O lixo é um dos maiores problemas urbanos em Angola. O problema do lixo não é novo e tem-se agravado todos os anos, principalmente em Luanda, onde reside cerca de 25% da população do país. De acordo com o relatório social de Angola de 2016 elaborado pelo Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica, Angola produz cerca de 3.5 milhões de toneladas de lixo por ano, sendo 1/3 produzido em Luanda.
De acordo com o Censo de 2014, 70% da população de Angola deposita o lixo ao ar livre (6 em cada 10 agregados familiares nas zonas urbanas e 9 em cada 10 nas zonas rurais).
Há amontoados de lixo em várias zonas da capital angolana, quer no centro da cidade quer na periferia, onde o problema tende a ser mais grave. Com o início da época chuvosa, a situação tornar-se-á uma autêntica calamidade.
Todos os anos o governo provincial de Luanda reconhece o problema e promete soluções. A cada dois ou três anos é anunciado um novo modelo de recolha de lixo, que normalmente envolve avultados investimentos, mas que não resolve o problema. Pelo contrário, o problema tem vindo a agravar-se ano após ano.
Para além das acumulações de lixo por toda a cidade, as valas de drenagem das águas residuais tornaram-se autênticos aterros com todo o tipo de lixo urbano. Com as chuvas e correntes oceânicas este lixo é transportado e espalha-se, sendo que grande parte vai parar às nossas lindas praias, principalmente à Ilha do Mussulo, Chicala e Ilha de Luanda. Grande parte deste lixo são plásticos que demoram cerca de 400 anos para se decomporem e são um veneno para o planeta.
De acordo com as nossas pesquisas, as razões são múltiplas e prendem-se com:
- Sistema de recolha deficiente – a recolha não é feita de forma consistente e com a frequência necessária;
- Insuficiente número de contentores de lixo – há zonas da cidade que não tem contentores de lixo ou o número de contentores é insuficiente para o volume de lixo gerado pela população que aí reside ou empresas aí localizadas. Este é um problema que abrange todo o território nacional;
- Crescimento demográfico – Angola tem uma das taxas de crescimento populacional maior do mundo (3.3%), principalmente nos centros urbanos, onde há um maior consumo de produtos industrializados;
- Número de aterros reduzido – só existe um em Luanda embora há anos que se ouve falar sobre a necessidade de construção de mais aterros;
- Falta de reciclagem – enquanto que a média da taxa de reciclagem dos resíduos municipais da Europa anda à volta dos 45%, Angola está praticamente a zero. [Ver artigo sobre reciclagem]
- Comportamento da população – a população continua a depositar o lixo nas valas de drenagem e fora dos contentores (mesmo quando estes estão vazios). Não há fiscalização nem multas para os prevaricadores. Tornou-se um hábito que só pode ser combatido com uma campanha de educação e sensibilização da população, mas ao mesmo tempo com a melhoria do sistema de recolha do lixo, pois se não há contentores ou estes são em número insuficiente, a população vai acabar por depositar o lixo em locais inapropriados.
O lixo é negócio para uns (para as empresas de recolha de lixo) e desgraça para outros (as populações que residem ou trabalham junto aos amontoados de lixo). Não se compreende que em pleno centro da cidade não haja contentores em número suficiente, o que resulta num acumular de lixo à volta destes contentores. Em vez da recolha diária do lixo destes contentores demorar dois a cinco minutos por contentor, demora uma a duas horas por contentor, pois a recolha do lixo à volta dos contentores é feita de forma manual (com pás e vassouras). Isto é só um exemplo da ineficiência do sistema de recolha de lixo actual.
Basta aumentar o número de contentores para que haja uma melhoria substancial na capacidade e eficiência da recolha de lixo, com grandes benefícios para todos.
Gostaríamos de desafiar a TPA e a TV Zimbo para fazerem um programa sobre o lixo em Luanda e nas principais cidades do país, acompanhando desde o depósito nos contentores, recolha, transporte e tratamento do lixo nos aterros. Entrevistar os cidadãos, os trabalhadores nas empresas de recolha de lixo, o governo provincial, especialistas na matéria e outras entidades envolvidas no processo de recolha e tratamento do lixo.
Os amontoados de lixo nos centros urbanos e rurais apresentam graves consequências, tais como:
- Impacto negativo na saúde pública – naturalmente que isto tem um custo muito alto para o país (medicamentos, internamento hospitalar, baixa produtividade);
- Afecta negativamente o turismo e a capacidade de atracção de investimento estrangeiro;
- Maus cheiros – durante o processo de decomposição da parte orgânica biodegradável do lixo (restos de alimentos) ocorre a liberação de gases poluentes, o que também ocasiona a poluição do ar;
- Poluição das praias, rios e lençóis freáticos.
A resolução do problema do lixo deverá ser uma prioridade. É necessário, importante e urgente desenvolver e publicar o plano para a resolução definitiva e sustentável do problema, para que todos possam fazer a sua parte.
Saiba mais sobre como pode fazer a sua parte na campanha contra o lixo em Angola.