O que é a biodiversidade?
Biodiversidade significa riqueza e variedade de formas de vida, desde as espécies até aos genes e habitats, englobando os ecossistemas terrestres, marinhos e outros meios aquáticos.
A biodiversidade é extremamente vasta e ainda muito desconhecida, mas sabemos hoje que o seu equilíbrio é fundamental não só para a estabilidade do meio natural, mas também para o desenvolvimento social, económico e cultural da humanidade. Apesar disso, o homem é o principal responsável pela sua destruição.
Estima-se que existam entre 8 a 10 milhões de espécies mas apenas 1.7 milhões estão catalogadas e descritas.
A biodiversidade está em todos os lugares do planeta.
Diversidade de ecossistemas
Um ecossistema pode ser entendido como um sistema complexo e dinâmico de comunidades vegetais, animais e de microrganismos e a sua interação com os meios abióticos como uma unidade funcional. A diversidade de ecossistemas está amplamente ligada à variedade de micro e macro habitats que comparte, e pela distribuição dos sistemas ecológicos que integra.
Os ecossistemas geralmente oferecem condições específicas para que as espécies se desenvolvam, através de múltiplas inter-relações destas espécies com seu ambiente natural.
Angola apresenta uma riqueza de biomas e ecossistemas extraordinariamente ampla, associados à diversidade de climas e fisiografia do território. Em total são sete (7) biomas e quinze (15) ecorregiões, tornando Angola no país africano com maior número de biomas e o segundo (depois da África do Sul) com maior número de ecorregiões!
Como exemplo, temos as florestas Guineo-Congolesas em Cabinda, Uíge e Cuanza-Norte que se reduzem progressivamente à medida que se desce para o Sul, até ao árido deserto do Namibe (o mais antigo do mundo!), passando pelos fragmentos de florestas afromontana isolados nas regiões mais montanhosas do planalto, às vastas florestas de Miombo que cobrem a maior parte do centro e leste do país, até às savanas do Sul.
A grande diversidade de ecossistemas de Angola permite a existência de uma diversidade de espécies extremamente rica. Os principais grupos taxonómicos (flora, insectos, anfíbios, répteis, aves e mamíferos) estão representados um pouco por todo país. Dados recentes apontam para 6850 espécies de flora angolana; >280 de libélulas; 792 de borboletas; 117 de anfíbios; 278 de répteis; 940 de aves; e 291 espécies nativas de mamíferos. De salientar que estas cifras tendem a aumentar com o crescente número de trabalhos de inventariação e levantamento da flora e fauna do país nos últimos anos, protagonizado por equipas nacionais e estrangeiras de instituições de investigação científica.
Serviços dos Ecossistemas
Os serviços dos ecossistemas consistem em todos os benefícios obtidos dos mesmos. Estes incluem:
- Provisionamento: comida, água potável, medicamentos, fibra, madeira e outros.
- Suporte: formação dos solos, ciclo do carbono, ciclo do nitrogênio, ciclo hidrológico e ciclo do fósforo.
- Regulação: do clima, de cheias, das secas, qualidade da água, doenças e polinização.
- Serviços culturais: benefícios de estética, recreacionais e espirituais.
Quais são as principais ameaças à destruição dos ecossistemas?
Alguns ecossistemas são mais sensíveis que outros devido às diferenças na sua composição e também ao tipo de pressões antrópicas e naturais. Dentre as principais ameaças à destruição dos ecossistemas e consequente perda da biodiversidade, destacam-se: a desflorestação, a poluição, a redução e fragmentação de habitats, a caça furtiva, as queimadas e fogos florestais, as mudanças climáticas e também o crescimento de assentamentos humanos.
A insuficiência de decretos ou leis que punam crimes contra o ambiente, bem como a falta de fiscalização e baixa penalização contra tais crimes em Angola consequentemente causam o acréscimo das pressões causadas à nossa riqueza natural.
