À margem da exposição ReciclArte, uma exposição de artes plásticas do artista Angolano Paulo Amaral, produzida 100% com materiais recicláveis, a EcoAngola, em parceria com o Centro Cultural Brazil Angola e a Embaixada do Brasil em Luanda, organizou um debate com o tema “Poluição, Resíduos e Reciclagem”.
Estiveram presentes cerca de 40 pessoas, representando vários sectores e organizações. O evento foi transmitido em directo através da conta da EcoAngola no Instagram (@ecoangola).
O diálogo foi bastante interactivo, dinâmico e construtivo. Fazemos aqui um pequeno resumo dos pontos principais discutidos durante o evento.
Introdução
- Foram dadas as boas vindas pela EcoAngola, pelo Centro Cultural Brasil-Angola e pelo artista Paulo Amaral.
- Houve um momento de sensibilização em relação ao Covid-19, e as regras de prevenção recomendadas pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde.
- A EcoAngola apresentou o tema do debate e o moderador.
Resíduos e Reciclagem
- As empresas de gestão de resíduos, limpeza urbana e reciclagem, Street Limpa e Vista Waste, partilharam as suas experiencias na recolha de resíduos, reciclagem e educação ambiental.
- O programa de educação ambiental da Street Limpa abrangeu cerca de 50 escolas na província de Benguela. O seu programa de reciclagem conta com “ecocatadores”, que são treinados, recebem equipamento apropriado, e são remunerados de acordo com os resíduos que recolhem e entregam para reciclagem (latas, plásticos, vidros, papelão).
- A Street Limpa prepara linha de montagem para distribuição de ecopontos por toda Angola e tenciona colocar 15 ecopontos na província de Benguela no mês de Maio deste ano. Cada ecoponto em Angola deverá servir cerca de 1.500 pessoas.
- A Vista Waste tem realizado sessões de educação ambiental usando uma unidade móvel (Lixomaximba), em escolas, empresas e instituições.
- Os sacos de plástico são um dos maiores desafios ambientais. Foi dado o exemplo do Ruanda, que baniu os sacos de plástico há mais de 10 anos, assim como a Tanzânia, que baniu os sacos de plástico no ano passado. Angola tem mais de 10 fabricas de plásticos, incluindo sacos de plástico, que são vendidos para as grandes superfícies e para o mercado informal.
- Os sacos de plástico usados pela maior parte dos supermercados em Angola são de fraca qualidade (demasiado finos e frágeis) o que torna inviável a sua reutilização. Estes sacos de plástico deveriam proibidos (há muito que foram proibidos na maior parte dos países desenvolvidos).
- Foi mencionado o exemplo de Hong Kong, na reciclagem do plástico.
- Os pneus usados e descartados, são um problema grave para a sociedade, porque para alem de poluírem os solos, rios e mares, criam viveiros de mosquitos. É importante criarem-se politicas e incentivos para a promoção de oportunidades de reciclagem de pneus.
- Há falta de informação sobre as empresas que já fazem reciclagem de alguns materiais, tais como vidro, plástico, latas de alumínio e papelão. Por outro lado, não há recolha selectiva nem sensibilização da comunidade para a promoção da reciclagem.
- Os catadores trabalham em condições degradantes, espalhando o lixo há volta dos contentores, para conseguir separar e recolher os resíduos que lhes interessam.
- A reciclagem em Angola tem potencial para criar valor e empregos, mas pouco tem sido feito para a promoção e desenvolvimento desta industria.
- A média de reciclagem dos resíduos urbanos na Europa está próximo dos 50%. Em Angola está próximo de 0%.
- Embora seja importante e de louvar que haja iniciativas do sector privado para promover a reciclagem, a intervenção do estado é fundamental, através de politicas, incentivos, regulamentos, e campanhas de sensibilização.
- Há leis e padrões internacionais para controlo da poluição, que não são implementados com rigor em Angola (por exemplo, poluição marinha).
Educação Ambiental
- A educação ambiental deve ser consistente, continua e em larga escala, começando pelas escolas e abrangendo instituições do sector público e privado.
- Os Ministérios do Ambiente e Educação deverão trabalhar juntos para criar uma politica e um programa de educação ambiental de âmbito nacional. É necessário o envolvimento e apoio dos governos provinciais e da sociedade civil.
- Foi dado o exemplo do Brasil, onde nos anos 70 havia sido criada uma personagem chamada “Sugismundo” que se tornou sinónimo de “porcalhão, e exemplificava a conduta errada e as consequências.
Para concluir…
- O responsável do Ministério do Ambiente, Dr. Emerson de Oliveira, referiu que o Ministério do Ambiente já tem uma politica de educação ambiental, mas que ainda não foi aprovada.
- Por outro lado, a estratégia e o plano de educação ambiental ainda está a ser trabalhado pelo Ministério do Ambiente.
- O responsável mencionou também que Angola tem uma lei dos crimes ambientais.
- Ficou claro por parte dos participantes que se espera uma intervenção mais activa, contundente, e consistente do Ministério do Ambiente, nas questões ligadas à poluição, gestão de resíduos, reciclagem e educação ambiental. Mas por outro lado, há um reconhecimento que é necessário a contribuição de outros sectores da economia e da sociedade civil para que, juntamente com o Ministério do Ambiente, se possam ultrapassar os grandes desafios que o país enfrenta.
Agradecemos a todos os participantes que nos honraram com a sua presença no primeiro e no segundo Café Ecológico da EcoAngola.
Um agradecimento especial ao representante do Ministério do Ambiente, que nos brindou com a sua presença e respondeu às perguntas dos participantes.
Agradecemos também ao artista plástico Paulo Amaral, ao Centro Cultural Brasil – Angola e à Embaixada do Brasil em Luanda, por terem disponibilizado o espaço para este evento.