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Estado de Emergência Ambiental Global – Consequências para Angola

O nosso planeta está à beira de uma crise ambiental sem precedentes. Os problemas ambientais vão-se acumulando e agravando à nossa volta. O crescimento populacional, as práticas industriais inapropriadas, a corrupção e a pobreza, contribuem para um consumo mais acelerado dos recursos naturais e a intensificação da degradação do ambiente. A não ser que haja uma acção global urgente, concertada e consistente, o desastre será inevitável e o planeta deixará de ser um habitat que pode suportar vida humana, animal e vegetal.

As manifestações a favor do ambiente, onde a principal preocupação são as mudanças climáticas, têm-se intensificado pelo mundo inteiro com milhões de pessoas, na sua maioria jovens, a exigir um compromisso mais sério por parte dos governos dos respectivos países, com acções imediatas para travar o aquecimento global e as mudanças climáticas.

Mas quais são os grandes desafios ambientais actuais e as suas consequências num contexto global e para Angola? Fazemos aqui um pequeno resumo e posteriormente iremos publicar artigos mais detalhados sobre cada um dos desafios ambientais. Encorajamos o leitor a pesquisar e aprofundar os seus conhecimentos sobre este assunto de vital importância para as nossas vidas.

Desafios ambientais

Poluição

A poluição é um dos maiores problemas ambientais globais. Existem várias formas de poluição: atmosférica, água, solo, sonora, luminosa, térmica e radioactiva. Todos os tipos de poluição estão interligadas e influenciam-se umas nas outras. Por exemplo, o dióxido de carbono e o metano são gases de efeito de estufa que tem impacto nas mudanças climáticas. Só a poluição atmosférica causa 7 milhões de mortes por ano.

De acordo com a OMS, Angola é um dos países africanos com maior taxa de mortalidade associada à poluição atmosférica, com 50 pessoas em cada 100 mil a morrerem devido à exposição a ar exterior poluído. A qualidade do ar nas principais cidades é afectada pelos gases produzidos pelos automóveis e geradores, e pela queima do lixo. Por outro lado, as queimadas que normalmente acontecem no final do Cacimbo, geram quantidades enormes de monóxido e dióxido de carbono, que por sua vez podem causar problemas pulmonares e cardíacos.

Mudanças Climáticas

Nunca na história da civilização moderna o clima da Terra mudou tão rapidamente como está a mudar agora, principalmente como resultado das actividades humanas, com impactos ambientais, económicos e sociais de âmbito global e escala sem precedentes. Julho de 2019 foi o mês com a temperatura global mais alta em que há registo e o aquecimento global é o principal suspeito.

Os gases de efeito de estufa são os principais causadores do aquecimento global e das mudanças climáticas, retendo o calor do sol e aquecendo a superfície da terra. O aumento dos gases de efeito de estufa está associado principalmente à pecuária (responsável por 18% da emissão de gases de efeito de estufa), à desflorestação, à destruição dos ecossistemas marinhos, ao aumento da população, à queima de combustíveis fósseis e resíduos sólidos, aos incêndios florestais e às queimadas.

O aumento da temperatura global traz consequências desastrosas, colocando em risco a sobrevivência da flora e fauna do planeta, incluindo os seres humanos. Os piores impactos das mudanças climáticas incluem o derretimento da massa de gelo nos pólos, que por sua vez causa o aumento do nível do mar, produzindo inundações e ameaçando ambientes costeiros. As mudanças climáticas aumentam a frequência e intensidade dos fenómenos climáticos (mais secas, incêndios, inundações), causam a morte de espécies animais e vegetais, ameaçam a segurança alimentar e destroem os recursos económicos.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), as alterações climáticas matam diariamente em Angola, principalmente na zona sul (províncias do Cunene, Cuando Cubango, Huila e Namibe), afectada desde 2018 por uma seca severa. Isto constitui razão imperativa para a mobilização acelerada de recursos para mitigação e adaptação ao fenómeno.

