EcoAngola

Resultados Conclusivos da Investigação sobre a Contaminação na Ilha de Luanda

A costa da cidade de Luanda registou uma contaminação marinha visível, aparentemente causada por um afloramento de algas. Este fenómeno, que cobriu uma extensa área costeira, levantou preocupações quanto à saúde do ecossistema marinho, à qualidade da água e ao impacto nas actividades socioeconómicas locais, como a pesca e o turismo. Este artigo informativo tem como objectivo apresentar o resultado da investigação que analisou as causas do afloramento de algas na costa de Luanda, avaliando o nível dos seus impactos, e sugerindo medidas de mitigação. Esta investigação foi feita por uma equipa composta por biólogos e gestores ambientais voluntários da EcoAngola e dos Guardiões da Costa Mwangolé, desde o dia 15 ao dia 30 de Setembro de 2024.

Metodologia

Resultados

As análises das amostras recolhidas ao longo da Ilha de Luanda no dia 19 de Setembro indicaram uma alta concentração de algas pertencentes à espécie Noctiluca scintillans. Esta espécie é um dinoflagelado conhecido por causar florações bioluminescentes, mas também pode estar associada à deterioração da qualidade da água (excesso de nutrientes e mudanças de temperatura) em caso de crescimento excessivo, sendo que a sua abundância flutua sazonalmente. Não foi possível identificar os outros microorganismos presentes nas amostras.

Os valores exactos variam de acordo com o tipo de ambiente marinho (costeiro, oceânico aberto, etc.) e as condições locais. Em águas costeiras, mesmo concentrações abaixo de 10 mg/m³ podem ser consideradas indício de um afloramento.

De acordo com a análise feita com o Copernicus Marine Service, os níveis de clorofila-a na costa da Ilha de Luanda em 2024 foram os mais altos dos últimos 3 anos, conforme a figura acima. O pico foi entre os dias 8 à 15 de Julho de 2024, conforme a figura abaixo. Este é um indicador para um possível afloramento de algas, que como as denúncias e a investigação preliminar indicaram, de facto se sucedeu. Durante este período de pico, os níveis de clorofila-a perto da ilha de Luanda variaram entre 4 à 7 mg/m3.

Também de acordo com a análise do Copernicus Marine Service, durante os últimos 3 anos, é no mês de Maio que começam a aumentar os níveis de clorofila-a, atingindo um pico entre Julho e Agosto, e começando a reduzir em Setembro. Esta, poderá ser, uma das formas rápidas e baratas de detectar possíveis afloramentos futuros.

Das amostras recolhidas no dia 19 de Setembro de 2024, foram realizadas análises físico-químicas para identificar as quantidades de diferentes componentes presentes na água [ver estudo completo para descrição completa dos parâmetros analisados].

Como demonstrado acima, os três parâmetros indicam um nível ligeiramente elevado de Nitratos (NO₃) e Fosfatos (PO₄³).

Limitações

Para aprofundar este estudo, é necessário:

Estratégias de Prevenção e Mitigação

As estratégias de prevenção e mitigação para combater a poluição por nutrientes e suas consequências incluem a implementação de sistemas de tratamento de águas residuais mais eficientes para reduzir descargas de efluentes ricos em nitratos e fosfatos no mar, a regulamentação do uso de fertilizantes agrícolas nas áreas costeiras, promovendo práticas agrícolas sustentáveis como a agricultura de precisão, e a criação de zonas tampão vegetadas para filtrar nutrientes antes que alcancem o oceano. É imperativo que se aumentem e se monitorizem as Estações de Tratamento de Água Residuais (ETARs) locais. Além disso, é fundamental melhorar a infraestrutura de saneamento básico, realizar campanhas de educação ambiental para sensibilizar a população e os sectores agrícola e industrial, e replantar mangais e vegetação costeira para absorver o excesso de nutrientes. A monitorização contínua da qualidade da água deve ser implementada para detectar níveis de nutrientes e a presença de algas, permitindo alertas antecipados, enquanto a aquacultura sustentável deve ser incentivada para minimizar a poluição. Por último, a criação de zonas de protecção marinha e a remoção física de algas em áreas críticas, como praias e zonas de pesca, são essenciais para permitir a regeneração do ecossistema e reduzir o impacto imediato e a longo prazo.

