EcoAngola

Monitorização de aves em Angola

As aves constituem uma classe de animais normalmente lembrada pelo vôo e canto (de algumas), sendo a presença de penas uma das características mais marcantes. Encontram-se entre os organismos mais bem-sucedidos do planeta, sendo que muitas adaptaram-se à convivência com as pessoas, em aldeias e meios urbanos criados pelo homem (Mills & Melo, 2015).

Este artigo tem como finalidade informar a comunidade sobre os estudos sobre as aves de zonas húmidas realizados em Angola, as ameaças que as aves enfrentam, a sua importância ecológica, bem como a importância da monitorização como estratégia de conservação, no âmbito das comemorações da efeméride do dia mundial das aves migratórias, que são os dias 9 de Maio e 10 de Outubro em 2020.

Importância ecológica das aves

As aves são componentes vitais da natureza e diariamente realizam muitas tarefas ecossistémicas que mal nos apercebemos. Uma das funções mais importantes é a de serem predadores de insectos, sendo agentes de controlo de insectos que, de outra forma, formariam ou transformar-se-iam em pragas. Elas fazem este trabalho gratuitamente, e se não existissem, os prejuízos para a agricultura seriam enormes (Mills & Melo 2015).

Pycnonotus tricolor. Foto: Bioconserv.

Além disso, exercem outros papéis ecológicos importantes, como ajudar a controlar as populações de roedores, polinizar uma variedade de angiospérmicas, disseminar as plantas por todo o seu habitat ao consumirem e excretarem as sementes, e também se alimentam de animais mortos (Miller, 2007). Por isso, a renovação e sobrevivência de muitas florestas depende da presença de algumas aves em particular (Mills & Melo, 2015).

Por outro lado, as aves são indicadores muito importantes de qualidade ambiental, isto por viverem em quase todos os tipos de clima e biomas, por responderem rapidamente às mudanças ambientais em seus habitats e por serem fáceis de registar e contar. Quando começam a desaparecer, significa que pode haver algum tipo de desequilíbrio no ecossistema, como por exemplo, o excesso de poluição (Mills & Melo 2015). Por esta razão, o alerta dos biólogos conservacionistas é para que ouçamos com mais cuidado o que as aves estão «a dizer» sobre o estado do ambiente, para elas e para os humanos (Miller, 2007).  

Monitorização e pesquisa de aves

A monitorização e a pesquisa são requisitos essenciais para a gestão eficaz das aves e necessárias para melhorar o conhecimento sobre elas, especialmente no que diz respeito ao tamanho das populações e as suas tendências demográficas (Barlow & Dodman, 2015). Esta informação pode ser usada para decidir sobre as prioridades de gestão e estabelecer políticas de conservação apropriadas de acordo com a situação e necessidades de cada ecossistema (Romen et al., 2014).

Levantamentos na Reserva Nacional do Ilhéu dos Pássaros, em Luanda. Foto: Bioconserv.
Ave registada na costa de Luanda (Kapossoca) com anilha da Holanda. Foto: Bioconserv.

Censo de aves nas zonas húmidas em Angola

As contagens de aves de zonas húmidas realizadas nos últimos 4 anos em Angola levaram à identificação de aves migratórias intra-continentais e paleárticas, os seus pontos de repouso e alimentação, bem como à identificação das actividades antrópicas que podem ter um impacto negativo nessas áreas.

Bando de corvos marinhos na foz do rio Cunene. Foto: Bioconserv.

Como resultado destes trabalhos feitos pela ONG Bioconserv, em colaboração com o Instituto Nacional da Biodiversidade e Áreas de Conservação (INBAC), Wadden Sea Flyway Initiative e a Wetlands International, foi ainda possível identificar mais de 30 zonas de importância para as aves migratórias em todo o território angolano, desde a foz do rio Kissi em Cabinda até a foz do rio Cunene no Namibe. É de realçar que foi elaborado pela Bioconserv o Plano de Gestão do Ilhéu dos Pássaros, estando apenas à espera da aprovação para que seja implementado.

Ameaças à vida das aves

As actividades humanas têm exercido uma influência negativa sobre os diferentes ecossistemas na Terra. A maior parte das florestas tropicais já foram afectadas ou degradadas por estas actividades (Miller, 2007), e estes danos têm um impacto muito negativo na biodiversidade (Sodhi et al., 2004), sendo as maiores ameaças para qualquer espécie: a perda de habitat, a sua degradação e a sua fragmentação (Sigel et al., 2010).

As zonas húmidas costeiras estão sujeitas a um leque de ameaças como a conversão para uso agrícola ou industrial, para a pesca, a poluição e a desflorestação (no caso dos mangais e das florestas alagadas). As flutuações climáticas também apresentam uma série de impactos, incluindo a subida do nível do mar e as tempestades, que podem levar à perda de ilhas de reprodução das aves (Barlow & Dodman, 2015).