De um modo geral, o Mundo precisa de reconhecer que a perda de biodiversidade e as mudanças nos ecossistemas induzidas por acções humans, não constituem apenas problemas ambientais, mas também influenciam o desenvolvimento económico-social e a nossa segurança. O futuro da humanidade depende de acções urgentes de preservação da nossa riqueza natural, para que as próximas gerações possam contemplar e beneficiar-se dos serviços que a natureza continuamente proporciona.
[Ver artigos: Queimadas: calamidade ou mito? | Destruição de ecossistemas naturais e consequente perda de biodiversidade]
Desflorestação
A desflorestação é definida como a destruição permanente de florestas com objectivo de utilizar os seus recursos e/ou a área em si.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e o Fundo Mundial para a Vida Selvagem (WWF), pelo menos 7.3 milhões de hectares de florestas são destruídas todos os anos no mundo (a área equivalente à província do Cunene em cada ano).
De acordo com o Vigilância Florestal Global (Global Forest Watch), estima-se que Angola perdeu 2.69 milhões de hectares de cobertura de árvore desde 2000 a 2018 (área equivalente a uns 400 campos de futebol por dia), fazendo assim aproximadamente 621 milhões de toneladas de dióxido de carbono emitido. As províncias do Cuanza Norte, Cuanza Sul, Moxico e Cuando Cubango estão entre as mais afectadas pela desflorestação.
Um estudo da Universidade José Eduardo dos Santos no Huambo detectou que a província perdeu, entre 2002 e 2015, 48% das suas florestas de miombo para a agricultura de corte-e-queima e produção de carvão.
Quais são as causas da desflorestação?
Existem várias causas para a desflorestação, e são na sua maioria ligadas à urbanização, exploração de madeira, produção de carvão e expansão agropecuária. Os métodos mais comuns costumam ser a queima ou o corte completo de árvores, sendo estas práticas bastante controversas e insustentáveis.
- Urbanização: devido ao crescimento da população, a necessidade de mais áreas para a construção de cidades e vilas tem aumentado e consequentemente aumentado também a desflorestação.
- Exploração de madeira, produção de carvão e expansão agropecuária: inclui a produção de carvão e exploração de madeiras, entre outros.
- A criação de novos campos agrícolas afecta gravemente as florestas de Angola pelas suas prácticas insustentáveis do chamado ‘corte e queima’ (slash and burn), principalmente com as plantações de mandioca, milho, massango e massambala nos solos mais pobres das florestas de Miombo, que só aguentam em média 2 ou 3 anos de plantação, fazendo com que novas áreas tenham que ser desmatadas com elevada frequência.
- A necessidade de espaço para a pecuária, desmantando grandes áreas para dar lugar a pastagens é também uma das grandes causas de desflorestação mundialmente e em Angola.
Queimadas
Os fogos são actualmente uma das maiores ameaças à protecção da flora, da fauna e dos ecossistemas primários e secundários. O aumento das populações humanas em zonas remotas e a perda de conhecimento e autoridade tradicional potencialmente causada pelo conflito armado, tem contribuído para que a maior parte dos fogos em Angola sejam principalmente iniciados por pessoas e de forma propositada.
A propagação de incêndios provocados tanto para a agricultura como para a caça é uma situação preocupante que se verifica um pouco por todas as comunidades locais, principalmente no interior do país. Embora grande parte dos ecossistemas de Angola estejam adaptados (e até dependam, de certa forma, da existência de fogo), as altas frequências com que estes acontecem actualmente estão a causar a sua degradação, fazendo com que as florestas não se consigam regenerar naturalmente.
A caça
A caça para o comércio, praticada em grande escala em algumas regiões de Angola, é umas das principais ameaças à conservação da biodiversidade em Angola, levando a uma redução significativa das populações de animais, principalmente para animais de grande e médio porte e de uso medicinal, provocando um desequilíbrio nos ecossistemas.
