EcoAngola

A Verdade Sobre o Consumo de Carne: Um Problema Para o Meio Ambiente

Actualmente a maioria da população mundial inclui carne na sua dieta diária, por várias razões como culturais, ideológicas, hábitos adquiridos, pouca variedade de alimentos na região, etc., mas o principal motivo deste consumo deve-se ao facto da carne ser consumida por civilizações humanas desde tempos muito antigos, o que sempre levou à crença de que o consumo da mesma é algo necessário à alimentação, saúde e desenvolvimento humano. No entanto, com o passar do tempo (principalmente nas últimas décadas) e com o aumento significativo de doenças e problemas de saúde, acompanhados de drásticas e severas mudanças climáticas, começou-se a investigar as reais causas de tais mudanças no funcionamento do mundo e das sociedades, levando a uma chocante descoberta: segundo estudos científicos que começaram a ser realizados ainda no séc. XX, o consumo de carne é responsável por inúmeros problemas de saúde e é também um dos principais agentes destruidores do meio ambiente.

Para se entender este fenómeno, primeiro devemos ter em conta o crescimento populacional mundial. Hoje estima-se que existam cerca de 7,8 mil milhões de habitantes no mundo, o que exige uma enorme capacidade de resposta às necessidades humanas, por parte dos recursos naturais do planeta. No entanto, as sociedades não querem somente satisfazer as suas necessidades vitais, mas também os seus desejos e ambições, tornando-as extremamente consumistas, o que impossibilita o planeta de dar uma resposta eficiente à crescente demanda de recursos naturais, que são limitados e estão cada vez mais escassos.

Perante este cenário e devido aos hábitos alimentares adquiridos com o tempo (principalmente com o conceito de fast-food), a agropecuária hoje é uma actividade de enormes dimensões e de extrema importância e relevância social e económica, pois é ela a responsável pela produção de carne para consumo humano, além de gerar receitas avultadas para os cofres dos estados, através do abastecimento a toda uma rede comercial de restaurantes, supermercados e negócios relacionados, alimentando a maioria da população mundial. No entanto, a actividade agropecuária provoca sérios problemas ambientais, sendo uma das principais actividades humanas emissoras de gases de efeito estufa (GEE), afectando de forma significativa o clima (mudança drástica nos habitats naturais bem como as suas temperaturas médias) e o bem estar populacional (trazendo vários problemas de saúde pública).

O que é o efeito estufa?

O efeito estufa por si só é um fenómeno natural da atmosfera – é um conjunto de gases presentes na mesma, que permitem equilibrar a temperatura média do planeta, absorvendo o calor do sol (fazendo com que se aproveite o calor do sol e que este não regresse completamente para o espaço esfriando a terra), de modo a evitar mudanças drásticas de temperaturas durante o dia e a noite, mantendo temperaturas que permitam o desenvolvimento da vida. Porém, é sabido que há uma enorme e contínua emissão desses gases devido às actividades humanas, sendo dos mais conhecidos exemplos a queima de combustíveis fosseis, principal fonte de emissão de CO2 (dióxido de carbono). A agropecuária emite outros gases para além do CO2, como é o caso do metano (CH4), gás de efeito estufa que retém muito mais calor que o CO2, visto que uma partícula de metano absorve cerca de 25 vezes mais calor que uma partícula de dióxido de carbono. Embora seja um gás que se encontra em menores quantidades na atmosfera que o CO2, é muito mais danoso ao planeta. Conseguimos observar este facto com o aumento das temperaturas médias globais numa medida proporcional ao aumento das emissões de CO2 e Metano.

A atividade agropecuária engloba diferentes fases e processos, sendo estes e com a seguinte sequência: desflorestação/desmatamento, fertilização e plantio da terra, criação de gado. Estas subactividades da agropecuária interagem entre si fazendo da agropecuária um grande vilão incompreendido, pois é difícil de explicar como a agropecuária em si é danosa, o que leva a necessidade de abordar cada um dos seus processos e como cada um impactua o meio ambiente.