O censo de aves de zonas húmidas realizado em Angola tem permitido identificar diversas ameaças antrópicas, das quais foram consideradas como principais: a pesca, a ocupação do solo, as salinas, a degradação do meio, a acumulação de resíduos sólidos, particularmente plásticos, e a fragmentação de habitats.

ONG Bioconserv

As aves e o ecoturismo

Antigamente a observação de aves era uma actividade desenvolvida quase que exclusivamente por biólogos, mas actualmente várias pessoas têm demonstrado interesse nesta prática. Para além de ser uma actividade prazerosa, é uma actividade que pode gerar receitas e contribuir para a conservação das aves.

África é uma das melhores regiões para observar aves. O continente perde apenas para a América do Sul em termos de número de espécies de aves, e sem dúvida, oferece mais recompensas para observação de aves do que outras regiões tropicais. África é o lar de duas ordens de aves endémicas, 10 famílias endémicas e das mais de 2100 espécies na África Subsariana, quase 1400 restritas à região (Sinclair & Ryan 2003).

A observação de aves no Parque Nacional de Djoudj (Senegal), na Reserva das Aves de Tanji (Gâmbia) ou em Walvis Bay (Namíbia) por exemplo, contribui de forma significativa para a economia local, estando as aves a ocupar um lugar importante na cultura local (Barlow & Dodman 2015). Angola reúne condições para a realização de birdwatching (observação de aves) por ter uma grande riqueza avifaunística, tanto a nível de aves florestais como as aves de zonas húmidas, havendo a possibilidade de explorar esse tipo de actividade para o desenvolvimento do turismo sustentável.

Egretta gazzeta. Foto: Bioconserv.

O que é Birdwatching?

Birdwatching é uma actividade recreativa que começou há mais de 100 anos e tornou-se popular em todo mundo. Visa observar as aves em seu habitat natural sem interferir no seu comportamento ou no ambiente e pode ser feito usando ou não equipamentos que amplificam o alcance da visão, como binóculos e lunetas, ou até mesmo lentes fotográficas. A observação de pássaros pode ser feita por qualquer pessoa, de qualquer faixa etária e independente da condição física das pessoas. É também considerada uma terapia mental e espiritual.

Em suma, as instituições académicas, pesquisadores individuais, projectos e organizações internacionais, que se dedicam à observação e monitoramento de aves, devem sempre fazê-lo de modo sustentável, respeitando o seu habitat e modo de vida.

Interessado em conhecer mais sobre Birdwatching em Angola?
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Referências bibliográficas

Livros e artigos científicos

BARLOW, C. & DODMAN, T. (2015). Guia de Aves da Rota Migratória do Atlântico Leste em África – Guia de Campo Fotográfico das Aves Aquáticas da Costa Atlântica de África. Common Wadden Sea Secretariat, Wilhelmshaven, Alemanha; Birdlife International, Cambridge, Reino Unido; Programme Rich Wadden Sea, Leeuwarden, Holanda.

MILLER, G. (2007). Ciência Ambiental, tradução da 11ª edição Norte – Americana, Thomson, São Paulo. 

MILLS, M. & MELO, M. (2015).  As Aves Comuns de Luanda, 1ª edição, Associação Angolana para Aves e Natureza, Luanda, Angola.

ROMEN, M., DELANY, S., DODMAN, T., FISHPOOL, L., NAGY, S., AJAGBE, A., CITEGETSE, G. & NDIAYE, A. (2014). Waterbird and Site monitoring along the Atlantic coast of Africa: strategy and manual. BirdLife International, Cambridge United Kingdom, Common Wadden Sea Secretariat, Wilhelmshaven, Germany, and Wetlands International, Wageningen, The Netherlands.

SINCLAIR, I. & RYAN, P. (2003). A Comprehensive Illustrated Field Guide- Birds of Africa South of the Sahara

SODHI, N., LIOW, L., & BAZZAR, F. (2004). Avian Extinctions From Tropical and Subtropical Forests. Annual Review of Ecology, Evolution, and Systematics, 35(1), 323–345.

Sites:

CARVALHO, F. A Observação de aves como ferramenta para a educação ambiental. Disponível em https://www.researchgate.net/publication/316437484_A_observacao_de_aves_como_ferramenta_para_educacao_ambiental/link/58fdffe1a6fdcc7384f69d4e/download. Acesso 04/10/2020.

IGUIECOLOGIA. Dia 5 de Outubro – Dia mundial das aves. Disponível em https://www.iguiecologia.com/dia-5-de-outubro-dia-mundial-das-aves/. Acesso:04/10/2020.

SANTOS, V. S. Aves – Principais características. Disponível em: https://www.biologianet.com/zoologia/aves.htm. Acesso a 04/10/2020.

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