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O que falta para Angola ter Áreas Marinhas Protegidas (AMPs)?

Os oceanos não são apenas fontes de vida — são também fontes de sustento, equilíbrio climático e identidade cultural. Mas em Angola, tal como em muitos países costeiros, estes ecossistemas estão sob crescente pressão. A criação de Áreas Marinhas Protegidas (AMPs) surge como uma resposta estratégica e urgente para conservar a biodiversidade marinha, regenerar os recursos pesqueiros e fortalecer a resiliência das comunidades costeiras.

Os oceanos são muito mais do que imensas extensões de água salgada — são fontes de vida, sustento, equilíbrio climático e identidade cultural. Em Angola, como em muitos países costeiros, estes ecossistemas enfrentam crescentes ameaças causadas pela acção humana e pelas mudanças climáticas. Nesse contexto, a criação de Áreas Marinhas Protegidas (AMPs) surge como uma solução estratégica para preservar a biodiversidade, restaurar os recursos pesqueiros e fortalecer a resiliência das comunidades que dependem do mar.

As AMPs são zonas especificamente delimitadas e reguladas com o objectivo de conservar os ecossistemas marinhos, proteger espécies vulneráveis e manter os processos ecológicos essenciais, como a purificação da água e a regulação do clima. São reconhecidas internacionalmente como instrumentos eficazes para garantir não apenas a saúde dos oceanos, mas também a segurança alimentar e o bem-estar das populações costeiras.

Investir em AMPs é investir no futuro — ao proporcionar um espaço onde a natureza pode regenerar-se, estas áreas contribuem para a recuperação das populações de peixes, beneficiando directamente a pesca sustentável e a economia local. Estudos comprovam que, quando bem geridas, as AMPs promovem o equilíbrio ecológico e geram benefícios duradouros para a sociedade.

Em Angola, os primeiros passos nesse sentido foram dados já desde 2019, com o lançamento do projecto para a criação da primeira Área Marinha Protegida, numa iniciativa liderada pelo então Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente (hoje Ministério do Ambiente), em parceria com o INBC, o PNUD e com financiamento do GEF6. A área identificada situa-se na província do Namibe, junto ao Parque Nacional do Iona, e pretende tornar-se um marco na conservação marinha do país. Em 2025, durante a Conferência Internacional sobre Biodiversidade e Áreas de Conservação, o Presidente João Lourenço reafirmou o compromisso de Angola com esta causa.

Ecorregiões marinhas (Spalding et al. 2007) e grandes ecossistemas marinhos (Sherman 2014) que coincidem com Angola. Fonte: Biodiversidade de Angola (Huntley et al.2019).

Mas, seis anos depois do início do projecto, onde estamos afinal? E o que falta para que esta promessa se torne realidade?

Situação actual em Angola

A costa angolana é rica em biodiversidade e inclui praias, dunas, mangais e zonas estuarinas. Estes ecossistemas desempenham funções ecológicas cruciais — desde a produção de nutrientes até à proteção contra inundações e erosão. No entanto, continuam altamente vulneráveis à poluição, à sobre-exploração e às alterações climáticas, com cerca de 490 mil quilômetros quadrados de ambiente marinho desprotegido.

Em 2019, Angola iniciou um passo promissor com o Projecto de Criação da Primeira Área Marinha Protegida na província do Namibe, junto ao Parque Nacional do Iona — uma das zonas mais ricas em biodiversidade costeira do país. Contudo, segundo a actual Ministra do Ambiente, Ana Paula de Carvalho, o projecto ainda está em fase embrionária e depende de financiamento para avançar. Este é um alerta claro: o compromisso político precisa de ser acompanhado por acção efectiva e investimento real.

“As populações de peixes em Angola estão sujeitas a uma pressão significativa, estando 73% sobre- exploradas ou em colapso” – Fonte: SeaAroundUs.

Quadro legal: em construção

Angola tem feito progressos importantes ao nível jurídico:

  • Ratificou a Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB) em 1998.
  • Adotou a Lei n.º 8/20, que autoriza a criação de áreas de conservação ambiental.
  • Em 2024, aprovou o Decreto Presidencial n.º 50/24, que estabelece normas para a criação, gestão e fiscalização das áreas protegidas, incluindo marinhas.

Este regulamento permite também a exploração sustentável do ecoturismo e o uso de recursos naturais pelas comunidades locais (excepto em reservas naturais integrais). No entanto, a Lei n.º 12/21 permite, em casos excepcionais, a exploração de recursos minerais e petrolíferos em algumas dessas áreas, o que levanta preocupações sérias para a integridade ecológica dessas zonas.

O que falta para Angola ter AMPs?

Apesar dos avanços legais e políticos, há desafios críticos que precisam de resposta:

  1. Financiamento garantido para implementar, monitorar e manter as AMPs.
  2. Mapeamento ecológico detalhado para identificar zonas prioritárias de conservação.
  3. Envolvimento activo das comunidades costeiras, reconhecendo os seus direitos e saberes.
  4. Educação e sensibilização contínuas sobre os benefícios das AMPs.
  5. Monitorização e fiscalização eficazes, com reforço das capacidades técnicas locais.
  6. Investigação científica para apoiar decisões baseadas em dados.
  7. Planeamento Espacial Marinho integrado, que articule conservação com desenvolvimento sustentável.
  8. Cooperação internacional para partilha de recursos, conhecimentos e financiamento.
Muitas das zonas costeiras de Angola com ecossistemas marinhos importantes para actividades económicas como a pesca encontram-se degradados ou em degradação, causados pela exploração dos seus recursos e pela poluição. É urgente a criação de AMPs para proteger os ecossistemas que alimentam Angola. Fonte: EcoAngola (2024).

O que Angola ganharia com a implementação de AMPs?

Quando bem geridas, as Áreas Marinhas Protegidas oferecem ganhos múltiplos:

  • Recuperação das populações de peixes, com benefícios para os pescadores (e sociedade);
  • Resiliência dos ecossistemas face a fenómenos extremos e mudanças climáticas;
  • Redução da pobreza e maior segurança alimentar nas comunidades costeiras;
  • Conservação do património natural e cultural costeiro;
  • Mitigação das emissões de carbono, especialmente em mangais e pradarias marinhas.

Angola tem os recursos naturais, o enquadramento legal e o apoio internacional para liderar a conservação marinha na África Austral. O que falta é transformar intenção em acção, com financiamento, compromisso institucional e participação cidadã.

Criar Áreas Marinhas Protegidas não é apenas proteger peixes — é proteger comunidades, culturas, economias e o futuro.

É tempo de garantir que a costa angolana continue a ser fonte de vida — para esta geração e as próximas.

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  2. Apoia iniciativas locais de conservação marinha;
  3. Pressionar os decisores políticos a dar prioridade ao oceano nas políticas ambientais;
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