Esta caça tem levado à extinção local de algumas espécies como por exemplo: palanca vermelha no Parque Nacional da Quiçama; rinoceronte e elefante no Parque Nacional do Iona; gnus, búfalos e impalas no Parque Nacional do Bicuar.
A extinção destes animais causa grandes desequilíbrios nos ecossistemas, piorando ainda mais a situação. Por exemplo: quando os grandes herbívoros desaparecem de um habitat, o capim deixa de ser consumido, acumulando grande quantidade de matéria seca combustível e provocando incêndios mais quentes que devastam florestas. Ao desaparecer os herbívoros, as populações de carnívoros deixam de ser viáveis, multiplicando assim os efeitos de perda de diversidade e desequilibrando ainda mais os ecossistemas.
Por que é importante conservar a biodiversidade?
A biodiversidade influencia vários processos naturais no planeta, tendo um papel importante no funcionamento dos ecossistemas e nos serviços que providenciam. A riqueza de espécies e a sua composição são dois factores que influenciam no suporte destes serviços, sendo por isso a sua conservação fundamental. A biodiversidade também é essencial para solucionar as mudanças climáticas. Por exemplo, de acordo com a Organização Internacional de Conservação (International Conservation Organization) a destruição florestal é responsável por 11% das emissões globais de gases de efeito estufa causadas por humanos. Por isso preservar as florestas é vital para continuar o armazenamento de carbono em vez de libertá-lo para a atmosfera. A Organização Internacional de Conservação relata também que aproximadamente 40% da economia mundial é derivada de recursos biológicos, e a Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade (The Economics of Ecosystems and Biodiversity (TEEB)) estima que as oportunidades globais de negócios sustentáveis de investir em recursos naturais podem valer entre 2 a 6 biliões de dólares até 2050, acentuando o valor da biodiversidade e dos serviços do ecossistema nos próximos anos.
As comunidades mais pobres dos países em desenvolvimento também dependem dos recursos primários providenciados pelos ecossistemas, e 80% destas necessidades são derivadas exclusivamente de recursos biológicos.
Por último, muitas espécies são integradas em termos culturais e religiosos e até sendo parte da identidade nacional de muitos países. Em Angola, a palanca negra gigante (Hippotragus niger variani) e a Welwitschia (Welwitschia mirabilis) são ambos considerados símbolos nacionais. O Imbondeiro (Adansonia digitata) também é reconhecido como símbolo cultural. Isto acaba por influenciar a conservação destas espécies, mas também acaba por tirar um bocado da atenção necessária às demais espécies.
Conservação em Angola
Actualmente, 12.9% da superfície terrestre de Angola encontra-se sob protecção legal, num total de 14 áreas de conservação, dentre as quais 9 parques nacionais (Maiombe, Quiçama, Cangandala, Bicuar, Mupa, Iona, Cameia, Mavinga e Luengue-Luiana), 1 parque regional (Chimalavera), 2 reservas parciais (Namibe e Búfalo) e 2 reservas naturais integrais (Luando e Ilhéu dos Pássaros).
A maior parte da actual rede de áreas de conservação de Angola foi iniciada nos anos 30, com o objectivo de proteger a grande fauna selvagem e algumas espécies icónicas como a Welwitschia mirabilis ou a palanca negra gigante, mas não representam a totalidade da variedade de ecossistemas do país nem incluem as áreas de maior importância para a biodiversidade (hotspots). Em 2011, acrescentaram-se três novas áreas de conservação (Maiombe, Luengue-Luiana e Mavinga), protegendo assim importantes áreas de florestas tropicais e savanas. Algumas áreas de importante valor ecológico e endémico como o Morro do Moco, a Floresta da Cumbira e a Serra de Pingano, estão em processo de ser integradas na rede de áreas de conservação nacionais.
