No dia 1 de Maio de 2020 realizou-se o IIIº café ecológico virtual através da plataforma Zoom, que contou com a presença de especialistas e mais de 40 participantes. O encontro teve como tema “as alterações climáticas” e foi moderado pela bióloga e Directora Executiva da EcoAngola, Erica Tavares, que recebeu como oradores:
- Vilma da Silva – Bióloga, que abordou sobre a importância da vegetação no combate às alterações climáticas;
- Ariete Albino – Estudante de engenharia dos recursos naturais e Ambiente, que abordou sobre a seca/desertificação, projecto de sistema de irrigação sustentável;
- Celso Paulo – Biólogo marinho, que abordou sobre a acidificação dos oceanos.
Introdução
Como moderadora, Érica Tavares deu abertura ao encontro e começou por recordar-nos que as alterações climáticas são consideradas naturais e que fazem parte do processo de evolução do planeta terra, mas ainda assim, em milhares de anos não foram observadas alteração tão rápidas como as dos anos actuais, relacionando com a intensificação das actividades económicas e o exponencial crescimento populacional.
A intensificação da actividade fabril, a desflorestação, práticas agropecuárias pouco sustentáveis, são algumas das actividades que contribuem para o aumento da concentração de gases que nos conduzem ao efeito estufa e consequentemente aqo aquecimento global.
É importante lembrar que estas mesmas actividades não só afectam o ambiente como também afectam a saúde do Homem.
O mês de Julho do ano de 2019 foi considerado o mês mais quente dos últimos 140 anos.
Consequências actuais e consequências futuras
- As actividades económicas levarão ao aumento da degradação ambiental e consequente aumento da concentração dos gases estufa;
- Constatação do aquecimento global com o aumento da temperatura média em todo planeta (+ 2 graus celsios);
- Mudanças dos padrões de precipitação;
- Maior frequência e intensidade de furacões;
- Secas severas;
- Derretimentos dos glaciares (é esperado que o oceano ártico não tenha gelo durante o verão ainda antes do ano de 2050);
- Aumento acelerado do nível médio que pode lidar ao desaparecimento de porções de terra;
- Mudanças das estações climáticas;
- Ondas de calor cada vez mais intensas;
- Movimento de espécies.
Importância da vegetação no combate às alterações climáticas
A bióloga Vilma da Silva, introduziu o tema citando algumas das actividades humanas que contribuem para a produção, concentração e crescimento de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, citando em seguida a relação existente entre a vegetação e o clima.
Uma vez que as plantas são agentes activos no processo de descarbozinação atmosférica e actuam de igual modo na manutenção da biodiversidade, é necessário entendermos a sua biologia e funções.
No seu processo fotossintético, as plantas conseguem absorver o dióxido de carbono (CO2) existente na atmosfera e libertar o oxigénio (explicação detalhada no YouTube). É importante lembrar que o dióxido de carbono não é o único contribuinte para o efeito estufa e alterações climáticas.
Recomendações
Para combater as alterações climáticas e aumentar a cobertura vegetal, a bióloga propôs:
- Reflorestar, para a recuperação de florestas e crescimento dos biomas e arborizar cidades com árvores nativas e adaptadas;
- Práticas agrícolas mais sustentáveis e energeticamente mais limpas;
- Diminuição dos abates florestais, exploração de madeira sustentável, consciencialização;
- Criação de redes globais de monitorização da diminuição e aumento da vegetação.
Seca e desertificação – Projecto de sistema de irrigação sustentável
Foi apresentada por Ariete Albino, estudante de engenharia dos recursos naturais e ambiente, a problemática da desertificação, sendo um processo que consiste na redução de cobertura vegetal e da capacidade produtiva do solo, resultado do mau uso dos solos e água e por outro lado, também um processo incentivado pelas alterações climáticas.
Apesar das alterações climáticas serem um dos grandes problemas da actualidade, as actividades humanas assumem um papel principal no alastramento da desertificação.
As actividades humanas têm levado a redução e/ou eliminação da vegetação, diminuição da biodiversidade, salinização e alcalinização dos solos, aumento do processo erosivo, surgimento de terrenos arenosos, entre outros.
Os problemas relacionados com a seca têm enorme repercussão na economia de um país e na população nele envolvida, pois os longos períodos de seca seguidos de épocas de cheias, estão na base do alastramento das zonas desérticas e uma vez que são zonas com pouca presença de vegetação, dificultam o processo do ciclo hidrológico.
Como forma de mitigação, Ariete Albino propôs:
- Medidas de reflorestamento;
- Aplicar estratégias de controlo do movimento das dunas de areia;
- Rotação de culturas para deter o avanço dos desertos;
- Implementação de jalkunds, que são reservatórios já utilizados na Índia, para recolher e reservar a água das chuvas.
