A cultura material está relacionada às coisas materiais pertencentes a um povo. Esta dá sentido e influencia as manifestações e/ou acções do homem sobre a natureza e impulsiona a sua identidade cultural.
Os artefactos são entendidos pelos seres humanos como um legado, algo para ser acatado, utilizado, reproduzido, preservado e relembrado.
A princípio, a noção de cultura material não se aplicaria apenas a objectos isolados, mas também a quase todas as produções humanas. Este pressuposto levou alguns estudiosos a considerar a história da tecnologia, os estudos de folclore, a antropologia cultural, a arqueologia histórica, a geografia cultural e a história da arte como subcampos de estudos de cultura material.
A cultura material é uma dimensão antropológica, que congrega essencialmente cinco elementos importantes para a vida do homem como ser biopsicossocial:
- Costumes alimentares do homem;
- Vestuário e adorno pessoal;
- Ambiente natural envolvente;
- Ferramentas, armas e máquinas;
- Cerâmica têxtil e metalúrgica.
Cultura material e seu impacto ambiental
A cultura material é o resultado das acções antropogénicas, que impactam positiva ou negativamente o ambiente, provocando uma série de alterações nos ecossistemas. (Severo 2016, p. 602). Tais acções transformam o ambiente natural ou físico, formado pelo ar, recursos hídricos, fauna, flora, e demais elementos naturais responsáveis pelo equilíbrio dinâmico entre os seres vivos.
De acordo com o Fundo Mundial da Natureza (2021), a tendência humana actual é esgotar os recursos naturais do planeta através do consumo excessivo, muitas vezes impulsionado pela cultura material, baseada na extração de recursos para a produção de bens e serviços. Importa referir que não somente as etapas produtivas da cultura material impactam o ambiente, mas também o transporte, utilização e posterior descarte dos bens produzidos por essa cultura.
É importante perceber que a cultura material característica do homem, sempre teve impacto no ambiente. No entanto, o crescimento populacional a nível mundial, acompanhado com a evolução tecnológica e não só, aumentaram drasticamente este impacto, principalmente porque a dinâmica da vida actual leva a população a descartar rapidamente os bens produzidos e obtidos, não fazendo o máximo uso possível dos mesmos, causando assim uma enorme pressão no planeta.
Museus e seu papel de preservação cultural
Apesar do seu impacto ambiental, a cultura material é o que identifica um povo, portanto, a sua preservação é fundamental para que a história humana seja preservada ao longo do tempo.
A preservação da diversidade cultural deve ser um desiderato das instituições de património cultural porque nos torna mais criativos, fortes, capazes de reconstruir, recuperar e de trabalhar activamente para contribuir para uma sociedade mais consciente, mais equilibrada, mais justa e sustentável (Monge, 2021).
Enquanto motores de mudança, os museus contribuem para promover o intercâmbio cultural, criando pontes e laços entre os povos ao longo do tempo. Conscientes de que cada ser humano é portador de um património biológico, social e cultural, os museus são desafiados a reimaginar-se para contribuir de forma activa na preservação dos elos da cadeia que nos une ao planeta em todas as suas dimensões. (Nações Unidas, 2021).
Cultura material em Angola
Em Angola, parte da cultura material da antiguidade, é conservada pelo Museu Nacional de Antropologia em Luanda, fundado em 13 de Novembro de 1976 – primeira instituição museológica criada após a independência. Uma instituição de carácter científico, cultural e educativo, vocacionada para a recolha, investigação, conservação, valorização e divulgação do património cultural angolano. O Museu Nacional de Antropologia é composto por 14 salas distribuídas por dois andares que abrigam peças tradicionais, designadamente: utensílios agrícolas, de caça e pesca, fundição do ferro, instrumentos musicais, jóias, peças de panos feitos de casca de árvore e fotografias dos povos de Angola.
O museu de antropologia de Angola é um edifício secular, construído nos finais do século XVIII. É um exemplo de arquitectura colonial, que infelizmente não tem merecido a sua valorização, mesmo tendo beneficiado de obras de reabilitação. Guarda tesouros e riquezas intangíveis, usos, hábitos e costumes, modos de vida dos povos de Angola, (Ambundu, Bakongos, Ovinbundu, Cokwes, Nganguelas, Nyaneka-Humbi, Herero, Kwanyamas, Ovambu, etc) (Cardoso, 2014).
Esta instituição é de grande relevância, pois promove a criação de consciência e tolerância, dá-nos a conhecer a nossa identidade cultural, por meio da sua diversidade acervológica e representa várias actividades como, a pesca, a caça, agricultura, tecelagem, pecuária, metalurgia e outras manifestações do homem dos diferentes povos de Angola.
Os museus e todas suas forças vivas devem empenhar-se na implementação das metas de desenvolvimento sustentável, realçar eixos de educação de qualidade, do trabalho digno e crescimento económico, cidades e comunidades sustentáveis e da acção climática, mostrando a perspectiva cultural e temporal.
BIBLIOGRAFIA
1 – CARDOSO, Pedro, Vários mundos em diferentes exposições permanentes (2014).
2 – LEITE, Ilka Boaventura, SEVERO Cristine Gorski, Culturas e ambiente, Kadila – dialogo Brasil-Angola, Editora Edgard Blucher Ltda, (2016).
3 – MONGE, Maria de Jesus, Boletim museus hiperconectados desafios e perspectivas ICOM Portugal (2021).
4 – ONU, Futuro dos museus: Recuperar e reimaginar (2021).
5 – REDE, Marcelo, Estudos sobre cultural material uma vertente francesa (2000)
5 – SOUSA, Maria de Lourdes, Cuidando da saúde, editora paulinas S. Paulo 2018.