Todas as áreas de conservação de Angola têm gestão do Governo, com excepção do Parque Nacional do Iona que desde Janeiro de 2020 assinou um acordo de co-gestão com a organização African Parks. Nos últimos 10 anos foram feitos investimentos para que muitas destas áreas incluíssem o Ecoturismo nas suas actividades de gestão, tendo este objectivo sido alcançado para os parques nacionais da Quiçama e do Iona.
Ainda não existem áreas protegidas marinhas em Angola, embora existam propostas do Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente para a criação da primeira área marinha protegida no Namibe. Por outro lado, foram identificadas Áreas marinhas de Importância Ecológica e Biológica (EBSA) que não constituem áreas protegidas, mas que comportam ecossistemas únicos e uma biodiversidade característica, como os Mangais do Chiloango e Mangais da Ponta Padrão e praias de tartarugas. Angola engloba ainda 23 Áreas Importantes para Aves (IBA, sigla da expressão inglesa Important Bird Area), como o Mombolo e a Tundavala.
Hotspots de biodiversidade em Angola
Hotspots de biodiversidade são lugares excepcionalmente ricos em biodiversidade mas infelizmente uma grande parte destes locais em Angola encontram-se ameaçados. Estes são geralmente diversos e pouco estudados, representando amostras significativas de um ou mais biomas ou ecossistemas, e de espécies endémicas ou raras.
Em Angola, várias áreas foram identificadas como potenciais hotspots de biodiversidade e por isso esforços urgentes de conservação são necessários para a proteção da vida nestas áreas. Algumas estão já sob consideração para serem convertidas em novas áreas de conservação. Áreas como a Serra da Neve, a Floresta da Cumbira, a serra do Pingano, a lagoa Carumbo, a serra Mbango, a floresta da Gabela, a serra da Namba, o Morro do Moco, a serra da Chela (Tundavala) e as áreas afectas à região do Okavango são algumas das mais importantes. A área da Mussuma foi também identificada como relevante por causa das suas planícies de inundação únicas e da sua ligação com o Parque Nacional de Liuwa Plains na Zâmbia.
O que a EcoAngola está a fazer
A EcoAngola promove práticas sustentáveis, campanhas e iniciativas, com o objectivo de educar sobre a necessidade de mudanças com foco ecológico para a melhoria do bem estar social e natural de Angola. No que toca à biodiversidade e conservação, é importante que como cidadãos tenhamos noção que muitas das ações diárias que tomamos também têm impacto na conservação da biodiversidade angolana.
Como posso ajudar?
Um dos grandes desafios do século XXI, é garantir desenvolvimento sem degradação ambiental – enriquecendo a qualidade de vida sem empobrecer a natureza. Se a sociedade civil e o governo trabalharem em conjunto, é possível solucionar a crise de extinção de espécies e a preservação das florestas enquanto ao mesmo tempo se garanta a melhoria das condições de vida da população.
Devemos apoiar os projectos e organizações que promovam a conservação de espécies, fazendo voluntariado, contribuindo com informação, contribuindo para a sua divulgação e participando em campanhas que promovam mais preservação.
Projectos a decorrer
Conservação e Educação Ambiental
EcoAngola | Projecto Kitabanga | Projecto Otchiva | Projecto Cambeú
Investigação Científica
Projecto Herpetofauna de Angola | Okavango Wilderness Project | Projecto Alargado de Conservação de Chita e Mabeco
ONGs e Associações de Protecção Ambiental em Angola
Fundação Kissama | Associação Nação Verde | ONG BioConserv
Fontes para pesquisa de dados sobre Angola
GBIF Angola | IUCN | Angola Selvagem | Important Bird Areas | FAO
Sempre que encontrar:
- Tráfico de biodiversidade e seus derivados
- Carne de caça à venda (especialmente se em grande escala)
- Abate indiscriminado de árvores
- Vandalização dos locais de protecção
- Queimadas
- Depósito de resíduos em lugares impróprios
DENUNCIE!
Os cidadãos são os primeiros protectores da natureza.