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Maiores Ameaças à Biodiversidade

A biodiversidade, ou diversidade biológica, é descrita como a riqueza e a variedade de todas as formas de vida, incluindo os genes contidos em cada indivíduo e a composição dos diversos ecossistemas, onde a existência ou eliminação de uma espécie afecta directamente muitas outras (WWF, 2020).

Por constituir fonte de provisionamento de alimentos, água, medicamentos e outros serviços, a biodiversidade é a garantia da manutenção e desenvolvimento humano em todos os aspectos. Porém, a utilização não sustentável dos recursos provenientes da biodiversidade,  contribui para o surgimento de diversos problemas ambientais, económicos e sociais, comprometendo a manutenção da vida na Terra e até a sobrevivência do homem.

Assim sendo, este artigo foi escrito com o propósito de informar sobre as maiores ameaças à biodiversidade que derivam das acções humanas, enfatizando casos de Angola. 

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), toda ameaça leva danos à propriedade afectada, perturbação económica e social ou degradação ambiental, o que não difere quando se fala da biodiversidade. A ameaça à biodiversidade consiste em toda actividade provocada por um evento natural ou antrópico, que tem o potencial de degradar a diversidade biológica local ou global.     

Segundo Primack & Rodrigues (2001), as maiores ameaças à biodiversidade são:

Destruição e fragmentação do habitat

A destruição relacionada com a perda do habitat representa o principal factor que ameaça a biodiversidade. Pode ocorrer como consequência de diversas actividades humanas, como a desflorestação, que é feita para a extracção de madeira, substituição de florestas para a agricultura ou áreas de pastagem e urbanização. A perda de habitat e da qualidade do habitat, por mudanças climáticas, poluição sonora, hídrica e do ar, redução da oferta de alimentos, surgimento de barreiras, para os processos migratórios e de busca de parceiros reprodutivos (como as estradas por exemplo), são impactantes negativamente para a fauna e flora silvestre (FAUNANEWS, 2022).

Figura 1– Destruição de habitats por queimadas em uma região do leste de Angola 

Fonte: Jornal de Angola| Autor: Dombele Bernardo (2019)

A fragmentação do habitat é o processo pelo qual uma grande e contínua área de habitat é tanto reduzida em sua área, quanto dividida em dois ou mais fragmentos.  Pode ser causada por fenómenos naturais (vulcanismo, queda de cosmos ou cometas, sismos e outros) ou pela acção do homem. Na vertente antropogénica, a fragmentação tem como consequências a destruição significativa do habitat e dispersão das populações. Logo, as grandes fragmentações levam a separação dos efectivos de uma população, possibilitando a criação de populações menores, alterando o mecanismo de polinização e a cadeia alimentar dos ecossistemas.

Figura 2 – Esquema de como a fragmentação do habitat afeta a biodiversidade. Adaptado de Brito (2020)

Degradação do habitat (incluindo a poluição)

A degradação do habitat está relacionada às práticas humanas que afectam os componentes da biosfera. Devido ao grande avanço tecnológico, a litosfera, a hidrosfera e a atmosfera têm sofrido grande pressão, e esta provoca a sua degradação (Junior, 2017).  

A poluição da litosfera verifica-se nas queimadas de resíduos sólidos directamente no solo, na contaminação por pesticidas, na bioacumulação de substâncias, na cadeia trófica e na perda da vegetação própria do ambiente natural.

A degradação da hidrosfera é sinónimo de poluição das águas, que é verificada com inúmeras práticas como a deposição de resíduos nos oceanos e rios, os derrames nos mares por embarcações petrolíferas e depósito de materiais industriais em lagos e outros ecossistemas. Como consequência, organismos aquáticos morrem por falta de alimento e por contaminação do meio.

A degradação da atmosfera contribui para as alterações climáticas, originando as chuvas ácidas, acelerando o aquecimento global e outras várias perturbações que dificultam a manutenção da vida. Com isso, várias espécies que não se adaptaram às alterações causadas pela poluição atmosférica vão sendo dizimadas e muitas delas chegam à extinção, principalmente aquelas que vivem nas regiões glaciais, pois estas zonas têm sido destruídas pelo degelo causado pelas elevadas temperaturas que o globo terrestre tem apresentado devido o aumento do efeito estufa.

Figura 3– Água do mar da baía de Luanda poluída com resíduos sólidos. 

Fonte: Jornal Público | Autor: Ampe Rogério (2021)

Sobre-exploração de espécies para uso humano

A exploração dos recursos da diversidade biológica de maneira insustentável, sem levar em consideração as taxas naturais de mortalidade e capacidade reprodutiva das espécies, é outro factor que pode levar à perda de biodiversidade. Como exemplo podem ser mencionadas as seguintes práticas: a caça furtiva, a pesca de arrasto, a extracção ilegal de madeira, o tráfico de animais e plantas.