Degradação dos Solos

A degradação dos solos afecta quase metade da população do planeta. De acordo com a organização das Nações Unidas para a alimentação e agricultura (FAO), cerca de 33% dos solos estão degradados devido à erosão, salinização, compactação, acidificação e poluição química. As principais causas são a agricultura não sustentável, a mineração, a pecuária e a contaminação química. As consequências são desastrosas, influenciando a segurança alimentar, o acesso à água limpa e ao ar respirável, que são regulados pelo solo e plantas. Isto também impulsiona migrações em massa e o aumento dos conflitos violentos. A degradação do solo também contribui para as mudanças climáticas e vice-versa. 

De acordo com a FAO, há três causas directas da degradação do solo em Angola: agricultura insustentável, desflorestação / uso insustentável das florestas, e sobrepastoreio das áreas de pasto. A alta taxa de crescimento populacional, as queimadas descontroladas e o efeito das mudanças climáticas, também contribuem para a degradação dos solos em Angola.

Gestão de resíduos

O crescimento populacional e o consumo de produtos industrializados resultam no aumento do volume de resíduos (lixo) descartados anualmente. Os resíduos sólidos normalmente são enterrados em aterros sanitários ou incinerados, o que é extremamente prejudicial ao meio ambiente. Quando aterrados, os resíduos orgânicos decompõem-se, atraindo micro-organismos (bactérias e fungos – alguns patogénicos) e insectos que transmitem doenças (infecções e viroses). Também acabam por emitir gases tóxicos (alguns de efeito estufa) e emitem um odor desagradável. Por fim, os resíduos orgânicos líquidos (no processo de decomposição) podem potencialmente penetrar o solo e poluir as águas subterrâneas. Por outro lado, quando se efectuam queimadas como forma de tratamento do lixo, o fumo emitido pela queima contribui para a poluição do ar.

As embalagens plásticas, os resíduos electrónicos e os resíduos nucleares (todos eles tóxicos), apresentam enormes riscos para a saúde, mas ainda assim grande parte do lixo gerado globalmente vai parar aos rios e oceanos. A redução ou eliminação de resíduos é um dos maiores problemas ambientais actuais.

Na Europa a taxa média de reciclagem é de 45%, enquanto que em Angola é praticamente zero. Isto quer dizer que todo o lixo produzido em Angola vai parar aos aterros, ao mar ou é incinerado, incluindo lixo tóxico.

Superpopulação

A população do planeta está a atingir níveis insustentáveis, pois enfrenta escassez de recursos como água, combustível e alimentos. A agricultura intensiva praticada para produzir alimentos danifica o meio ambiente através do uso de fertilizantes e pesticidas químicos, da emissão de metano (gás de efeito de estufa 30 vezes mais poluente que o dióxido de carbono) da pecuária, e da degradação dos solos. A superpopulação é um dos maiores problemas ambientais actuais.

África e a Ásia (sul e este) são os maiores contribuidores para o crescimento populacional global. Angola tem uma das maiores taxas de crescimento populacional do mundo: 3.1% ao ano.

Exaustão dos Recursos Naturais

A humanidade já consome mais recursos naturais do que o planeta é capaz de repor. O planeta atingiu o limite do consumo sustentável de recursos regeneráveis disponíveis para este ano (2019) no dia 29 de Julho (o chamado dia da sobrecarga da terra é calculado pela organização internacional Global Footprint Network).  A cada ano, a população mundial consome mais terras aráveis, mais água, mais pastagens, mais áreas de pesca e florestas, entre outros.  Além disso, emite muito mais CO2 (dióxido de carbono) do que as florestas e oceanos do mundo podem absorver. Por isso, o dia da sobrecarga da terra acontece mais cedo a cada ano.

A população mundial consome actualmente o correspondente a 1,75 vezes o planeta Terra. Se toda a humanidade tivesse os mesmos hábitos de consumo dos cidadãos dos Estados Unidos, teriam de ser cinco Terras.

Reflexão: com o tempo estamos a adaptarmo-nos às tecnologias e à rápida evolução da humanidade e com isso um aumento significativo nos nossos hábitos de consumo. Se África seguir os mesmos estilos de vida que os países desenvolvidos (sem sustentabilidade), iremos sofrer consequências de forma catastrófica, sendo as camadas sociais mais baixas as mais afectadas (mais fome, elevados índices de mortalidade e mais pobreza).