Desflorestação / Desmatamento

A agropecuária necessita de um espaço bastante grande de terra, o que implica um abate de árvores em grande escala, devastando áreas inteiras. Segundo o Global Forest Watch (Vigilância Florestal Global), cerca de 30% da superfície da terra é composta por árvores, e de 2001 a 2018, perdeu-se 361 Milhões de hectares de cobertura arbórea sendo maioritariamente causado pela desflorestação. Na verdade, praticamente 90% do desmatamento ilegal da Amazónia, no Brasil, é causado pela agropecuária, para dar lugar ao gado e à plantação de soja, alimento do gado. Mas para além das vastas áreas derrubadas, há a emissão do CO2 por parte das árvores abatidas, pois para além de não captarem mais o CO2 do ar, libertam todo o CO2 acumulado dentro de si ao longo dos anos, emitindo “bombas de CO2” quando abatidas. Segundo o Global Forest Watch, no mesmo período de 2001 a 2018, houve com essa perda arbórea, uma emissão de dioxido de carbono, de 98.7Gt (ou AB, arqueação bruta, que é uma quantidade na qual não se aplicam medidas físicas, como toneladas, metros, etc).

Fertilização e plantio de terras – na preparação dos solos para o cultivo utilizam-se inúmeros produtos químicos ou fazem-se queimadas (que emitem gases poluindo a atmosfera) que acabam por contaminar os solos tornando-os inférteis (quando isso acontece a área afectada tende a sofrer processos de seca e desertificação); Estes solos tendem a ser demasiado explorados (o que também torna os solos inférteis pois satura-os, acabando com todos os minerais e nutrientes deles), e isto porque a quantidade de ração necessária para alimentar os numerosos animais é muito elevada, podendo um boi individualmente comer cerca de 30kg de alimento por dia (e precisamos ter em conta que criam-se num mesmo espaço centenas e até milhares de animais e cada um come em média esta quantidade, sendo menor para o gado suíno, caprino e outros). Esta é uma quantidade bastante elevada de comida produzida para abastecer uma só área. Agora imagine todas as áreas de agropecuária do planeta.

Estima-se que se a quantidade de ração produzida no mundo inteiro para alimentar os animais que consumimos, fosse consumida pelos humanos, a fome no mundo seria erradicada pelo menos 10 vezes! Metade dos grãos produzidos no planeta é utilizada para os 70 mil milhões de animais criados para a alimentação humana. E no entanto nem todo o mundo tem acesso à carne.

Relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO-ONU).

Criação de gado

A criação de gado em si apresenta-se como o problema dos problemas, pois é justamente o gado, através da fermentação entérica (um processo digestivo que ocorre no rúmen) que produz e liberta metano. É exactamente este gás que mais calor retém na atmosfera (25 vezes mais que o CO2), o que influencia bastante nas mudanças climáticas. Hoje é notável pelo mundo inteiro a mudança drástica que os habitats sofrem com as mudanças climáticas, mudando completamente as temperaturas normais e caraterísticas das regiões.

As emissões globais desse gás geradas a partir dos processos entéricos do gado são estimadas em 80 milhões de toneladas anuais. A produção de metano ocorre também a partir dos dejetos dos animais produzidos, principalmente quando manipulados na forma líquida, em condições onde são privados de oxigénio. Estima-se que as emissões globais de metano provenientes dessa fonte líquida são de cerca de 25 milhões de toneladas por ano.

Outra questão prende-se com a quantidade de água utilizada por esta atividade, visto que para além de comer, o gado precisa de beber. Assim, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) estima que por dia um boi consome 35 litros de água, uma galinha 10 litros, um perú 20 litros, um porco 15 litros e uma vaca leiteira até 60 litros de água por dia, tendo sempre em conta claro, que falamos de milhares e milhares de animais. Segundo a UNESCO para o Fórum Mundial da Água de 2015, 1kg de carne bovina necessita de 15.000 litros de água para ser produzida, enquanto que 1kg de cereais necessita 1.300 litros de água, o que, nos leva à questão desta prática ser ou não sustentável tendo em conta a crise ecológica que vivemos.