Conclusões Finais

Um fenómeno causado pela Noctiluca scintillans pode ser considerado um tipo de “red tide” (maré vermelha). As “red tides” ocorrem quando há uma proliferação massiva de algas (floração algal), muitas vezes dinoflagelados, que podem mudar a cor da água para tons avermelhados, laranja ou castanhos.

As marés vermelhas podem comprometer a qualidade da água e gerar um odor desagradável (relatado em várias das denúncias recebidas e confirmado durante as entrevistas), afectando diretamente as comunidades costeiras. Os pescadores, por exemplo, relataram uma redução nas capturas de peixe devido à diminuição da vida marinha ou à migração das espécies para áreas menos afectadas. Além disso, a contaminação percebida das águas gera preocupações de saúde pública, levando à diminuição das actividades recreativas e turísticas, como natação e passeios de barco, prejudicando o bem-estar e a qualidade de vida dos moradores. Embora a Noctiluca scintillans não seja tóxica para os humanos, poderá causar irritações na pele, reacções alérgicas, aumentar a sensibilidade ao sol ou causar infecções cutâneas. Recomendamos evitar o contacto com águas onde há suspeita de floração de algas, especialmente se houver sinais visíveis de contaminação, como no caso da Ilha de Luanda, durante o mês de Setembro. Se ocorrer qualquer reacção adversa, deve-se procurar orientação médica.

As amostras demonstraram níveis de nitratos e fosfatos superiores aos níveis recomendados pela OMS, indicadores de que este fenômeno de proliferação excessiva de algas, tenha sido causado pela eutrofização, conforme a hipótese da investigação preliminar publicada aos 17 de Setembro de 2024.

Ambientalmente, a proliferação excessiva de Noctiluca scintillans pode alterar o equilíbrio dos ecossistemas marinhos. Quando essas algas se decompõem, consomem grandes quantidades de oxigénio na água, provocando a hipóxia (baixo nível de oxigénio), o que pode resultar em zonas mortas, onde a maioria das formas de vida marinha não consegue sobreviver. Esse processo de eutrofização prejudica as cadeias alimentares marinhas, afectando tanto as espécies comerciais quanto os ecossistemas locais, e consequentemente, as pessoas.

Economicamente, as “red tides” afectam diretamente a pesca e a aquicultura, uma vez que a diminuição da vida marinha reduz a disponibilidade de recursos pesqueiros, afectando o rendimento dos pescadores. O turismo, uma importante fonte de rendimento nas regiões costeiras, também sofre com a perda de visitantes, já que a água contaminada e as marés vermelhas afectam a imagem e a atractividade da área.

A EcoAngola e os Guardiões da Costa Mwangolé pretendem implementar um programa de monitorização ambiental para poder estudar, detectar, prevenir, educar e advogar para que haja prevenção e mitigação, com uma resposta mais rápida e de confiança, perante situações do género.

Nota: Este é um resumo do artigo completo. Para visualizar o artigo completo clique aqui.

A EcoAngola e os Guardiões da Costa Mwangolé são associações ambientais angolanas não governamentais e sem fins lucrativos comprometidas com a preservação dos ecossistemas. As duas precisam de voluntários e apoio para implementar os seus projectos e investigações. Conheça as duas organizações, participe das actividades e apoie estas organizações.
 
Para doar à EcoAngola: BAI AO06 0040 0000 8852 8059 1010 3
Para doar aos Guardiões da Costa Mwangolé: BAI AO06 0040 0000 1852 1574 1016 3

Referências

Copernicus Marine Service. (2024). Global Ocean Biogeochemistry Analysis and Forecast. Copernicus Marine Service. https://marine.copernicus.eu/

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Wang, J.; Mao, N.; Xu, M.; Chen, Y.; Wang, Y.; Cai, Y.; Ji, N.; Shen, X. (2024), Interactions between Noctiluca scintillans and Three Co-Occurring Microalgae in Response to Varying Nutrient Levels. Diversity 2024, 16, 215. https://doi.org/10.3390/d16040215

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