Desflorestação

As florestas absorvem dióxido de carbono e produzem oxigénio, além de ajudar a regular a temperatura e as chuvas, são reservas de biodiversidade e forma de subsistência de inúmeras comunidades fora das grandes cidades. Todos os anos a cobertura de árvores é reduzida para dar lugar a criação de gado, plantações de soja ou óleo de palma, entre outras monoculturas agrícolas, e também para a produção de madeira e carvão.

De 2001 a 2018 a diminuição de cobertura arbórea global foi 361 milhões de hectares, equivalentes a 9% da cobertura total. Hoje, cerca de 30% da área terrestre do planeta é coberta por florestas, mas cerca de 26 milhões de hectares de floresta são destruídos todos os anos.

Em Angola as florestas estão a ser destruídas a um ritmo assustador, quer através da queima ou corte completo das árvores para produção de lenha e carvão ou para a indústria da madeira – entre 2001 a 2018, é estimado que Angola perdeu 2,69 milhões de hectares de cobertura arbórea.

Perda da Biodiversidade

A biodiversidade é a característica mais complexa e vital do nosso planeta. Os sistemas ecológicos, que levaram milhões de anos a evoluírem, desenvolverem e estabilizarem, encontram-se em perigo iminente.  A ONU estima que cerca de um milhão de espécies estejam em risco de extinção e a comunidade científica global admite que nos encontramos no início de uma sexta extinção em massa devido à perda massiva de biodiversidade. Ao contrário das extinções em massa no passado causadas por erupções vulcânicas, asteroides e mudanças climáticas naturais, a crise actual é maioritariamente causada pelas actividades humanas.

A pecuária é um dos principais factores que contribui para a perda de biodiversidade, através da desmatação para o aumento das áreas agro-pecuárias, contaminação do solo e da água, e emissão de gases de efeito de estufa.

A caça, o desmatamento e as queimadas em Angola põem em risco de extinção inúmeras espécies de animais e plantas, algumas das quais só existem em Angola e potencialmente algumas nunca antes descobertas.

Seca

A seca é um desastre ‘natural’ que pode causar graves impactos económicos e sociais porque a vida humana, vegetal e animal depende da água. Os sistemas de produção (agricultura e outras indústrias), a população e os sistemas naturais sofrem quando a falta de água persiste.  As secas geralmente são caracterizadas como períodos em que a precipitação está abaixo do normal, e podem ser sazonais ou permanentes.

O equilíbrio dentro dos ecossistemas e a manutenção da vegetação nas florestas são componentes críticos do ciclo da água. O desmatamento desencadeia e intensifica as secas e erosão dos solos, reduzindo a capacidade do solo de reter água e permitir que a desertificação ocorra facilmente.

A seca no sul de Angola afecta 2.3 milhões de pessoas. Para além do Cunene, que é a região mais afetada, a seca abrange intensamente também o Cuando Cubango, Huíla, Namibe e Benguela.

Recomendações e soluções

Por fim, promover uma economia verde baseada na partilha, colaboração, solidariedade, resiliência, oportunidade e interdependência. Podes começar o teu dever aderindo ao Movimento Verde da EcoAngola, ajudando a promover a sustentabilidade e conservação ambiental.

Conclusões

A história de humanidade está cheia de conflitos políticos, geográficos e religiosos, mas o maior conflito que a humanidade está a viver actualmente é o conflito entre o homem e a natureza, que pode a médio e longo prazo extinguir a vida no nosso planeta (pelo menos como nós a conhecemos hoje).

É necessária uma acção global concertada e urgente para travar a degradação ambiental, as mudanças climáticas e o aquecimento global.

Precisamos de agir local para evitarmos desastres globais. Angola necessita urgentemente de políticas e estratégias claras e consistentes para protecção do meio ambiente, apoiadas por campanhas de sensibilização e educação ambiental, envolvendo escolas e comunidades.

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