A agropecuária é também responsável pela extinção de inúmeras espécies pois destrói os seus habitats naturais. O aumento das temperaturas do planeta provocado por esta actividade é também uma das razões do descongelamento dos glaciares e consequente subida do nível das águas do mar, ameaçando as cidades litorais e provocando inundações em certas regiões, visto que o desmatamento das florestas e a remoção da cobertura vegetal impede o escoamento das águas das chuvas.

A agropecuária em si é danosa e o consumo de carne também o é pois está associado a doenças como diabetes, doenças do coração, AVCs, entre outras. Em Agosto deste ano a ONU publicou um relatório referente ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) que defende que como forma de mitigar e se adaptar ao aquecimento global é necessária a redução do consumo de carne por meio de dietas à base de plantas como vegetarianismo ou veganismo de forma sustentável, para que possamos contribuir positivamente para o planeta. Todos os acordos ambientais recentes celebrados entre países, assinados e ratificados por muitos deles, abordam esta questão e apelam ao compromisso dos países na redução das áreas para esta actividade, limites de produção e sanções, bem como apelar à população para a mudança de hábitos alimentares mais conscientes e pró-ambiente que incluam menos carne.

Vegetarianismo e veganismo: alimentação consciente

Tanto o vegetarianismo como o veganismo são dietas com base vegetal, ou seja, incluem essencialmente legumes, hortaliças, verduras, leguminosas, frutas, frutos secos e sementes. No entanto o vegetarianismo inclui produtos derivados de origem animal como ovos, leite e derivados, enquanto que o veganismo é estritamente vegetal. Estas dietas já foram testadas e comprovadas como a solução para inúmeros problemas de saúde como diabetes, colesterol, problemas de tensão arterial, prevenção do cancro, etc., bem como contribuem para a conservação e restauração ambiental.

Há todo um debate sobre como a carne é importante pois é uma fonte de proteína. No entanto, esta proteína encontra-se em quantidades bem reduzidas. Na verdade, 100g de feijão preto tem mais proteínas que 100g de carne, isto porque ao ingerir vegetais directamente, não há perdas de nutrientes. Mas já no caso da carne, a proteína animal é uma proteína vegetal sintetizada pelo animal e há uma perda significativa do valor nutritivo da proteína. Por isso, é importante ressaltar que a proteína vegetal é a melhor proteína a ser consumida. Na verdade, o que se precisa para ganhar massa muscular e desenvolver o físico são as fibras, que muitos dos alimentos vegetais têm mas a carne não tem. Se pararmos para analisar os maiores e mais fortes animais terrestres no planeta, reparamos que têm uma alimentação vegetal, consomem imensa fibra e portanto atingem tamanhas dimensões e força.

Para concluir, fica aqui uma sugestão de alimentos necessários para um desenvolvimento saudável com base numa dieta vegetal:

O que a EcoAngola está a fazer e o que tu podes fazer

A EcoAngola está a tentar despertar os cidadãos angolanos sobre opções mais sustentáveis e ecológicas, promovendo melhores práticas que visem a conservação do ambiente e a melhoria da qualidade de vida. Criamos o Movimento Verde para que organizações e pessoas possam adoptar estas práticas e ajudar a melhorar a consciência ambiental na nossa sociedade para que juntos enfrentemos a presente crise ambiental e social que assola o país e o mundo. Regista-te e junta-te à família do Movimento Verde! Também te podes voluntariar em projectos, campanhas e iniciativas da EcoAngola. Basta acompanhares as nossas campanhas, eventos e actividades no nosso website e redes sociais – não há desculpas!

Exit mobile version