Projecto sistema de irrigação sustentável
O projecto de irrigação sustentável foi elaborado por Ariete Albino junto dos seus colegas de faculdade com o objectivo de dar respostas e soluções aos problemas causados pela seca no sul do País, e propõe a criação de um sistema de irrigação por gotejamento que será abastecido por um aquífero artificial, de formas a possibilitar o aproveitamento do potencial agrícola da comuna.
O projecto conta como área de implementação a comuna de Xangongo, do município de Ombadja, localizado na província do Cunene que possui 63,086 habitantes dos quais 70% encontra-se em zonas rurais, e uma vez que Cunene não é só conhecido pela seca mas também pelas cheias (detalhes do projecto no YouTube).
Acidificação dos oceanos
Celso Paulo, Biólogo marinho, falou sobre a acidificação dos oceanos, que é causada pela elevada presença de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera onde cerca de 25% à 30% deste dióxido de carbono entra em contacto com os oceanos, causando a alteração da sua composição química e alterando o pH da água, tornando-a mais ácida e alterando também por consequência as características físicas e químicas de muitos organismos marinhos.
O biólogo olustrou-nos que com o crescimento da produção de dióxido de carbono, até o ano de 2100 os oceanos poderão apresentar um PH de 7.85, indicando o aumento da acidificação dos oceanos.
A zona costeira sul do país, mais propiamente a sul da província do Namibe, apresenta mais alterações no nível de PH por presenciar maior ocorrência de afloramentos costeiros resultantes do encontro de correntes quentes e frias.
Impactos da acidificação dos oceanos
- Alteração da cadeia alimentar nos ecossistemas marinhos o que reduzirá automaticamente a oferta de recursos para o homem;
- Alteração nas características físicas e químicas de muitos organismos aquáticos como os recifes de coral;
- Desequilíbrio da biodiversidade;
- Diminuição da produtividade dos ecossistemas, entre outros.
O que pode ser feito?
- Educação ambiental;
- Adopção de políticas sustentáveis;
- Implementação de legislações mais rigorosas;
- Mudança de mentalidade.
Para finalizar, a moderadora Erica Tavares falou sobre a sua pesquisa que visa a identificação de áreas prioritárias de conservação em Angola sob a influência das alterações climáticas até o ano de 2070.
As áreas protegidas são vistas como uma chave para a conservação da biodiversidade e de espaços naturais.
A Convenção de Biodiversidade Biológica (CBB) tinha como alguns dos objectivos até 2020 de proteger até 17% das áreas terrestres protegidas e proteger 10% das áreas marinhas protegidas. Para objectivos após 2020 a mesma pretende proteger até 30% das áreas terrestres e marinhas protegidas e ter até pelo menos 10% das áreas extremamente protegidas. Angola possui até ao momento 9 parques nacionais, 1 parque regional e 4 reservas integrais.
Estes parques e reservas constituem apenas 12,6% de áreas terrestres protegidas e 0% de áreas marinhas protegidas, pouco planeamento, pouca gestão, e ausência de orientação científica, o que impossibilita atingir os objectivos propostos pela CBB.
A pesquisa tem como objectivos:
- Identificar a quantidade de espécies que estejam dentro das áreas protegidas;
- Identificar áreas prioritárias para a expansão de novas áreas protegidas (Qual o total de áreas necessárias para proteger as espécies agora e no futuro?);
- Avaliar como as mudanças climáticas influenciam essas propriedades (Que locais prioritários se sobrepõem?).
Tendo em conta o crescimento das emissões de carbono no nosso país, espécies endémicas como o Turaco-de-crista-vermelha, poderão até o ano de 2070 apresentar uma redução bastantes preocupante, e até mesmo uma grande possibilidade da espécie extinguir-se. Para concluir, a bióloga reforçou que com este estudo tenciona auxiliar em:
- Aumentar a proteção da biodiversidade terrestre em Angola;
- Atingir os objectivos de conservação internacionais;
- Proteger as espécies e habitats naturais tendo em conta a influência das mudanças climáticas.
Propondo ainda soluções para a redução das alterações climáticas, como:
- Substituir os combustíveis fósseis por energias renováveis;
- Travar as desflorestação e reflorestar as zonas desflorestadas;
- Reduzir o consumo de carne;
- Ajustar/adaptar os processos industriais para práticas mais sustentáveis;
- Aplicar práticas agrícolas sustentáveis;
- Reduzir o nosso consumo, reutilizar e reciclar;
- Promover a sustentabilidade e conservação ambiental;
- Promover o ecoturismo sustentável.
Agradecemos a todos os participantes que nos honraram com a sua presença e informamos que iremos dar continuidade aos Cafés Ecológicos virtuais! O próximo Café será no dia 30 de Maio de 2020 e terá como tema a agricultura sustentável.
Juntos para uma Angola mais verde e sustentável!
A Eco Angola é uma organização que promove a sustentabilidade com objetivo de preservar o ambiente e promover o bem estar social.