Foi realizado o segundo Café Ecológico virtual no passado sábado 11 de Abril de 2020 através da plataforma Zoom. O evento teve como tema “As Energias Renováveis” e contou com 58 participantes, entre especialistas, engenheiros e pessoas interessadas.
Alda Manuel, coordenadora da campanha de energias renováveis, foi a moderadora do debate que contou com quatro oradores, Paulo Pizarro, Isabel caravana, Marcos Vieira e Edmilson Ângelo.
- Paulo Pizarro, Engenheiro Electrotécnico, abordou sobre as perspectivas energéticas globais.
- Isabel caravana, Directora geral da MCA Sun Africa Angola, falou sobre a energia solar, partilhando uma visão geral sobre a tecnologia foto voltaica em Angola.
- Marcos Vieira, o auto-denominado embaixador do Hidrogénio em Angola, desmistificou o processo de extracção de Hidrogénio a partir de moléculas de água, para servir como fonte de energia, exemplificando com um kit de aprendizado.
- Edmilson Ângelo, Fundador do projecto Change 1’s life, partilhou a sua experiência como filantropo com o Projecto Luz, que fez entrega de lanternas com placas solares em áreas rurais e desprovidas de electricidade.
Perspetivas energéticas globais
Hoje em dia é quase impossível falar sobre as energias renováveis sem falar na transição energética. Os combustíveis fósseis dominaram o mercado enérgico como fonte primária de energia por longos anos, contribuindo para o aumento da poluição e para as mudanças climáticas.
Os combustíveis fósseis representam actualmente cerca de 80% das necessidades energéticas globais. A manterem-se as políticas energéticas actuais, a Agência Internacional de Energia (AIE) prevê um crescimento das necessidades energéticas globais de 1.3% por ano até 2040, acompanhando o crescimento populacional e o crescimento da economia mundial.
Naturalmente estas projeções terão que ser ajustadas considerando o impacto do Covid-19 na economia e nas necessidades energéticas mundiais, pricipalmente no consumo dos combustíveis fósseis. Em certas regiões, é notável que a redução do consumo de combustíveis fósseis devido ao impacto do Covid-19 é inédita e está a causar uma grande redução na poluição (redução) e no preço do barril de petróleo.
Não se sabe quanto tempo vamos estar sobre a ameaça do Covid-19 nem quanto tempo vai demorar a retoma da economia, mas é importante lembrar que se mantem a necessidade de acelerar a transição energética dos combustíveis fósseis para energias limpas.
A inclusão de modelos sustentáveis e ecológicos como produção de energia através das energias renováveis devem ser adotados no plano estratégico de desenvolvimento económico de Angola, pois irá criar mais oportunidades de emprego e preservar o ambiente.
De acordo com a AIE, as energias renováveis representam hoje pouco mais de 25% da capacidade instalada de geração de eletricidade e são a fonte de energia com maior crescimento a nível mundial. De acordo com a Agencia Internacional de Energias Renóvavaveis, em 2019 um ¾ da capacidade instalada de geração de electricidade foi feita por fontes de energia renováveis, tendo como principais fontes a energia solar e eólica. Embora seja uma evolução positiva, não é suficiente para reduzir de forma significativa as emissões de dioxido de carbono que provocam o aquecimento global, sendo necessário criar e implementar políticas energéticas que acelerem a transição enérgica, sem esquecer da responsabilidade individual de cada cidadão.
Energia solar em Angola
Segundo Isabel caravana, a MCA Sun Africa está a desenvolver um dos maiores projectos de energias renováveis na africa subsariana, o que poderá ajudar Angola a alcançar um dos objectivos das Nações Unidas, o ODS7 (Energia Limpa e acessível para todos). Foi estimado que em 2018 Angola emitiu 30.000 toneladas de CO2, o que não está alinhado com os compromissos assumindos no Acordo de Paris, cujo objectivo é conter o aquecimento global.
Apesar de Angola ser um país rico em recursos naturais e líder na exportação de petróleo, em 2019 o país esteve no 149º lugar entre os países mais pobres do mundo e a maioria da população não tem acesso à energia. As previsões indicam que no final de 2020 Angola terá 32.8 milhões de habitantes, estando 62% alocados em zonas urbanas e 38% em zonas rurais, sem esquecer que o país tem uma taxa de crescimento populacional de 3.3%.
