EcoAngola

Novas Espécies para a Ciência de Répteis de Angola Homenageiam Biólogas e Povos Angolanos

As biólogas Suzana Bandeira e Hilária Valério. Crédito da foto: Luís Ceríaco.

A descrição e nomeação de novas espécies fornece informações críticas para os biólogos, contribui para a nossa compreensão dos processos evolutivos que moldaram a biodiversidade actual e actualiza o catálogo da vida na Terra. À medida que a biodiversidade se torna cada vez mais vulnerável à escala mundial, uma compreensão clara do número real de espécies e da sua distribuição é fundamental para o desenvolvimento de planos de conservação eficazes.

Investigadores do CIBIO da Universidade do Porto, do Museu Carnegie de História Natural (CMNH) e colegas internacionais descrevem sete espécies de lagartos para Angola que são novas para a ciência. Num estudo recentemente publicado no Bulletin of the American Museum of Natural History, a equipa de investigação analisa todas as espécies que ocorrem do género Trachylepis em Angola e conclui que existem sete novas espécies.  

Angola, um país no sudoeste da África, é um dos países mais biodiversos do continente, com altos níveis de endemismo, ou seja, espécies que não ocorrem em nenhum outro lugar do mundo. Esta diversidade deve-se à posição geográfica do país e à grande diversidade de biomas, incluindo florestas tropicais, savanas e desertos, fornecendo os habitats específicos para as espécies se adaptarem e especiarem. A biodiversidade angolana é um mar de oportunidades para novos conhecimentos científicos.

A bióloga Hilária Valério durante processos de investigação a analisar uma Agama. Crédito da foto: Luís Ceríaco.
A bióloga Suzana Bandeira durante os processos de investigação com uma Python anchietae
A bióloga Suzana Bandeira durante os processos de investigação com uma Varanus albigularis angolensis

“É importante reconhecer o povo de Angola”, disse Luis Ceríaco, investigador associado do CMNH e investigador do CIBIO/BIOPOLIS. “Devemos muito a eles, incluindo cientistas que contribuíram com um conhecimento vital da bela biodiversidade do país e das pessoas que vivem nesta terra e que nos acolheram e apoiaram esses empreendimentos. Tanto Suzana como Hilária começaram a participar neste projeto como estudantes, e agora ambas são líderes nas suas respectivas áreas em Angola. Estão a formar uma nova geração de biólogos e conservacionistas angolanos. Honrá-las com estas duas novas espécies é uma forma de celebrar a nova geração de naturalistas africanos!”

Nova espécie para a ciência agora descrita como Trachylepis hilariae, em homenagem à Bióloga Hilária Valério. O seu habitat natural é no deserto do Namibe, nas dunas ao Sul de Tômbwa. Crédito da foto: Luís Ceríaco.
Nova espécie para a ciência agora descrita como Trachylepis hilariae, em homenagem à Bióloga Hilária Valério. O seu habitat natural é no deserto do Namibe, nas dunas ao Sul de Tômbwa. Crédito da foto: Luís Ceríaco.
Nova espécie para a ciência agora descrita como Trachylepis suzanae, em homenagem à Bióloga Suzana Bandeira. Espécime vivo encontrado na Barra do Kwanza, Luanda. Crédito da foto: Luís Ceríaco.
Nova espécie para a ciência agora descrita como Trachylepis suzanae, em homenagem à Bióloga Suzana Bandeira. Espécime vivo encontrado na Barra do Kwanza, Luanda. Crédito da foto: Luís Ceríaco.
Nova espécie para a ciência agora descrita como Trachylepis vunongue, em homenagem à Mwene Vunongue. Espécime vivo encontrado no Cuatir, Cuando Cubango. Crédito da foto: Diogo Parrinha.
Nova espécie para a ciência agora descrita como Trachylepis vunongue, em homenagem à Mwene Vunongue. Espécime vivo encontrado no Cuatir, Cuando Cubango. Crédito da foto: Diogo Parrinha.

Dois dos novos nomes de espécies, Trachylepis attenboroughi (“Lagarto de Attenborough”) e Trachylepis wilsoni (“Lagarto de focinho de cunha de Wilson”) também homenageiam os naturalistas icônicos David Attenborough, Edward O. Wilson, e homenageiam o falecido herpetólogo francês Roger Henri Bour, o chefe angolano Mwene Vunongue (1800-1886) e o grupo etnolinguístico Ovahelelo em agradecimento por apoiar e acolher a equipa de investigação e permitir-lhes estudar a fauna das suas terras.

Trachylepis wilsoni. Crédito da foto: Luis Ceríaco.

“É uma honra nomear duas novas espécies em homenagem a Sir Attenborough e E.O. Wilson”, disse Mariana Marques, Gerente de Coleta do CMNH para a Seção de Anfíbios e Répteis. “Ambos os naturalistas desempenharam um papel crucial nos meus percursos académicos e profissionais, e o seu legado despertou definitivamente a minha paixão pela vida selvagem africana. Esperamos que nomear duas espécies em reconhecimento a tais naturalistas inspiradores possa aumentar a conscientização em todo o mundo de que ainda há novas espécies a serem descobertas e descritas, enquanto muitas outras estão se extinguindo antes mesmo de serem descobertas. Estamos numa corrida contra o tempo para salvar a nossa biodiversidade, não podemos preservar o que não sabemos.»

Ao mesmo tempo, é importante reconhecer os biólogos e conservacionistas Angolanos para que possamos fortificar a importância das ciências naturais para o desenvolvimento e para a vida.

Trachylepis attenboroughi. Crédito da foto: Luis Ceríaco.

Sobre o Autor

Erica Tavares, bióloga ambiental, ecologista e co-fundadora da EcoAngola. Artigo adaptado do comunicado de imprensa original do CMNH.

Exit mobile version