Angola é detentora de uma grande diversidade de ecossistemas, dentre os quais se destacam os ecossistemas tropicais de mopane (imagem abaixo), considerado o segundo maior ecossistema da África subsariana depois do miombo (Makhado et al. 2014).
Em Angola, este ecossistema dominado essencialmente pela espécie arbórea Colophospermum mopane cobre uma área estimada em cerca de 133.500 km2 (Burgess et al. 2004), e estende-se desde a província da Huíla, descendo à base da Serra da Chela, em direcção ao Namibe, Benguela e Cunene, onde constitui o principal habitat, com realce ao Parque Nacional da Mupa.
O ecossistema de mopane, em combinação com o miombo oferecem inúmeros serviços ecossistémicos que suportam em meios de subsistência cerca de 100 milhões de pessoas nas áreas rurais e perto de 50 milhões de habitantes urbanos, e ainda contribuem com cerca de 76% da energia utilizada na região (Ryan et al. 2016).
As folhas novas de C. mopane por exemplo, são comidas por herbívoros de grande porte (incluindo elefantes) e servem também para a alimentação de larvas Imbrasia belina, em Angola conhecida localmente por mahungo, que é igualmente uma fonte de proteínas para as populações locais (Bila & Mabjaia, 2012).
Principais ameaças
O mopane é considerado um ecossistema relativamente intacto no país, sendo colocado na categoria V em termos de Prioridades de Conservação (Burgess et al. 2004). Este ecossistema enfrenta hoje sérias ameaças, devido à seca prolongada que assola grande parte da região austral de África, influenciada pelo fenómeno climático El Niño (Hoell, 2014), com sérios impactos na agricultura, pastorícia e acesso à água, com realce às regiões situadas a sul e sudeste de Angola.
Como consequência, as comunidades locais, têm-se voltado para a exploração de recursos naturais, como é o caso da produção e comercialização de carvão, por forma a suprir as suas necessidades básicas, como acontece actualmente nas localidades da Uia, Mundjombe e Mupa, pertencentes aos municípios da Cahama, Ombandja e Cuvelai, respectivamente.
Infelizmente este ecossistema encontra-se seriamente ameaçado, tal como referido acima, pois a exploração é concentrada em uma única espécie (C. mopane), que é dominante na região, sendo também considerada produtora de carvão em qualidade e quantidade, aliada ao facto da pouca experiência dos produtores locais, que devido à resistência do tronco desta árvore, geralmente ateiam fogo para as derrubar.
Esta acção impede assim qualquer possibilidade de regeneração natural da espécie, a partir do stock de raízes deixadas no solo, como acontece com a maior parte das árvores nos biomas tropicais. De lembrar ainda que estudos levados a cabo na região estimam um baixo nível de crescimento (incremento) periódico anual da espécie, estimado em média à volta de 1,19 mm/ano-1 (Bila & Mabjaia, 2012).
Outras ameaças, identificadas principalmente no Parque Nacional da Mupa, incluem as queimadas sazonais, com particular realce à época de cacimbo, e o corte indiscriminado de árvores para fins de vedação, construção e exploração de madeira, provavelmente para exportação.
Consequências e medidas para mitigar o problema
São várias as consequências que podem advir desta exploração inadequada e insustentável dos recursos florestais da região, podendo destacar-se a perda da biodiversidade, redução da precipitação e consequente redução da produtividade agrícola, com sérias consequências para a segurança alimentar destas populações.
Estudos em curso, com recurso a imagens de satélite e visitas de campo, indicam uma redução severa dos habitats naturais nas localidades da Uia e Mundjombe de 2000-2010, com um aumento significativo nos anos seguintes (Luís, 2020 – tese de mestrado ainda não publicada).
O carvão, por sinal uma actividade recente na região, tem sido apontado como a principal causa de desflorestação neste local. Desta feita, a produção de carvão nas áreas rurais é feita essencialmente para atender a demanda energética dos principais centros urbanos, devido à fraca oferta de electricidade no país, ou tarifas demasiado elevadas para a maioria dos seus moradores.
Uma das formas de aliviar a pressão nestes ecossistemas, passa necessariamente por um maior investimento em fontes de energia limpas no país, mais baratas, e consideradas mais amigas do ambiente, como é o caso da energia eólica e fotovoltáica.
Localmente, é importante a criação de programas sociais que visem verdadeiramente aliviar a pobreza nas áreas rurais do país, e reduzir a dependência das pessoas nos ecossistemas naturais, apostando seriamente em programas de agricultura sustentáveis, e com maior aproveitamento dos poucos recursos hídricos existentes na região, bem como na oferta e disponibilização de pasto e água para o gado, por sinal a sua principal riqueza.
Os departamentos provinciais (municipais) da agricultura, deverão por sua vez, estar capacitados, para programas específicos de maneio florestal, incentivando a práticas de exploração selectiva, privilegiando as árvores mais adultas e com diâmetro de corte recomendado. A plantação de espécies florestais de rápido crescimento nas áreas desflorestadas, seria igualmente uma opção a considerar, o que contribuiria imenso para reduzir a pressão sobre as árvores nativas.
Referências bibliográficas
Bila, M. J. & Mabjaia, N. (2012). Crescimento e Fitossociologia de uma floresta com Colophospermum mopane, em Mabalane, Província de Gaza, Moçambique. Revista Brazileira de pesquisa florestal. V.32,n71, p421-427.
Burgess N. et al. (2004) Terrestrial Ecoregions of Africa and Madagascar: A Conservation Assessment. Island Press, Washington DC, USA.
Hoell et al, (2014). El Niño – Southern Oscilallation diversity and Southern Africa teleconnection during Autral Summer. Department of Geography, University of California Santa Barbara, Santa Barbara, CA, USA. DOI 10.1007/s00382-014-2414-z.
Makhado RA, Mapaure I, Potgieter M. J, Lus -Powell W.J, Saidi A.T (2014). Factors influencing the adaptation and distribution of Colophospermum mopane in southern Africa’s mopane savannas-a review. Bothalia 44, 1-9. (doi:10.4102/abc.v44i1.152).
Ryan et al, (2016). Ecossystem services from Southern African woodlands and their future under global chance. School of GeoSciences, University of Edinburgh, Edinburgh EH9 3FF, UK. Publishing The Royal Society. Phil. Trans. R. Soc. B 371: 20150312.