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As Energias Renováveis São Puramente Limpas?

The solar panels used for renewable energy on the field under the sky full of clouds

O mundo tem caminhado para uma verdadeira mudança energética, trocando os combustíveis fósseis pelas energias renováveis, com o objectivo de preservar o ambiente. Muito se fala sobre as vantagens e benefícios ambientais oferecidos pelas energias renováveis, mas será que elas são 100% sustentáveis e ecológicas?

O que são energias renováveis?

Segundo (Goldemberg & Lucon, 2006) a energia renovável é a energia proveniente de uma fonte natural inesgotável, quer seja pela imensa quantidade de energia que contém, ou pela capacidade de renovar-se de forma muito acelerada. De forma ideal, a energia limpa é considerada como toda a energia que não emite poluentes para a atmosfera nem causa impactos negativos ao ambiente. Apesar disso, é comumente chamada de “energia limpa”, aquela que evita lançar poluentes na atmosfera e que apresenta um impacto sobre a natureza somente no local da instalação. Enquanto os combustíveis fósseis emitem gás carbônico desde a sua extração até a sua queima, a energia limpa não contribui de maneira significativa para a quantidade de carbono emitida, evitando assim o impacto no aquecimento global. Uma das principais razões das energias renováveis serem consideradas limpas é o facto de não serem altamente poluentes, produzirem o mínimo impacto ambiental e não contribuírem fortemente para o aquecimento global. Além disso algumas são de baixa manutenção como a energia geotérmica enquanto que outras como energia eólica apresentam baixo custo operacional (Colagrosi, 2019).

wind turbines in Oiz eolic park. Basque Country

Desafortunadamente, segundo (Gerding, 2019) mesmo sendo consideradas limpas, se não forem obtidas de maneira responsável, podem apresentar graves problemas diariamente. As tecnologias limpas requerem uma grande variedade de minerais, principalmente o cobalto (Co), níquel (Ni), lítio (Li), alumínio (Al) e prata (Ag). A procura desenfreada de minerais para energias renováveis poderia levar à mineração de recursos marginais ou não convencionais, que muitas vezes se encontram em locais mais remotos ou biodiversificados. Como consequência, o resultado seria explorar ainda mais as áreas ricas da natureza à procura desta mistura complexa de minerais. Alguns países como Kenya, Nigéria e Gana acreditam que esta exploração em larga  escala de florestas, trabalho escravo e destruição ecológica seriam todos necessários para alimentar o  nosso sonho de parar de depender de combustíveis fósseis. Esta preocupação por parte do mundo em alcançar uma determinada meta ecológica os faz esquecer que os fins não devem justificar os meios. 

Exemplos de impactos negativos causados pela exploração  de minerais das energias renováveis

Fig 2- Extracção de cobalto numa aldeia localizada no Congo. Fonte: Website “DW – Made for minds, 2018.    

Impactos negativos na  produção de energia solar

As Instalações solares fotovoltaicas apesar de utilizarem uma fonte de energia limpa – o sol, não estão isentas de impactos ambientais. A utilização do silício (Si), elemento responsável pela conversão de radiação solar em electricidade, provoca poluição da água pela mineração, emissão de poeiras e gases devido a  perfuração de rochas, emissão de pó sílica formado como um subproduto do processo de fundição,  emissão de Hexafluoreto de Enxofre (SF6), um potente gás de efeito estufa e chuva ácida.

Durante a construção e operação da usina solar fotovoltaica ocorre a perda de habitat de reprodução e alimentação, a degradação da área afectada pela terraplenagem e retirada da cobertura vegetal, além da possível alteração do nível do lençol freático. O cobalto é considerado um material essencial para baterias recarregáveis e a sua extracção desenfreada, como acontece na República Democrática do Congo, tem um impacto negativo para o ambiente (Wilson Pereira Barbosa Filho, 2021.)

Impactos negativos na exploração da energia de biomassa

A geração de energia a partir da biomassa emite gases poluentes e de efeito estufa, tal como o dióxido de carbono (CO2). No entanto, fontes de biomassa, como plantações agrícolas e árvores, também capturam dióxido de carbono durante o processo de fotossíntese e sequestram esse dióxido de carbono emitido durante a geração de energia. Apesar disso, se a queima de árvores ocorrer em um ritmo mais rápido do que o cultivo, não existirá o equilíbrio no ciclo do carbono. É importante realçar também que a biomassa não tem apenas origem vegetal, ela pode ser de origem animal ou de resíduos urbanos e industriais, não podendo desta forma compensar a emissão de dióxido de carbono (Andersen & Pedersen, 2021).

Além do dióxido de carbono, a queima da biomassa emite também monóxido de carbono (CO), compostos orgânicos voláteis e óxidos de nitrogênio (NOx). Ela pode causar o desmatamento e consequentemente a perda de habitat, a erosão do solo e a destruição de belezas naturais, quando explorada inadequadamente e agravar as condições de seca, impactar os habitats aquáticos e a quantidade de água disponível para outras finalidades, uma vez que para o cultivo de plantas há a necessidade de muita água para a irrigação (Mbugua, 2018).

Portanto, as energias renováveis não são puramente limpas e a magnitude do seu impacto ambiental é considerada pouco significativa, comparativamente a outras fontes de energia como o petróleo. O avanço em pesquisa tem permitido a implementação de tecnologias cada vez menos poluentes para que todo ciclo técnico de produção de energia seja cada vez mais limpo e sustentável. Por outro lado, a adoção de escolhas mais cuidadosas e o desenvolvimento de políticas mais sustentáveis, podem ajudar a garantir que os investimentos futuros em bioenergia sejam mais ecologicamente correctos. Isto significa que é necessário destacar que à medida que aumentamos as tecnologias de energia renovável na prossecução dos nossos objectivos climáticos necessariamente ambiciosos, não podemos esquecer de proteger a saúde comunitária, a água, os direitos humanos e o ambiente.

Referências Bibliográficas

  1. Andersen, O., & Pedersen, R. (2021). Renewable energy in Africa is about more than climate change | DIIS. https://www.diis.dk/en/research/renewable-energy-in-africa-is-about-more-than-climate-change
  2. Colagrosi, M. (2019). The dirty side of renewable energy – Big Think. https://bigthink.com/hard-science/renewable-energy-dirty-mining/#rebelltitem1
  3. Gerding, J. (2019). RDC: O impacto silencioso da exploração de cobalto | Internacional – Alemanha, Europa, África | DW | 28.06.2019. https://www.dw.com/pt-002/rdc-o-impacto-silencioso-da-explora%C3%A7%C3%A3o-de-cobalto/a-49405234
  4. GOLDEMBERG, J., & LUCON, O. (2006). Vista do Energias renováveis: um futuro sustentável. https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/13564/15382
  5. Mbugua, S. (2018). Can Africa develop on green power? | Environment | All topics from climate change to conservation | DW | 28.09.2018. https://www.dw.com/en/can-africa-develop-on-green-power/a-45648419
  6. Wilson Pereira Barbosa Filho. (n.d.). Techoje – Impactos Ambientais em Usinas Solares Fotovoltaicas. Retrieved October 6, 2022, from http://techoje.com.br/site/techoje/categoria/detalhe_artigo/1862

            

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