É importante lembrar que a poluição é o produto do crescimento populacional e da economia industrial, e para alcançar o 7º objectivo do desenvolvimento sustentável das Nações Unidas é necessário que se reduza pelo menos 5% das emissões de dióxido de carbono, todos os anos, frisou Alda Manuel.
Apesar das infraestruturas de distribuição de energia nas cidades, a maioria da população ainda usa o gerador como fonte alternativa energética, pois a rede pública ainda não é 100% fiável para toda a população. Por outro lado, as famílias de baixa renda recorrem á querosene, que é prejudicial tanto para saúde quanto para a atmosfera.
Angola tem um potencial enorme para as energias renováveis, sendo a energia solar uma candidata forte, sendo uma alternativa mais económica e fácil de implementar em zonas remotas. Apesar de alguns sistemas incluírem baterias, ainda chega a ser a tecnologia que menos causa impacto negativo ao meio ambiente. A tecnologia fotovoltaica seria uma das soluções para providenciar iluminação à população mais vulnerável. Soluções como lanternas solares, sistemas solares domésticos e mine-grid, podem seralternativas baratas e fáceis de implementar, masem Angola estes projectos estão limitados por falta de legislação e pagamentos de impostos elevados.
A electrificação do país não depende somente de uma entidade. É necessário unir forças, ministérios e associações, para um objectivo comum, que é a decarbonificação e electrificação de Angola.
Alda salientou que o ODS7 não é somente sobre o acesso à energia, mas que essa energia deve chegar ao consumidor sem oscilações nem falhas.
Energia através de Hidrogénio
A energia gerada através do hidrogénio ainda é um tema muito novo e promissor. Marcos Vieira começou por explicar como se produz hidrogénio através de uma molécula de água. Empresas como a Total, a BP, a EDF, a Bosch, a TOYOTA, a HONDA, entre outras, que formaram o Conselho do Hidrogénio, no sentido de impulsionar o desenvolvimento desta fonte de energia.
O hidrogénio é um gás altamente inflamável, mas apesar disso já existem várias formas relativamente seguras de transporte. A explicação de Marcos Viera é melhor vista no vídeo abaixo, a partir dos 44 minutos.
Projecto Luz
Como exemplo dos benefícios destas tecnologias, convidamos Edmilson Ângelo, fundador da Change 1’s Life, uma instituição de caridade, que tem como objectivo ajudar pessoas com necessidades na África Subsariana, trabalhando com autoridades locais e orfanatos. A organização tem o seu próprio abrigo para apoiar crianças com objectivo de as educar, dando-lhes um ambiente seguro para viver e crescer.
Edmilson e a sua equipa trabalham em comunidades carentes, e verificaram com o projecto K44, que as crianças tinham dificuldades de aprendizado, causadas pela falta de eletricidade nas suas residências. Com a mentalidade de criação de soluções práticas, sustentáveis e ecológicas, surgiu o projecto Luz, em que ofereceram à algumas comunidades lanternas solares leves e facilmente transportáveis. As lanternas tem 8 horas de carregamento e têm 12 horas de uso contínuo, podendo durar 72 horas de forem usadas com interrupções.
Factos:
- 600 milhões de pessoas em África ainda não têm acesso à eletricidade, principalmente nas áreas rurais.
- 80% da população mundial tem acesso à eletricidade, mas somente 30% da população africana desfruta desse benefício.
- Projecto Luz distribuiu numa primeira fase 3.000 lanternas para a comunidade K44.
Ojectivos do projecto:
- Aumentar as horas do dia para as famílias carentes de energia eléctrica nas áreas rurais.
- Capacitar a comunidade nas suas actividades económicas.
- Eliminar o uso de combustíveis domésticos tóxicos, poluentes e caros como a querosene.
Resultados:
- O desempenho escolar das crianças aumentou, visto que depois da escola elas podiam ajudar os seus pais nos trabalhos agrícolas e estudar à noite.
- A circulação diurna dos habitantes nestas comunidades aumentou.
- Parcerias com entidades locais como BFA para dar seguimento à segunda fase com células fotovoltaicas mais potentes.
- Podem ver mais sobre o Projecto Luz aqui.