Figura 4– Animais caçados ilegalmente no Parque Nacional do Bicuar, província da Huíla (Angola)

Autor: Nilo Mateus | Fonte: Jornal de Angola (2020)

Introdução de espécies exóticas e dispersão de doenças

A introdução de espécies em locais fora de sua área de distribuição natural, pode ocorrer tanto de forma acidental como intencional, visando por exemplo o controle de pragas, produção de novos produtos agrícolas ou gerar oportunidades recreativas. Esta prática pode levar a consequências drásticas, em locais onde não ocorrem naturalmente, espécies exóticas podem se proliferar descontroladamente, pois frequentemente não encontram predadores ou competidores, além de levar novas doenças, colocando em risco as espécies nativas e seus ecossistemas (Pestana et al, 2017).

Um relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) destacou que 70% das enfermidades que apareceram após a década de 1940 têm origem animal (Lusa, 2013). De acordo a FAO, a expansão agrícola e a interacção entre homens e animais fizeram com que novas doenças surgissem e se disseminassem rapidamente. Entre as doenças divulgadas no estudo estão: o HIV-1, síndrome respiratória aguda grave (SARS) e diversos vírus da gripe (como o SARS-COV-2). Os níveis de doença e de parasitas frequentemente aumentam quando os animais são confinados a uma reserva natural e não conseguem se dispersar em uma área mais ampla. Os animais mantidos em cativeiro são particularmente propensos a doenças. Estas podem levar à morte de vários grupos animais e à redução da biodiversidade.

Crescimento da população humana

O exponencial crescimento populacional humano tem levado a aceleração da destruição de habitats de muitas espécies limitadas a determinado meio e não só. Quanto maior o crescimento demográfico, maior será o consumo de energia, a ocupação de espaço, construções artificiais e maior será a exploração da natureza. Com isso, muitas espécies vão perdendo o seu espaço natural e ficam vulneráveis à extinção.

Com a redução da biodiversidade, vários serviços dos ecossistemas são reduzidos ou eliminados, e muitos organismos vão desaparecendo no decorrer dos anos. Tendo em conta que a biodiversidade é fonte de valores económicos directos e indirectos, a sua redução afecta a economia dos países, enfraquece o sistema de saúde, favorece o surgimento de catástrofes ambientais e diversos problemas que podem ser irreversíveis.

As ameaças à diversidade biológica em Angola

No contexto angolano a ameaça à biodiversidade tem vindo a registar casos e números alarmantes. Em Angola temos visto a realização de queimadas como forma de tratamento dos resíduos sólidos, e o fumo emitido pela queima contribui para a poluição do ar e contaminação dos cursos de água.

As embalagens plásticas e os resíduos electrónicos, apresentam enormes riscos para a saúde, mas ainda assim grande parte desses resíduos vai parar aos rios e ao mar. A redução ou eliminação de resíduos é um dos maiores problemas ambientais de Angola.

Por causa das queimadas, desflorestação e caça furtiva, que acontecem em áreas de conservação da biodiversidade (como parques e reservas nacionais), grande parte da fauna e flora angolana tem sido reduzida progressivamente a cada ano. Muitos dos animais já não ocorrem nas áreas legalmente protegidas devido a estas práticas, como é o caso da pacaça (Syncerus caffer nanus) e da palanca-vermelha (Hippotragus equinus) (Jornal de Angola, 2019).

Figura 5– Duas tartarugas marinhas (ambas Chelonia mydas) abatidas ilegalmente em zona costeira de mangais em Luanda.

Nos ecossistemas marinhos, a biodiversidade angolana tem sido muito afectada pela pesca de arrasto, captura de espécies protegidas nacional e internacionalmente, pesca com recursos explosivos e poluição dos ecossistemas costeiros.

Figura 6– Resíduos sólidos depositados em uma zona de mangais em Luanda

Que iniciativas existem em Angola para a redução das ameaças à Biodiversidade?

Em Angola existem iniciativas que procuram promover diversas actividades e eventos com a finalidade de diminuir as acções que levam a ameaçar a biodiversidade, mas que ainda carecem de financiamentos para darem soluções mais eficazes na protecção e conservação da fauna e flora de Angola. Citando algumas dessas ações podemos destacar algumas como: 

Considerações finais

Os sistemas ecológicos, que levaram milhões de anos a evoluírem, desenvolverem e estabilizarem, encontram-se em perigo iminente. 

A ONU estima que cerca de um milhão de espécies estejam em risco de extinção e a comunidade científica global admite que nos encontramos no início de uma sexta extinção em massa devido à perda massiva de biodiversidade. Ao contrário das extinções em massa no passado causadas por erupções vulcânicas, asteroides e mudanças climáticas naturais, a crise actual é maioritariamente causada pelas actividades humanas. 

A caça, o desmatamento e as queimadas em Angola põem em risco de extinção inúmeras espécies de animais e plantas, algumas das quais só existem em Angola e potencialmente algumas nunca descobertas. Devemos procurar agir imediatamente, a fim de revertermos o quadro e possibilitar o bem-estar social e ambiental para as futuras gerações.

Referências bibliográficas

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Belmiro Pascoal: Estudante finalista do Curso de Biologia
da Faculdade de Ciências da Universidade Agostinho Neto
e Assistente de Coordenação da Campanha de Biodiversidade e
Conservação da Ecoangola.
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