos, detergentes, medicamentos, insecticidas, tintas, explosivos, corantes e a borracha sintética – tudo tendo como base o petróleo e derivados.
Impactos Ambientais
A utilização do petróleo e outros combustíveis fósseis são uma das maiores causas das alterações climáticas. Milhões e milhões de toneladas de gases nocivos como o dióxido de carbono (CO2), são libertados para a atmosfera durante a produção e utilização de combustíveis fósseis. Esta enorme emissão contribui para o efeito estufa e consequente para o aquecimento global. Durante o processo de extracção de petróleo, é comum também haverem derrames, causando poluição marinha ou dos solos.
Maré negra: causas e consequências
As marés negras são grandes manchas que se encontram nos oceanos causadas pelo derrame de petróleo ou dos seus derivados.
Anualmente, são derramados nos oceanos cerca de 3.000.000 de toneladas de petróleo e na maioria ocorrem devido as actividades feitas em alto mar, como o transporte de petróleo, lavagens de tanques/reservatórios e acidentes de petroleiros.
Estas marés negras, além de comprometerem a qualidade do solo, do ar e das águas, causam diversos transtornos à muitos seres vivos:
- A camada de hidrocarbonetos formada na superfície da água impede a entrada de luz, reduzindo a taxa de fotossíntese das plantas marinhas, bem como as trocas gasosas entre o oceano e a atmosfera. Este fenómeno diminui a quantidade de oxigénio dissolvido na água, provocando asfixia de diversos espécies marinhas que dependem de oxigénio.
- Provocam a morte de aves marinhas devido à libertação de gases que ocorre, e através da ingestão de petróleo quando mergulham e pousam no mar. Estas aves podem ainda morrer afogadas, uma vez que quando cobertas com petróleo ficam demasiado pesadas para nadar ou voar.
- O forte cheiro do petróleo interfere com o olfacto dos animais que dependem dele para localizarem o seu grupo. Isso faz com que muitos filhotes sejam abandonados e eventualmente podem acabar por morrer.
- Os mamíferos marinhos precisam de vir à superfície para respirar e correm o risco de serem contaminados, sem esquecer que o petróleo também pode cegá-los, tornando-os indefesos.
- Se o petróleo atingir o solo, os terrenos ficam estéreis por vários anos, especialmente se não se fizer uma limpeza/tratamento.
- O consumo de animais contaminados pelo petróleo, por parte dos humanos, provoca grandes problemas de saúde pública (como a intoxicação aguda), que podem levar à morte.
Esta destruição da fauna e flora para além de causar danos ambientais, causa também danos à sociedade. A destruição dos ecossistemas provoca enormes prejuízos à actividade pesqueira, aquacultura e ao turismo. Isto acontece porque os resíduos petrolíferos são de difícil remoção e impedem a utilização das praias por exemplo, o que impacta o turismo e pode consequentemente aumentar a da taxa de desemprego.
Derrames de petróleo em Angola e suas consequências
No ranking dos maiores produtores de petróleo de África, Angola encontra-se em segundo lugar e situa-se numa importante zona de tráfego marinho. É importante falarmos que Angola já teve vários derrames de petróleo ao longo da Costa mas estes não foram reportados pela autoridades e órgãos de comunicação social e também casos em que as autoridades não conseguiram identificar a origem destes derrames.
Cabinda já registou vários derrames graves de petróleo como foi em 2001, 2011 e 2015 pela Chevron e, em 2019 pela Somoil.
Mais recentemente, no dia 1 de Fevereiro de 2020 foram detectadas manchas de petróleo nas praias da Quinfuquena, no município do Soyo, província do Zaire, e que avançaram até a província de Cabinda. Estas ocorrências têm afectado drasticamente o ecossistema do Parque Nacional do Maiombe nas mais variadas vertentes. Segundo os pescadores e populares da região, os derrames provocaram a morte de algumas espécies raras de animais marinhos em Cabinda, com destaque para as tartarugas e baleias, e podem ser um dos factores causadores do desaparecimento dos mangais da foz do rio Chilongo.
Para além das consequências ecológicas, os derrames de petróleo no mar de Cabinda, deixaram centenas de famílias privadas das suas fontes de rendimento e uma parte da população foi obrigada a deixar aquelas localidades devido ao forte cheiro de petróleo.
Para além disto, os pescadores devem interromper as actividades pesqueiras aquando da ocorrência de derrames. Isto para não haver o risco de fornecer peixe contaminado às populações, que pode provocar mortes em grande escala por intoxicação.
Estes desastres ecológicos também têm elevado custo económico pois as operações de limpeza são muito caras e há a necessidade de compensar os efeitos económicos provocados pelos mesmos, como o pagamento de subsídios de desemprego aos afectados.
Como mitigar as consequências dos derrames de petróleo?
Os mecanismos de degradação do petróleo ainda precisam de mais estudos e isso faz com que o combate aos derrames seja pouco eficaz. O petróleo só se degrada naturalmente devido a fenómenos de oxidação e evaporação mas que demoram centenas ou até mesmo milhares de anos. Por isso, a única solução efectiva nesse momento é a prevenção:
- Fazer cumprir a legislação ambiental como o Decreto n.º 39/00, de 10 de Outubro (que regula a protecção do Ambiente no decurso das actividades petrolíferas), bem como o Decreto executivo n.º 11/05 de 12 de Janeiro (regulamento sobre os procedimentos de notificação da ocorrência de derrames);
- Criar contactos para denúncias de derrames de petróleo por parte das autoridades fiscalizadoras;
- Desenvolver métodos de transporte de petróleo mais seguros;
- Fiscalizar de modo contínuo os navios que se encontrem em águas continentais.
Entretanto, nenhum esforço será suficiente se não houver mudança na consciência de quem trabalha directa ou indirectamente no sector petrolífera. É necessário que se façam campanhas de consciencialização sobre os impactos causados pela indústria petrolífera, para que os cidadãos também tenham noção de que é o nosso consumo que leva a perfuração e produção de mais derivados de petróleo. É ainda fundamental que entendamos a importância que cada ser vivo tem no planeta e que compreendamos que a destruição de qualquer espécie e seu habitat, afecta directamente a nossa vida.
Colaborador voluntário da EcoAngola e estudante de Engenharia Química no Instituto Superior Politécnico Katangoji (ISPK).
"Tenho prazer em contribuir e aplicar os meus conhecimentos de química para ajudar na preservação do ambiente, e proteger a biodiversidade."